O sub-director pedagógico do Complexo das Escolas de Arte (CEARTE), Gaspar Agostinho Neto, confirma que os professores, alunos e outros trabalhadores que exercem as suas funções na instituição estão a recorrer ao matagal ao redor da escola para fazerem as suas necessidades fisiológicas. A falta de energia eléctrica na instituição, cortada por conta da uma dívida na ENDE, tem contribuído para a inoperância das casas de banho
Completa, hoje, o terceiro dia de manifestação dos alunos do Complexo das Escolas de Arte (CEART), iniciada na Terça-feira, 16, por conta dos vários problemas que se vivem, desde a falta de transpor- te, inoperância das casas de banho, falta de energia e água, entre outros. A questão da falta de transporte, reportada em primeira-mão pelo jornal OPAÍS, na edição de 12 de Maio, é levantada por causa dos constantes assaltos e violações que os alunos sofrem no percurso feito da escola às paragens de táxi, e vice-versa, uma vez que os dois autocarros da instituição estão sem motoristas.
Apesar de terem recebido, na altura, a garantia do sub-director pedagógico da escola de que, nesta semana que corre, teriam os auto- carros a funcionar, os alunos não cederam em levantar novamente este problema na manifestação. “Os quartos de banho estão fechados há mais de duas semanas, por falta de água, e os alunos têm de desenrascar lugares para as necessidades fisiológicas. Estamos há quase dois meses sem energia, por suposta dívida à EN- DE e não temos transportes”, disse um estudante.
Na lista das reclamações dos alunos aparece ainda a não publicação dos resultados do 2º trimestre, que eles acham ser o mais grave, por falta de condições para a impressão das mini-pautas. A gravidade desta situação vê-se no facto de as provas dos professores, do 3º trimestre, estarem agendadas para esta semana (dia 18). “Como faremos as provas do 3º trimestre se nem sequer sabe- mos os resultados do 2º trimestre?”, perguntam.
Equipa de segurança sob ameaças de marginais
A escola fica numa zona mui- to isolada, e os alunos têm de per- correr mais de dois quilómetros da paragem dos táxis até à instituição, num caminho que foi toma- do pelo capim (que serve de esconderijo dos marginais). Ser assalta- do ou violado, em plena luz do dia, virou normal entre os estudantes que têm sempre histórias do género para contar. Não há policiamento na zona, nem uma esquadra nas proximidades, e muitas vezes registam violações, assaltos à mão armada. “Mesmo as moto-táxis que andam nas redondezas são suspeitas, uma vez que muitas alunas são desvia- das por eles”, disse a jovem Forinda Ponda. Recentemente, como conta Florinda, os seguranças da escola CE- ART foram ameaçados por um grupo de marginais e afirmaram que os assaltos vão aumentar.
Os alunos que mais sofrem são os do período da tarde, porque até que terminem as aulas, deparam-se com a escuridão. Os estudantes têm noção de que a escola não é uma unidade orçamentada, como fez saber o jovem Teofánio Nicolau, mas que está vinculada ao Ministério da Cultura, pelo que apelam às autoridades que seja dada autonomia à instituição. Defendem que, com autonomia financeira, as preocupações como a falta de água, energia, entre outras poderão ser resolvidas. Teofánio Nicolau afirma que, juntamente com os seus colegas, decidiram não fazer as provas do 3º trimestre, que começam hoje, isto porque desconhecem qual foi o aproveitamento do trimestre passado.
Sem energia, não sai água
O jornal OPAÍS ouviu o seu sub- director pedagógico, Gaspar Neto, que, em exclusivo, disse que a falta de energia condiciona o abastecimento de água à escola, isto porque apesar de terem água canalizada o processo de fornecimento funciona através de uma bomba, que trabalha apenas com energia eléctrica. A situação cria constrangimentos aos alunos e professores, ou seja, toda a moldura humana que frequenta a instituição. “Sem as casas de banho, as necessidades ficam deficientes. Felizmente, a mata ao nosso redor nos permite fazer as necessidades. Apesar de reconhecer que a ida à mata também representa perigo, uma vez que os delinquentes ficam à solta”, disse Gaspar Neto.
A falha de energia tem sido intermitente, há um mês.
A gravidade consiste no facto de que a direcção não consegue resolver os problemas, por conta da não dotação orçamental. A instituição não tem orçamento próprio, sobrevive de “miga- lhas”, como disse Gaspar Neto, que o Ministério da Cultura e Turismo dá para o pagamento das despesas fixas, como a limpeza, segurança, água e energia. Mas o valor, que varia entre os 200, 300, 400, 500 ou 600 mil kwanzas/mês, não chega. “Imagina se vierem a dar 400 mil kwanzas e você tem de pagar 800 mil ou um milhão para a segurança, mais outros um milhão para limpezas, entre outros? Não tem como a instituição não continuar a ter dívida.
A situação obrigava a continuar a ter encargo com a Empresa Nacional de Distribuição de Electricidade (ENDE) ”, lamentou. Antes tinham energia de forma alternada, uma semana sim, outra não, porque tinham de pedir favores às pessoas conhecidas para ligarem a energia. Chegou um período que já não dava para atenuar, porque a dívida rodava os 11 milhões de kwanzas. Agora está nos dois milhões. Pelo facto, de tempo em tempo, a ENDE desligava a luz do CEARTE. Apesar de a dívida já ter sido regularizada, o problema ainda não está resolvido porque o valor pago ainda não se reflectiu na conta da ENDE.
POR:Stela Cambamba