Dois meses depois do incidente ocorrido no hospital pediátrico David Bernardino, em Luanda, que envolveu uma criança de dois anos que perdeu a vida por negligência médica, o ministério da saúde tornou Público, na tarde desta quarta-feira, um comunicado que dá conta de uma medida disciplinar tomada para responsabilizar os profissionais de saúde que estavam de serviço no dia do ocorrido
As três médicas e os dois enfermeiros que faziam parte da equipa que se encontrava a trabalhar no dia 01 de Janeiro do ano corrente, data em que se sucedeu a tragédia, foram demitidos do Serviço Nacional de Saúde, além de uma outra médica em formação complementar expulsa por não pertencer ao quadro do Ministério da Saúde.
Estes profissionais serão, de acordo com o comunicado, encaminhados a um processo na PGR, na Ordem dos Médicos e na Ordem dos Enfermeiros. O inspector-geral do Ministério da Saúde, Celino Joel, deu a conhecer que assim que tomou nota do acontecimento, o Ministério da Saúde criou uma Comissão de Inquérito e abriu um processo disciplinar.
Feito isso, foram apurados os factos, ouvidas as testemunhas, os actores e os profissionais em causa para posteriormente dar o devido tratamento ao caso. No entanto, a Comissão de Inquérito concluiu, através de vídeos gravados pelas câmaras de videovigilância, que estes praticaram actos de negligência médica graves.
Segundo o que foi apurado pela Comissão de Inquérito, os profissionais ausentaram-se da triagem e dos consultórios por mais de uma hora e meia, mesmo depois de o pai ter estado a suplicar e a chorar insistentemente para que a filha fosse socorrida, o que talvez mudaria o desenrolar da história e aumentaria as chances de sobrevivência do paciente.
Os profissionais chegaram, inclusive, a ver o estado do menor que sucumbia e a conversar com o progenitor do mesmo, mas nada fizeram. Enquanto aguardavam na sala de espera, a criança vomitava e os familiares eram obrigados a ver as idas e voltas que os profissionais faziam, chegando até a se manter no interior dos gabinetes, sem prestar qualquer declaração aos familiares.
No decorrer do episódio caótico, uma das profissionais chegou a dirigir-se ao pai da criança, dizendo que “o país tem mais de 30 milhões de habitantes e os médicos são poucos”. Tal atitude representa o ambiente inóspito que se fazia sentir na unidade de saúde, pelo que o inquérito aponta alimentos inapropriados no refeitório do hospital, bem como bebidas alcoólicas, o que é deontologicamente proibido.
Familiares divulgaram o caso
O caso da menina foi divulgado pelas redes sociais por um dos familiares da vítima que, no hos- pital, filmou todo o episódio, que culminou no falecimento do menor. Quando levada ao hospital, depois de ter caído do primeiro andar de um edifício residencial, no Morro Bento, e a cabeça ter embatido fortemente com o chão, a criança encontrava-se num estado crítico, chegando até a perder a consciência.
Os vídeos postos a circular na internet tomaram proporções alarmantes e chamaram a atenção de toda a população, que se mostrou indignada com tal atitude, praticada por quem devia cuidar dos pacientes. Depois de mais de uma hora aflitos e em lágrimas, apenas às 00h40 a menina foi atendida, quando uma ou- tra equipa fazia ronda e compa- deceu-se com a dor do pai com a criança ao colo.
Esta equipa concluiu que o estado era grave e encaminhou ao serviço de urgência, onde se verificou a diminuição do estado de consciência, olhar fixo, pupilas dilatadas e paragem cardiorres- piratória. Sucedeu-se, com sucesso, a reanimação ao paciente, mas foi necessário levar o indivíduo para a Unidade de Cuidados Intensivos, tendo sido lá onde o mesmo viu sua vida ir-se embora por atraso no atendimento que devia ser urgente.