Está à vista de todos, mas é difícil apurar a paternidade da iniciativa. Todas as fontes sabem que há mais projectos em agenda, mas recusam-se revelar quais são e a quem pertencem.
POR: André Mussamo
O vasto espaço contíguo ao Estádio 11 de Novembro, com um muro de vedação
pelo meio, está a ser “retalhado”. Ao longo de uma visita de constatação, tanto do interior como do exterior do estádio, é possível verificar novos muros que no seu total “confinaram” o estádio 11 de Novembro num espaço reduzido.
Por sua vez, o novo muro, no interior do recinto, vai sendo subdividido em curtas parcelas, facto que indicia a existência de novos projectos em carteira. Numa dessas visitas, O PAÍS abordou uma equipa de construção que na semana passada terminava mais uma dessas empreitadas.
Os operários, que se identificaram como sendo “uma brigada de uma empresa privada de construção”, revelaram que estavam no recinto apenas para “cumprir uma missão do patrão”. Interrogados se não deviam instalar uma placa de identificação da obra, ou porque motivo eles não se encontravam uniformizados ou munidos de cartões de identidade, responderam-nos que tinham sido transportados para o interior do recinto pelo carro da empresa e a missão consistia em concluir a construção do total de “fiadas projectadas para aquele muro, e nada mais”.
No dia seguinte, já lá não estava a equipa, mas foi possível constatar que o muro tinha sido concluído. No mesmo dia, um agente da Polícia implicou-se com o repórter deste jornal, evocando que “não devia fotografar no interior do recinto
sem autorização”. A pequena algazarra cessou após a pronta intervenção de um outro membro da patrulha que se mostrou mais flexível.
Cidadãos que lá se encontravam em busca de outros serviços “solidarizaram- se” com a nossa equipa, e questionaram “que obras eram aquelas que não estavam identificadas com placas?”. Ironicamente, um daqueles presentes quedou-se na seguinte suposição: “se calhar já venderam todo o terreno. E daqui a pouco o estádio será engolido por outros projectos como é prática no país”.
“Sabemos das obras, mas nada passou por nós”
O director do Estádio 11 de Novembro, Miguel Xisto, abordado por OPAÍS, admite a existência da obra e supõe que seja iniciativa do “proprietário” para “fazer nascer novas infraestruturas que seriam agregadas ao estádio”. Funcionário do Ministério da juventude e Desporto há seis anos e responsável pelo 11 de Novembro nos últimos mais de 12 meses, Miguel Xisto revelou que “não conhece a tutela da iniciativa de retalhar o perímetro do estádio”, mas estava seguro de que não era do seu ministério.
O responsável referiu ainda que, desde que se encontra à frente daquele património nacional, nunca passou pela sua mesa de trabalho (nem que seja para mero conhecimento) projecto algum que fosse para ampliar serviços ou fazer surgir novos no perímetro da infraestrutura. “Sabemos das obras, mas nada passou por nós”, declarou.
Face a nossa insistência, Miguel Xisto admite que, seja lá o que for que esteja a ser projectado para o recinto ,“deverá ser algo para agregar valor ao estádio e deve
ser do conhecimento das autoridades competentes”. “Como podem ver, o estaleiro nunca foi desmontado e , como é de supor, ele não faz parte do projecto definitivo. Portanto, alguma coisa falta por concluir.
Suponho que seja algo que esteja na esfera do Ministério da Construção”, deduziu. Aquele responsável, que ao longo da entrevista sempre se referiu a um “proprietário do estádio”