O sector da construção civil continua a ser dos que mais registam casos de doenças provocadas por acidentes no local de trabalho que, quando não matam, podem incapacitar o profissional ou deixar sequelas para o resto da vida
POR: Domingos Bento
A surdez é a doença mais adquirida no local de trabalho, resultante de acidente, e que mais afecta os angolanos, acabando por afastar temporária ou definitivamente os trabalhadores dos seus postos de trabalho, segundo a directora do Centro de Segurança e Saúde no Trabalho (CSST), Isabel Cardoso. A responsável, que falava à margem do acto de balanco dos dez anos de existência do CSST, feito ontem, em Luanda, explica que o incumprimento das normas de segurança no local de trabalho por parte de algumas empresas estão na base dos casos de complicações com a audição, que, em muitas situações, deixa a vítima incapacitada de continuar a exercer as suas funções.
O sector da construção civil continua a ser o que mais regista casos de doenças e de acidentes no local de trabalho. Mas outros sectores já têm registado números preocupantes, como é o caso das grandes indústrias, o sector das pescas, minas, aviação e sonoplastia. A seguir a surdez perfilam-se na lista de doenças adquiridas no local de trabalho a tuberculose, problemas de visão, infecções da pele e outras patologias que põem em risco a vida dos profissionais angolanos. Desde que foi criado, em 2008, a instituição que Isabel Cardoso dirige já examinou um total de 218 mil e 779 casos. No que toca aos acidentes no local de trabalho, a responsável manifestou elevada preocupação com o aumento de casos de quedas, queimaduras, contaminação por objectos cortantes, intoxicação e electrocução.
Criação de base de dados precisas-se
Actualmente, avançou a responsável, está-se a trabalhar com as instituições de saúde públicas e privadas que recebem casos de acidentes e doenças contraídas no local de trabalho para se ter uma base de dados numéricos das ocorrências. Muitos são os trabalhadores que dão entrada nos hospitais com patologias ou ferimentos contraídos no local de trabalho e as instituições de saúde simplesmente remetem o caso ao atendimento geral. Este procedimento não ajuda na selecção e identificação dos casos de forma correcta. “Seria importante que os hospitais tivessem uma área de registo dos casos de acidentes ou doenças de trabalho para termos uma ideia do número global de casos. Ficase com a impressão de que temos poucos casos, mas se somarmos todo o país vamos ver que a taxa é bastante elevada”, frisou. No entanto, apesar de existir ainda uma certa resistência por parte de alguns empregadores, Isabel Cardoso fez saber que a questão de segurança e saúde no local de trabalho agora é um assunto que começa a fazer parte, de forma activa, da agenda de muitas empresas, o que poderá reduzir os casos de ocorrências.
Investir no capital humano
Isabel Cardoso deu a conhecer que durante o mês de Abril, em saudação às vítimas de acidentes de trabalho, o CSST levará à cabo uma série de actividades com vista a mudar a consciência dos empregadores e dos empregados. Querse provar que o investimento na segurança no local de trabalho não é um custo, e sim um investimento no capital mais importante: o trabalhador. “A nossa primeira acção tem sido a consciencialização. Quando não funciona, aplicamos as medidas punitivas porque a criação de condições para a segurança e saúde no local de trabalho é de lei. Os empregadores sabem disso, porque quando se trabalha com vidas é preciso que se tenha todas as condições necessárias para se evitar eventuais danos à saúde”, finalizou.