O Bispo de Cabinda fez esse apelo à justa indemnização aos afectados, no decurso de uma homilia, por ocasião das celebrações do 6° aniversário da Paróquia de São Paulo, na aldeia do Chinga, momento que também serviu para celebrar o encontro das comunidades cristãs nascidas da ressurreição de Cristo, a celebração do Domingo da Palavra de Deus, bem como a celebração do encerramento da semana de oração pela unidade dos cristãos, que na dinâmica da relação entre as Igrejas, se celebra de 18 a 25 de Janeiro, culminando com a festa da conversão de São Paulo.
Na ocasião, Dom Belmiro Chissengueti, enquanto pastor da comunidade diocesana em Cabinda, lançou uma palavra de grito e de socorro, mas também de urgente solidariedade para com os povos que habitam a orla marítima do norte da cidade de Cabinda, nomeadamente Chinga, Chiázi, Caio, Buco-Mázi, Fútila, Malembo, Chinfuca e Zenga, os mais afectados pelo derrame de petróleo.
Para o bispo de Cabinda, estas comunidades são mais uma vez castigadas com um derrame de petróleo que sujou a costa e que está a matar a fauna marítima, o que vai piorar ainda mais a sua condição de pobres, sem peixe, um dos poucos recursos acessíveis que restam aos pacatos cidadãos.
“As empresas exploram petróleo há mais de 60 anos, cujos reflexos na vida destes povos são quase inexistentes”, referiu o prelado, exemplificando que Malembo continua a ser a mesma aldeia mesmo vendendo petróleo para todo o mundo, e o Fútila continua um quimbo mesmo enriquecendo os bolsos de muitos.
“Agora, até o peixe que resta foi martirizado pelo derrame de petróleo”, sublinhou. De acordo com Dom Belmiro Chissengueti, ninguém sai da sua casa para derramar petróleo, mas “é verdade que aqueles que ganham muito devem ajudar os mais pobres e necessitados.” Por isso, adiantou, “vamos procurar acompanhar que tipo de indemnização será dada às comunidades pobres, hoje soterradas no petróleo, das quais têm pouco ou nenhum benefício e agora sem possibilidade de pesca.”
Advinhando-se dias difíceis para as comunidades que vivem da pesca, o bispo de Cabinda defendeu a necessidade de aqueles que ganham muito possam ajudar a suprir essas dificuldades, neste momento, bem como os que forem responsabilizados a fazer chegar a ajuda solidária aos mais pobres entreguem-na integralmente e não caem nas percentagens de desviar o pouco, retirando da boca dos pobres aquilo que lhes resta.
Por isso, defendeu, tanto os membros do governo, as administrações municipais e comunais, as organizações da sociedade civil e nós também como Igreja, estamos todos preocupados com isso.
“Se não for preocupação de quem governa, é grave, tem de ser preocupação de todos. Temos de fazer uma força para que os povos prejudicados não sejam abandonados à sua sorte.”
Segundo o missionário católico, governar é dar resposta às questões pontuais e, sobretudo, acidentes e “aqui não há desculpas de não haver dinheiro, porque o petróleo jorra todos os dias e tem de ser capaz de dar respostas aos acidentes (…), já que, este partindo de uma obra humana, que deveria ser prevista, mas que não foi controlada, deve, efectivamente, merecer uma resposta eficiente e atempada.
O bispo de Cabinda referiu que as populações afectadas “são nossos irmãos” e, por extensão, todos sofrerão os efeitos dos derrames com a poluição do meio ambiente, “a única herança que nos sobrará quando tudo acabar. Será um caminho normal? Sei lá!”, concluiu o bispo de Cabinda, Dom Belmiro Chissengueti.
Limpeza das praias
Estêvão Conde, secretário da comunidade de pescadores da aldeia de Chinfuca, uma das áreas afectadas, descreveu à reportagem do jornal OPAÍS o que os pescadores vivenciaram naquela madrugada do dia 22 de Janeiro do corrente ano, quando notaram a presença de “um produto estranho” na praia entre Chinfuca e Zenga.
“Mobilizou-se uma equipa que desceu até à praia para observar as condições da água e da própria praia e concluiu-se que se tratava da presença de petróleo bruto tanto na água como na praia, que podemos considerar de maré negra.”
Referiu que o derrame foi de grandes proporções, o que levou a comunidade a reportar a ocorrência às estruturas afins para que houvesse uma intervenção.
“A Chevron teve a amabilidade de responder essa preocupação, reconhecendo que, de facto, o derrame estava a acontecer, mobilizando a sua equipa e connosco unimos esforços para os trabalhos de limpeza das praias.
“Como primeiro passo, para acautelar os aspectos ligados ao meio ambiente e à própria vida humana, decidimos em primeira instância a limpeza das praias e, posteriormente, vermos as questões de negócio”, sublinhou.
Dificuldades dos pescadores
Devido ao derrame de petróleo bruto no mar de Cabinda, a Comissão Técnica de Protecção Civil aconselhou os pescadores a não se fazerem ao mar nem tão pouco consumir o pescado capturado neste momento.
A comunidade de pescadores do Chinfuca comporta cerca de 100 elementos, que estão, neste momento, com os braços cruzados, uma vez que os seus artefatos de pesca foram danificados pela consequência do derrame. Essas comunidades, que vivem da pesca, segundo Estevão Conde, estão a passar por imensas dificuldades para sustentar as famílias.
“Pedimos a boa-fé por parte do governo no sentido de fazer uma paralisação oficial da actividade de pesca e olhar pela vida do pescador, sobretudo da sua família que, neste momento, não sabe onde tirar o alimento para a sua sobrevivência.
As nossas famílias padecem e estão a passar fome”, lamentou Estêvão Conde. Na localidade de Chinfuca, cerca de 26 pescadores ficaram afectadas directamente com o derrame, cujos prejuízos ainda não foram contabilizados.
Em relação ao material danificado, incluindo 15 redes que se encontravam no mar, a duas milhas da costa, a nossa fonte disse que o mesmo é irrecuperável, porque as redes estão muito destruídas e já não servem para pescar.
“A Chevron teve a boa-fé de dizer que, quando isto acontece, pegar as redes danificadas e reportar à sua instância para certificar os danos e estudar os mecanismos de reposição no sentido de ajudar os pescadores lesados.”
Por: Alberto Coelho, em Cabinda