O Bispo da Diocese de Cabinda, Dom Belmiro Chissengueti, disse que, neste momento, quer a nível da diocese quer da província no seu todo, vê-se o sufoco de uma quadra natalícia verdadeiramente pobre, embora a pobreza do presépio seja a expressão da humildade do filho de Deus, mas que “na falta do que comer pode ser a expressão também da falha das nossas projecções económicas.”
A falta do que comer a que o Bispo Chissengueti se refere está na base da medida precipitada tomada pelas autoridades de encerrar o porto fluvial de Kimbumba, localizado no município do Soyo, e proibir as embarcações artesanais de transportar mercadorias deste ponto para Cabinda, o que deixa a população apreensiva, na medida em que os produtos essenciais da cesta básica começam a escassear no mercado e os poucos que aparecem são vendidos a preços altos.
Para o bispo de Cabinda, a missão da Igreja é também a de despertar as autoridades para aquilo que são as suas responsabilidades, alertando que quando se tomam soluções e decisões, devese, antes, criar alternativas para evitar o sufoco das pessoas.
“Vivemos dias em que os camiões que devem alimentar a província são, muitas vezes, inibidos de atravessar a RDCongo para aceder à nossa cidade e, quando atravessam, o fazem com fretes altíssimos, o que encarece ainda mais a vida deste povo sofredor”, referiu.
No seu entender, a construção de um porto de águas profundas na província é uma prioridade absoluta para libertar Cabinda da dependência quer da travessia da RDC como dos portos do Congo Brazzaville.
“É verdade que já lá vão muitos anos em que os sonhos criados tinham tempo de ser realizados. A construção de um porto é uma necessidade que já estava muito adiantada em tempos não muito distantes e que parece sonegada e adiada no presente momento”, aventou.
De acordo com o líder da Igreja Católica em Cabinda, é preciso haver um esforço para não criar vãs expectativas de mergulhar a população em viver de promessas a vida toda.
Isto porque, sublinhou, passados mais de 15 meses, ainda não iniciaram os trabalhos de reabilitação da estrada que liga o Yema ao Alto Sundi (município de Miconje), 290 quilómetros, capaz de unir em tempo útil a província de Cabinda de norte a sul.
“Continuamos à espera da realização deste sonho que permitiria, sem dúvida, melhor acessibilidade e a poupança de recursos económicos que são destruídos pelos buracos ou crateras nas estradas com todo o mal que isso causa, não só, aos próprios indivíduos com colunas partidas ou em vias disso, mas também aos seus meios que têm pouca durabilidade e não têm retorno em função do desgaste que poderia ser evitado se tivéssemos estradas saudáveis numa província que é das principais fornecedoras do Orçamento Geral do Estado.”
De acordo com o prelado, a igreja deve renovar sempre o seu compromisso com a sociedade em que está inserida, trabalhando incansavelmente naquilo que lhe diz respeito em ajudar o Estado, que tem muita necessidade desta colaboração, para resolver os problemas das populações.
Segundo disse, a igreja não se deve calar perante a precariedade dos serviços de saúde, a falta de escolas para todos, havendo inúmeras crianças sem o acesso à educação, e diante das dificuldades inerentes ao saneamento básico, que torna insano o ambiente em que vivemos, e a proliferação de seitas religiosas.
Acrescentou ainda que a igreja deve pronunciar-se quando está diante de uma imigração ilegal desordenada, onde as aldeias são invadidas por cidadãos estrangeiros, bem como o abandono das aldeias para a cidade em busca de melhores condições de vida, deixando para trás a agricultura, o sector primário que alimenta a nossa economia e as nossas cidades.
“Não nos podemos calar diante desta realidade, esperando eventualmente que a sorte e o destino resolvam o nosso problema. Precisamos com a força do Evangelho sermos a voz dos sem voz e a expressão concreta daqueles que sofrem no corpo e na alma as dores dessa cruel realidade.”
Perante as dificuldades do momento, marcadas pela pobreza e pela indigência, o bispo de Cabinda apela aos cristãos e à população em geral, a transmitir aos homens e mulheres, velhos, jovens e crianças, “que nos estão confiados”, a mensagem de esperança que nasce da fé.
“Uma fé que não desanima diante das contrariedades e dos obstáculos, uma fé que não recua mesmo diante da presente indigência, e que se mantenha em pé, consciente Daquele a quem pusemos a nossa confiança.”
40 anos da diocese
A 16.ª assembleia diocesana da pastoral, que decorreu de 26 a 28 de Dezembro, marcou o encerramento do triénio da criança e a abertura do trieno dos ministros consagrados e da vida consagrada.
O objectivo da assembleia, de acordo com o bispo, é o de “reassumirmos todos a nossa missão e vocação e fazermos crescer a nossa presença nas igrejas que deverão estar sempre abertas para que permaneçam como fontes de salvação acessíveis para aqueles que as buscam.”
O conclave serviu também para encerrar as celebrações dos 40 anos da diocese, que envolveram, durante todo o ano pastoral passado, várias actividades religiosas.
Na ocasião, o bispo agradeceu o empenho da vigararia da pastoral, dos organizadores, participantes e prelectores do simpósio pelo abnegado trabalho realizado de tornar actuante a celebração dos 40 anos.
A Diocese de Cabinda foi fundada a 1 de Outubro de 1984, tendo sido nomeado como primeiro bispo, Dom Paulino Fernandes Madeca. Com a morte deste, foi designado como novo bispo Dom Filomeno do Nascimento Vieira Dias, tendo este sido substituído pelo actual bispo, Belmiro Chissengueti, nomeado em 7 de Outubro de 2018.
Por: Alberto Coelho, em Cabinda