São assistidas acima de trinta crianças com necessidades especiais, numa iniciativa que desenvolve técnicas de treinamento para a melhoria da fala, orientação psicológica, treinamento da voz, aulas de braile e ginástica
Texto de: Domingos Bento
Um grupo de voluntários, constituído por assistentes sociais (psicólogos, professores, sociólogos e outros), desenvolve um programa de assistência domiciliária à crianças portadoras, designadamente do síndrome de Down, deficiência visual, autismo, paralisia cerebral, surdez, mudez e demais necessidades especiais, residentes na província da Huíla.
Pela assistência dos seus filhos, os pais não devem assumir custos alguns, excepto para a aquisição de algum tipo de material de apoio específico. Segundo Mário Armindo, coordenador do referido programa, a assistência prende-se com a elaboração de uma série de técnicas e terapias junto a crianças visando a sua adequada integração na sociedade e no sistema escolar.
No processo de treinamento constam técnicas para a melhoria da fala, a orientação psicológica, o treinamento da voz, aulas de braile, ginástica e outras terapias que contribuem para a melhoria da qualidade de vida dos menores com qualquer tipo de necessidade especial.
Desde o seu início, em Janeiro do presente ano, o projecto tem trabalhado com mais de trinta menores. Deste número, dez tiveram resultados positivos e foram integrados nas comunidades e nos estabelecimentos escolares.
O objectivo, segundo o responsável, é reduzir o impacto psicológico e os encargos materiais que os portadores de necessidades especiais apresentam às respectivas famílias.
Numa primeira fase, devido ao desgaste e à carência em recursos materiais, a iniciativa está restringida à cidade do Lubango, que se tornou um local de encontro de dezenas de crianças com necessidades especiais provenientes de outros municípios como Quilengues, Chibia, Matala e outras municipalidades da província da Huíla.
“A partir do Lubango podemos servir a província toda. Com mais recursos, teríamos bastante gosto em alargar os nossos serviços a outros municípios. Mas ainda trabalhamos com muitas limitações”, lamentou.
Pais insistem em esconder filhos nesta condição
Por seu turno, José Canhanga, assistente social, revelou que desde que foi implementado, o projecto trabalha com os menores das áreas mais recônditas, com destaque para aqueles cujos pais não têm dinheiro sequer para chegarem aos hospitais.
No entanto, dentre as grandes dificuldades que se verificam, realçou o comportamento de muitos progenitores que insistem em “esconder” os seus filhos durante os programas de visitas comunitárias que o grupo efectua. Esse comportamento, segundo o entrevistado, deriva de conceitos tradicionais ainda enraizados em muitas famílias.
“É evidente que uma criança que nasce com alguma deficiência motora não terá o mesmo desempenho de outra com características consideradas normais.
Mas é possível reduzir as suas limitações, e tornar a vida dessas crianças menos dependentes de terceiros. Assim, as famílias devem estar dispostas a colaborar com o processo de treinamento e orientação psicológica”.
O programa de assistência a menores com necessidades especiais tem contribuido para a redução da taxa de casos que são transferidos para Luanda ou para outros países. Segundo o assistente, por falta de iniciativas nas demais províncias, muitos pais, ao detectarem alguma deficiência nos seus filhos, dirigem- se à Luanda, por ser o centro das organizações e das instituições de apoio e tratamento.
No entanto, com a instauração deste projecto, José Canhanga acredita que muitos desses casos, sobretudo os menos complexos, poderão ser diagnosticados e tratados na província da Huíla, poupando assim os pais de gastos e de outros sacrifícios a que são sujeitos em Luanda.