Os trabalhadores encontram-se em greve parcial desde o dia 19 do corrente mês e ameaçam paralisar todos os serviços caso não lhes sejam pagos os quatro meses de salários em atraso. O Estado deve mais de 280 milhões de Kwanzas, segundo o director
POR: Afrodite Zumba
O director geral da empresa Transporte Urbano Rodoviário de Angola (TURA), José Junça, alega que o Ministério das Finanças (MINFA) é o responsável pelos quatro meses de atraso salarial dos trabalhadores da referida empresa. Em depoimento a este jornal, o responsável esclareceu que a empresa tem a receber 280 milhões, 209 mil e 250 Kwanzas da subvenção de bilhetes que o Estado angolano se propõe a pagar aos cidadãos que usam os transportes rodoviários. Sobre o assunto, afirmou que no dia 1 de Novembro de 2017 solicitou uma audiência com o director geral do Instituto de Preços e Concorrências (IPREC) mas até agora não obteve resposta. A par desta situação, realçou ainda que outras instituições do sector, como o Instituto Nacional dos Transportes Rodoviários, têm conhecimento da situação que enferma a empresa.
“É lamentável. Mas cada um deve cumprir o seu papel. E o de processar os salários dos trabalhadores é dever do Ministério das Finanças”, defende, acrescentando que apenas estão envolvidos na situação. José Junça reconhece que a actual situação financeira do país dificulte o pagamento das dívidas, entretanto defende que pelo menos 30 a 40 por cento devem ser pagas de modos a que os trabalhadores consigam sustentar as famílias, visto que a situação está insustentável. Cinco autocarros operacionais Apenas cinco dos 112 autocarros que atendem ao casco urbano estão operacionais desde o dia 19 do corrente mês, altura em que os trabalhadores aderiram a uma greve como forma de protesto. Esta medida, segundo o entrevistado visa respeitar a lei que aponta que as empresas devem assegurar os serviços mínimos. Por outro lado, José Junça afirmou existir uma escassez de autocarros para atender à demanda da cidade de Luanda. “Mesmo que todas as empresas estivessem a funcionar com todos os seus meios não cobririam as necessidades, que pedem cerca de sete mil autocarros”.
Sindicado prevê paralisação total
Por seu turno, o coordenador do Bureau do Sindicato da empresa de Transporte Urbano Rodoviário de Angola (TURA), João Queta Tomás Caetano, revelou, que a greve poderá ser total e abranger outras empresas de transporte rodoviário, caso não lhes seja reposto os salários em atraso. Segundo explicou, estima-se que cerca de 5000 trabalhadores deste sector também enfrentam o mesmo problema, como a empresa privada de Transporte Público “SGO”, os 500 trabalhadores encontram- se sem ordenado há oito meses, a empresa de Transportes Colectivos e Urbanos de Luanda (TCUL), na qual cerca de 1200 funcionários não são remunerados há três meses. A situação tem impedido que os trabalhadores consigam levar comida à mesa, pagar as despesas de casa, bem como custear a educação dos filhos. Alguns deles tiveram de se refugir em casa de familiares após serem despejados pelo senhorio enquanto outros contraem dívidas para continuarem a sobreviver. “ Se nos próximos dias os salários em atrasos não forem pagos vamos decretar greve geral que pode abranger outras operadoras que também enfrentam o mesmo problema porque não é possível viver desta maneira”, advertiu.
“ Sem dinheiro para a insulina”
Quem não está a suportar estas “compressas” é José Félix, que devido a esta situação não consegue comprar a insulina para a mãe que é diabética. Para si, além da fome, a impossibilidade de ajudá-la é o que mais o “atormenta”. Por seu turno, Martins Dias, electricista auto, disse ter sido obrigado a contrair uma divida de 90 mil kwanzas para dar sequência aos estudos e alimentar-se. João Queta afirma que a entidade patronal alega que a falta do pagamento de salários deve-se ao incumprimento do Estado no que toca ao “acordo de Subvenção” que detém com as empresas de transporte rodoviário. Deste modo, decidiram endereçadas cartas aos Ministérios dos Transportes, da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social (MAPTSS) das Finanças, assim como ao Governo da Província de Luanda e à Presidência da República. Entretanto, as respostas obtidas não passaram de meras promessas.