A direcção da Universidade Metodista de Angola (UMA) acusa um grupo de 50 estudantes de fraude no pagamento de mensalidades e alteração indevida de notas, situação que forçou a instituição a barrar os mesmos na cerimónia de outorga. Os estudantes negam as acusações e atiram a culpa no sistema de pagamento da universidade, que consideram estar viciado. A situação já resultou em detenções e manifestações. O Mistério do Ensino Superior diz estar a acompanhar o caso e apela à calma e bom senso
grupo de estudantes da Universidade Metodista de Angola (UMA), que foi eliminado da 15.ª Cerimónia de Outorga de Diplomas, que está acontecer desde o início desta semana, exige a intervenção do ministério do Ensino Superior e demais órgãos de justiça no esclarecimento do caso que eles consideram como sendo injustiça.
Segundo os estudantes que, na última quarta-feira, foram expulsos e detidos por algumas horas pela Polícia Nacional, a mando da direcção da universidade, a instituição de ensino está a agir de má-fé, pelo que não entendem as razões que culminaram com a expulsão do grupo do processo de outorga de diplomas que era a última etapa de um exercício académico de muitos anos.
Ao jornal OPAÍS, o grupo de estudantes, que não quis se identificar, diz que o esquema e fraude nos pagamentos, como alega a Universidade, não condiz com a verdade. Sobre as irregularidades na combinação das notas, o grupo alega ser uma falha fruto do sistema viciado e irregular da universidade que há muitos anos os estudantes vêm solicitando a sua melhoria.
De acordo com os estudantes, caso houvesse a fraude que a universidade alega, muitos dos que foram excluídos da cerimónia de outorga não deviam ter chegado a estagiar e a defender o trabalho de final do curso, como aconteceu.
Referem os estudantes que, fruto da regularidade nos pagamentos, chegaram a receber os certificados, os históricos de notas e efectuaram o pagamento das becas que foram exigidas pela direcção da universidade.
Outrossim, os estudantes disseram que só receberam o aviso de que não seriam outorgados no sábado à tarde, sem tempo sequer para poderem se defender ou provar que estão regularizados.
Brutalidade no tratamento
Os queixosos denunciaram, também, que a universidade, diante dos factos, está a agir com brutalidade, situação que está a gerar revolta no seio da comunidade académica.
“Na quarta-feiral, fomos detidos, espancados e maltratados pela polícia a mando da direcção da universidade. Não somos criminosos. Deixem-nos apenas provar que estamos certos”, lamentou o grupo de estudantes.
Manifestações sob fortes medidas de segurança
Ontem, com vista a exigir que a legalidade seja reposta, o grupo de estudantes manifestou-se defronte à Universidade sob fortes medidas de segurança da Polícia Nacional que impediu o acesso dos queixosos no interior da instituição de ensino. Para os próximos dias, o grupo promete recorrer aos órgãos de justiça para que a legalidade seja reposta.
Reitor justifica-se com nota de esclarecimento
Contactado pelo jornal OPAÍS, o reitor da Universidade Metodista de Angola, Tiago Mutombo, disse que a instituição já se pronunciou por via de uma nota de esclarecimento amplamente partilhada nas redes sociais.
Na nota, apontada pelo reitor, a universidade escreve que, como é prática institucional, os serviços académicos procederam, nas semanas que antecedem a cerimónia, a uma rigorosa verificação de todos os processos académicos e financeiros dos estudantes finalistas.
Este procedimento, lê-se no documento, teve como objectivo garantir a integridade e a transparência do processo da outorga, assegurando que todos os requisitos académicos e financeiros tenham sido cumpridos conforme o regulamento da instituição.
No entanto, durante o referido procedimento interno, foram detectadas irregularidades graves envolvendo um número considerável de estudantes.
Entre as irregularidades identificadas, prossegue a nota, destacam-se casos de fraude no pagamento de mensalidades e alteração indevida de notas.
Constatou-se, atesta o documento, que as notas constantes nas pautas físicas não correspondiam às registadas no sistema, indicando uma clara violação dos princípios éticos e académicos que regem a instituição.
Todavia, face a estas irregularidades, que violam o regulamento académico da Universidade Metodista de Angola e podem configurar responsabilidade criminal, a instituição viu-se obrigada a suspender temporariamente os estudantes envolvidos, para que, em respeito ao princípio do contraditório e mediante a instrução do competente processo disciplinar académico, sejam tomadas as medidas disciplinares e legais cabíveis.
“A universidade reitera o seu compromisso inabalável com a integridade académica e com a promoção de um ambiente de ensino baseado na honestidade, na humildade e no respeito pelas normas institucionais”, sublinha o documento consultado pelo jornal OPAÍS.
Ministério de tutela atento à ocorrência
Já o Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação, por via de uma fonte, garantiu ao OPAÍS estar a acompanhar a situação e aguarda, entretanto, pelo desfecho do inquérito e processo disciplinar aberto pela instituição de ensino. Todavia, a fonte pediu calma e bom senso às partes envolvidas, para que a situação seja resolvida nos limites da lei.
“São estudantes, não são delinquentes”
Para o presidente do Movimento de Estudantes de Angola (MEA), Francisco Teixeira, que conversou com o jornal OPAÍS ontem, numa altura em que os estudantes estavam a ser julgados, não havia necessidade de a Polícia usar a força, só porque os estudantes não queriam abandonar o local, pois devia ter usado a diplomacia.
Estavam a ser julgados três estudantes detidos, dois rapazes e uma menina gestante, que passaram a noite na esquadra do bairro Operário.
“Nós gostaríamos de pedir à polícia, da próxima vez, para respeitar e tratar os estudantes como deve ser. São estudantes, não são delinquentes, não são bandidos, e estavam ali por uma justa causa”, disse.
Teixeira diz ainda que a universidade alega que os estudantes agiram de forma fraudulenta, pagaram para determinar as notas, só que dias antes, na reunião entre os estudantes e a direcção da universidade, “a universidade não conseguiu provar quais são os estudantes que cometeram a fraude e quais os estudantes que estão legais”.
A não provação dos factos foi sob a alegação de que não tinham as pautas completas, segundo o responsável do MEA, facto que o leva a questionar: “Então, se os estudantes já defenderam, já têm os certificados, o acto de quarta e de quinta-feira era apenas para receberem os diplomas, era o dia da outorga, é claro que a universidade tinha que vir com provas? Disse, acrescentando que a universidade estava a pedir mais cinco dias para terminar o inquérito.
O defensor dos estudantes espera por métodos diplomáticos na resolução dessa situação, por acreditar que quem sai mal na fotografia é a Universidade Metodista, que consequentemente vai arrolar a igreja – que nada tem a ver com isso.
“Eu penso que os responsáveis da universidade deviam encontrar o melhor método de diálogo para se ultrapassar essa situação, e nós temos estado a conversar com os estudantes.
Esses estudantes específicos sempre nos mantiveram informados dos passos que a UMA deu, dos passos que eles iam dar, escreveram e procuraram o máximo de diálogo”, sublinha.
Segundo Francisco Teixeira, espera-se que a universidade termine com o inquérito e encontre quem são os verdadeiros responsáveis disso.
Para os não envolvidos, defende, a universidade deverá encontrar forma de indemnizá-los e responsabilizar aqueles que provocaram este prejuízo.
“Nós, que somos metodistas, não gostaríamos de ver novamente a nossa organização, a nossa igreja, a escola, a ser envolvida em um escândalo desse tamanho, porque não ficou bom o que aconteceu na universidade”, finalizou.