A província da Huíla, à semelhança de todo o país, conta desde o dia 1 de Janeiro do ano em curso com 23 municípios, contra os anteriores 14, fruto da nova Divisão Político- Administrativa, o que demanda das autoridades maior atenção na criação de condições sociais básicas, como água, energia eléctrica, saneamento básico, estradas, hospitais, escolas e tantos outros serviços
As então comunas de Capunda Cavilongo, Capelongo, Chicungo, Chituto, Hoque, Ngalangue, Palanca, Viti-Vivali e Dongo, na província da Huíla, foram elevadas à categoria de município, no âmbito do Decreto Presidencial n.° 268/24 de 29 de Novembro, que faz Angola contar actualmente 21 províncias, 326 municípios e 378 comunas.
Capunda Cavilongo é um dos novos municípios da província da Huíla e a falta de alguns serviços sociais básicos, com destaque para as vias de comunicação, faz daquela parcela desanexada da Chibia, um município “quase sem vida” cujas potencialidades agrícolas e minerais podem vir a torná-lo num gigante na balança económica da província da Huíla e do país de uma forma geral.
Este município, que dista 122 quilómetros da cidade do Lubango, capital da província da Huíla, é o principal fornecedor de hortícolas e cereais na região sul, com a produção de cenoura, cebola, alho, repolho, ginguba, feijão, milho, massango e massambala.
A falta de estrada e de transportes para o escoamento da produção é apontada pelos homens do campo como a principal barreira para o aumento dos campos de produção, o que faz a juventude local trocar as enxadas por volantes de motorizadas, alguns em Luanda e outros no município.
Os triciclos, vulgo “Kaleluia”, constituem o principal meio de transporte de produtos do campo para a cidade, mas os preços praticados pelos detentores destes meios tornam mais altos os custos de produção, que não são recompensados no bolso do camponês, fruto do excesso de oferta no único mercado localizado no município do Hoque.
Domingos Luís, camponês de 43 anos de idade, é produtor de cenoura e possui igualmente um triciclo que, para além de servir a sua família, garante a transportação de pessoas e bens da Capunda Cavilongo para o município do Hoque, onde está localizado o maior mercado da região. O nosso interlocutor disse que as péssimas condições em que se encontra a estrada que liga os dois municípios fazem com que o preço da corrida de táxi seja alto, por isso, solicita a intervenção das autoridades para se alterar o quadro.
“Nós aqui trabalhamos muito, a nossa principal dificuldade é só mesmo estrada, principalmente neste tempo de chuva, formam- se lagoas na estrada e que acaba por danificar algumas peças das Kaleluia. Sair da Capunda Cavilongo, estamos a cobrar mil 500 Kwanzas por cada pessoa, mas se for carga, cobramos cinco mil Kwanzas. Comprei essa moto para me auxiliar no transporte da minha cenoura para o mercado, mas também faço algum frete sempre que alguém precisar”, disse.
O nosso interlocutor afirmou que a falta de estrada está a travar o progresso do mais novo municí- pio, apesar de ser um dos maiores centros de produção agrícola na província da Huíla. “Este nosso município sempre foi e é forte na produção agrícola, mas é preciso que as autoridades olhem para ele com uma atenção especial, sobretudo agora que passa- mos a município, precisamos que a estrada seja reabilitada”, apelou.
Quem partilha da mesma ideia é José Seculo, que se dedica à produção de repolho, cebola e limão na sua propriedade de 19 hectares de terra arável, no município da Capunda Cavilongo. José Seculo disse que dos 19 hectares que possui, apenas explora seis, por conta da falta de apoios financeiros, associadas às péssimas condições da estrada terciária que liga o município ao do Hoque.
“Nós temos clientes das províncias do Cunene, de Benguela, do Namibe e de Luanda, mas eles aqui não chegam por falta de estradas, porque nós aqui temos a vantagem do mercado do quilómetro 40, na estrada nacional 105, mas para sair de lá para cá é muito difícil, por isso, é que usamos mais as Kaleluias, porque a sua dimensão se adapta às condições da picada. Queremos que o Governo Provincial olhe para esta picada, queremos também que os programas de apoio ao sector da agricultura cheguem ao nosso município”, manifestou.
75 quilómetros de estrada feitos em 4 horas A sede do município da Capunda
Cavilongo dista da Estrada Nacional 105 cerca de 75 quilómetros. As condições da estrada terciária que liga os dois municípios, caracterizadas por buracos e areia, fazem com que o percurso seja feito em quatro horas. Por força disso, os condutores de viaturas semi-pesadas que trabalham na transportação de mercadorias nem sempre arriscam os seus meios no referido troço, o que torna a vida dos habitantes daquele município ainda mais difícil, sobretudo na aquisição de bens alimentares não produzidos localmente.
Murtala Arishekna Alzizi, de nacionalidade eritreia, é comerciante de bens diversos no novo município da Capunda Cavilongo há quatro anos. Disse à nossa reportagem que não tem sido fácil transportar a mercadoria dos fornecedores para o seu comércio. Segundo disse, para abastecer a sua loja, recorre aos armazéns grossistas do Lubango, mas a maior luta que tem tido, a duração de três a quatro dias, tem sido em conseguir um transporte para a mercadoria, por conta dos buracos que existem na única via alternativa.
“Eu trabalho aqui há quatro anos, desde que era comuna, por isso, apesar de ser estrangeiro, gosto muito desta terra, mas o principal problema é a falta de estrada. Compro a minha mercadoria no mercado do Mutundo, tiro de lá para o Desvio e depois chegar aqui, é mais difícil ainda”, lamentou. Por esta razão, alguns produtos da cesta básica são comercializados a preços exorbitantes. Um litro de óleo alimentar, por exemplo, está a ser vendido ao preço de 3 mil kwanzas, ao passo que um quilograma de arroz está no preço de 150 kwanzas.
Inexistência de escolas de formação profissional obriga jovens a abandonar o município
A sede municipal da Capunda Cavilongo dispõe de três escolas do ensino geral, sendo uma do Ensino Primário, do 1° Ciclo do Ensino Secundário e a outra do 2° Ciclo, em que são ministrados os cursos de ciências humanas, físicas e biológicas. Este facto, faz com que grande parte dos jovens do município da Capunda Cavilongo migre para os grandes centros urbanos para dar continuidade à sua formação académica e outros à busca de sobrevivência.
As cidades de eleição para os jovens deste município têm sido as do Lubango, Namibe, Benguela e Luanda, onde aqueles jovens sem condições para dar continuidade à sua formação optam por desenvolver actividades de moto-táxi e empregada doméstica. José Xavier, de 25 anos de idade, disse que terminou o ensino médio, já há algum tempo, com a esperança de ser professor, mas o curso que fez no 1.° ciclo não lhe permite realizar este sonho.
Por esta razão, o jovem viu-se obrigado a deslocar-se para a cidade de Luanda, para trabalhar como moto-taxista, tendo saído de lá, após escapar de um assalto que lhe fez perder a sua motorizada. “Eu nasci aqui, cresci aqui, mas sempre sonhei trabalhar aqui como professor, porque os nossos professores são e vivem todos no Lubango, mas quando terminei o médio, o Governo entendeu não admitir ninguém do ensino geral para o sector da educação, por esta razão, pedi um boi ao meu pai, vendi para comprar uma motorizada, fui para Luanda, trabalhei lá por algum período, escapei da morte graças a Deus, fui assaltado por bandidos que dispararam contra mim, felizmente não fui alvejado, mas levaram a minha motorizada, por isso, regressei”, contou.
Com a categoria de município, o jovem natural da Capunda Cavilongo defende a criação de escolas de ensino profissional, com vista a “atenuar” a frustração da juventude local que vive sem qualquer opção de escolha na sua formação. “Aqui precisamos de mais escolas de formação profissional, só temos uma escola com cursos que já não garantem empregos para os alunos, por isso, queremos que sejam criadas aqui no nosso município escolas de formação profissional como um magistério primário e secundário, uma escola de formação para técnicos de Saúde e acima de tudo, uma escola de técnicas agrárias porque o nosso município é potencialmente agrícola, para pelo menos atenuar a frustração dos jovens deste município”, apelou.
Capunda Cavilongo sem energia há quase um ano
O município da Capunda Cavi- longo encontra-se privado do fornecimento de energia elétrica há oito meses, em consequência de uma avaria que se regista no único gerador que abastecia a sede municipal. Com uma capacidade de 100 Kaveais, o gerador encontra- se avariado desde os meados do ano passado, fazendo com que os habitantes da sede municipal fiquem sem este serviço social há igual período. João Cachiuvila Jai fala das dificuldades que a ausência deste e outros serviços está a causar no seio das famílias.
“Nós não temos escolas suficientes e, acima de tudo, não temos energia há oito meses. Tínhamos um gerador que era ligado às 18 horas, até as 24 horas, mas desde que ficou avariado, nunca mais vimos energia aqui no nosso município”, lamentou. Por outro lado, o nosso interlocutor informou que, para mitigar os efeitos da falta de energia, aquelas famílias com alguma capacidade financeira recorrem a outras fontes, como é o caso dos geradores de pequeno porte.
Entretanto, o preço da gasolina no mercado informal tem feito a vida mais sofrida. “Estamos a passar mal, aqueles que têm gerador, ligam- nos por algumas horas, mas o que deixa essa vida ainda mais sofrida, é o preço da gasolina, aqui cada litro de gasolina, estamos a comprar no preço de 500 Kwanzas, isso porque aqui não existe Posto de Abastecimento de Combustível”, detalhou.
Administração municipal diz estar a trabalhar para alterar o quadro
Depois de ter sido elevado à categoria de município, a 1 de Janeiro do ano em curso, o Governo Provincial da Huila procedeu à nomeação dos novos Administradores Municipais, que se encontram em funções há mais de um mês. Para o município da Capunda Cavilongo, foi nomeada Jai Frederico, que por várias décadas trabalhou na mesma localidade, na qualidade de Administrador Comunal, pertencente na altura ao município da Chibia.
Por esta razão, o Administrador Municipal, Jai Frederico, disse que os problemas que afligem os habitantes do mais novo município são do seu total domínio, por isso, o Governo que dirige está a trabalhar no sentido de inverter o quadro e melhorar a qualidade de vida das populações. “Nós fomos apresentados praticamente há um mês, mas conhece- mos as maiores preocupações que são do nosso domínio.
Um município novo como o nosso, ainda não temos uma estrutura para a execução de vários projectos, como sabem, o problema da estrada não é da alçada da Administração Municipal, é sim da competência do Governo Provincial, mas por aquilo que sabemos, certeza de que já há um projecto de reabilitação de cerca de 122 quilómetros partindo do quilómetro 16 até ao município de Quipungo, o certo é que ainda este ano teremos boas notícias sobre esta matéria”, assegurou.
Por outro lado, o Administrador Municipal da Capunda Cavilongo revelou que já foram feitas negociações com uma operadora de telefonia móvel para a instalação de uma antena repetidora. “Nós já falamos com a direção de uma operadora, já atribuímos um espaço para que esta operadora vnha instalar o seu equipamento”, avançou. Relativamente ao fornecimento de energia elétrica, Jai Frederico explicou que o gerador de 100 kVA se encontra avariado, mas que o mesmo será recuperado dentro de 30 dias, para garantir o forneci- mento da energia às famílias, e quanto se esperam por soluções estruturantes.
“Temos uma avaria no nosso gerador, que possivelmente dentro de menos de 30 dias, vamos pro- curar repor, mas pela sua capa- cidade, já não responde à necessidade da população. Enquanto aguardamos pela instalação de um sistema de energia solar, temos a sorte de os postos de alta tensão passarem a 900 metros da sede municipal, por isso, vamos pedir às estruturas superiores para que se instale no nosso município uma subestação que poderá beneficiar o município e algumas empresas que trabalham na exploração de granito”, afirmou.
A rede sanitária no município da Capunda Cavilongo é composta por 10 unidades, sendo três Centros e sete Postos de Saúde, que não satisfazem a necessidade do sector, tendo em conta a sua densidade populacional. “Todos os municípios têm no seu organograma a construção de um Hospital Municipal. Como se sabe, a sua execução não depende do nosso nível. Nós temos as áreas já identificadas.
Tão logo haja condições para o efeito, será executado sem sobressalto, porque o Centro de Saúde que nós temos já não satisfaz a necessidade do município que tem 130 mil habitanes. Acreditamos que é um dos problemas que hão de ser resolvidos, por isso, quero tranquilizar a população, que nós estamos aqui para servir e resolver os seus problemas”, garantiu.
POR:João Katombela, na Huíla