Com mais de 70 anos de idade, o velho Fernando, morador do Cacuaco, em Luanda, frequenta, com alguma regularidade, o Centro Nacional de Oncologia, onde faz consultas e tratamentos de rotina da prostatite.
“Eu encorajo a juventude a aderir ao teste da próstata, porque a etapa de cuidar da prostatite é mesmo essa, para não esperar contrair o cancro”, aconselhou o decano.
O ancião confessou que anda nessa corrida há mais de dez anos, assumindo, por isso, desesperos, incertezas, frustrações, antes da esperança e tranquilidade que a informação sobre a doença o fez conquistar.
Ele recorda que, há mais de quatro anos, os serviços, no único centro do país, eram muito morosos e mais difíceis, a começar mesmo pelo acesso ao interior da instituição e o encontro com um médico.
“Essa situação já nos deixou, muitas vezes, frustrados, ao ponto de pensarmos em entregar a própria vida, porque tudo era difícil; entrar, ser atendido, conseguir melhor esclarecimento do seu quadro real de saúde e, principalmente, os medicamentos”, lembrou o ancião, tendo referido sobre uma ampola, cujo nome não conseguiu recordar, que o preço, indagado das farmácias da Capital, não ficava a menos de 300 mil kwanzas.
Segundo ele, a aquisição de medicamentos dessa endemia é o maior problema para os indivíduos de baixa renda, pois, nos hospitais onde recorrem, dificilmente lhes dão os fármacos.
A história que o idoso não apaga da sua memória é a que o obrigou a andar por Luanda inteira, com ajuda de familiares, à procura de uma ampola, quando lhe tinham informado que o centro de oncologia a possuía.
Depois de se consciencializar que não conseguia adquirir o referido fármaco, cuja injecção devia apanhar mensalmente, ele voltou ao centro e foi notificado sobre a disponibilidade da mesma ampola.
“Deram-no-las e ficamos muito alegres, por termos garantido as injecções dos meses subsequentes, mas, quando passamos uma leitura a fino, nas caixas e nos panfletos das embalagens, descobrimos que o prazo de validade dessas ampolas não passaria daquele mês da oferta”, lamentou o entrevistado, num linguajar de vaidade apurada, tendo ironizado, logo a seguir, que os médicos primeiro levaram o medicamento às suas farmácias e, vendo que não compravam, trouxeram-nas de novo ao hospital.
Antes de frequentar o Centro Nacional de Oncologia, o velho Fernando cumpria as obrigações de paciente num hospital de Cacuaco, onde encontrava atendimento virado à prostatite, e no Hospital Militar.
“Com o estado actual do centro, não há muito que comparar, mas é necessário reconhecer que os dois primeiros hospitais é que me consciencializaram sobre as medidas de poder conviver com esta doença, inevitável para os cidadãos masculinos com mais de 40 anos de idade”, disse o idoso, reiterando o encorajamento aos jovens para ganharem a cultura de saberem, com antecedência, do
seu real estado de saúde.
Evitar últimas burocracias
Apesar de viver muito distante do centro de oncologia, o velho Fernando chegou antes das oito horas de quinta-feira, 14, e esperava ser atendido até antes das nove, já que, além da consulta e do levantamento da ampola, para a injecção deste Novembro, o ancião tinha programado tratar outros assuntos noutras instituições da zona urbana.
“Mas já são quase 11 horas e estou aqui, à espera que a directora clínica actualize a minha receita para levantar a ampola. Essas são as últimas burocracias que quero ver evitadas”, contou Fernando.
Outro processo que o paciente do centro de oncologia acha trabalhoso é o dever de devolver a caixa das ampolas à farmácia desse hospital.
“Quando recebemos a ampola da farmácia, vamos ao médico para preencher a seringa com o remédio e, depois disso, temos de voltar com a caixa e entregar na farmácia”, declarou o ancião, que apela para se confiar mais nos pacientes.
O velho Fernando informou que se dá de contente pelo facto de não ter contraído o cancro da próstata. Segundo pensa, a proeza, difícil depois dos 70 anos, deve-se à paciência que dedica às consultas de rotina e ao cumprimento da medicação.
Um teste contestado por amigos e familiares
Aos 39 anos de idade, Roxane decidiu testar a próstata, numa das campanhas de serviços médicos que houve no seu município de Viana.
Antes de efectivar a decisão, partilhou com amigos, familiares e conhecidos sobre a intenção de saber do seu estado de saúde, encorajando-os a seguirem-lhe o exemplo.
“Riram-se de mim e até me disseram que eu não tinha nada, mas que ia acusar mesmo positivo, só por me tocarem com o dedo”, recordou Roxane, tendo acrescentado que a chacota não o desanimou, porque queria perceber as razões dos recentes sintomas.
Tratava-se sobretudo da dificuldade para urinar, com a agravante da vontade frequente de o fazer, de algumas dores na região no pênis e nos testículos e da presença de gotas de urina no biquíni.
Depois de receber o teste, Roxane ficou a saber que o seu estado já inspirava alguns cuidados, por isso, passou a tomar alguns medicamentos que lhe foram receitados, durante a campanha.
O jovem chegou a pensar na possibilidade de os seus amigos terem profetizado, de forma certeira, o que devia acontecer, entretanto, submeteu os sintomas que tinha à desconfiança influenciada.
Há quase um ano nas terapias contra um possível cancro, como ele próprio fez questão de referir, já tem bagagem suficiente para lidar com a doença.
Por isso, aconselha os jovens da sua faixa etária a retirarem o tabu contra o teste e preocuparem-se com a sua saúde. Já que o país possui apenas um centro de oncologia, Roxane gostaria de ver os hospitais não especializados com especialistas desse ramo, de modo a encorajar os jovens a irem testar e cuidar da prostatite.
“Porque eu ainda acho que a juventude ainda sente vergonha de entrar no Centro Nacional de Oncologia, por estar muito às vistas”, disse Roxane.
Cirurgião dá ´baixa´ à população jovem
O cirurgião oncológico Nelson Caetano da Rosa esclareceu que, no Centro Nacional de Oncologia, vêm os pacientes cujo teste deu resultado positivo.
“No instituto, normalmente, já vão diagnosticados por outro colega que viu o doente. Quer dizer que, quando chegam aqui, dependendo da fase da evolução da doença, os sintomas podem ser variados, como dificuldade para urinar, de erecção, podem ter dor de coluna, sangramento na urina, enfim”, descreveu o especialista.
Apesar de o rastreio da prostatite ser feito em outras unidades hospitalares onde há serviços de urologia, o cirurgião oncológico considera que, em termos estatísticos, ainda se regista uma população jovem baixa.
Nesse diapasão, Nilton da Rosa aconselha a franja juvenil a adoptar a cultura de se informar e cuidar da sua saúde em geral, de modo a evitar grandes surpresas.
O especialista informou que o tratamento de qualquer paciente com cancro depende da fase de diagnóstico, isto é, se está numa fase do começo, numa avançada ou noutra já metastática, em que a doença está disseminada. “Então, o tratamento vai depender disso.
Pode-se considerar de cirurgia alguns casos, outros de quimioterapia, radioterapia, ou de bloqueio hormonal, detalhou o médico que trata de cuidar os doentes com prostatite ou cancro da próstata nas suas mais diversas fases.