Com três golpes de machado na cabeça, a professora Isilda António Mateus, de 47 anos de idade, conheceu a morte. O sobrinho, Aguinaldo Adão Ma- teus, confessa ter sido o autor, porque estava cansado de ser acusado de roubo por parte dos familiares
Amestre, que dedicou boa parte de sua vida à docência, vai hoje a enterrar, a partir das 9 horas, no cemitério do Benfica, deixando órfãos três filhos. Isilda António Mateus foi vista deitada no chão, enrolada em cobertores, na noite do dia 22 de Abril, por dois dos seus filhos. Ao lado da vítima estava o sobrinho, Aguinaldo, que ao dar conta que tinha sido flagrado, fingiu pedir socorro, como se de um acidente se tratasse.
Segundo Suraya António, a filha mais velha da vítima, de 31 anos de idade, os irmãos bateram na porta do seu quarto pedindo ajuda para levarem a mãe a uma unidade sanitária mais próxima. “Já não questionei nada, porque achei que a mãe tinha sido retirada do quarto pelos meus irmãos. Com a ajuda inclusive do primo (acusa- do) colocamos a mãe no carro. Pedi ao primo que nos acompanhas-se ao hospital, para ajudar a retirar a mãe do carro, mas ele alegou estar descalço, pelo que não podia. Afinal, aproveitou o facto de ficar em casa para desligar os fios das câmaras internas”, conta.
O acusado disse ainda que a senhora tinha caído e ficado desmaiada, e que ouviu um barulho no quarto dela porque fica próximo do dele. Os médicos não acreditavam que os hematomas da vítima resultaram de uma queda, pelo que pediram aos filhos que entras- sem para ver o estado da paciente. Ao depararem-se com os ferimentos na cabeça e na orelha, perceberam que não se tratava de uma queda e sim de uma agressão grave. “Ele, depois de matar a minha mãe, retirou-lhe a roupa de noite, e colocou-lhe um vestido preto.
Até nas partes íntimas da minha mãe tocou”, disse, com ar de raiva do primo, este que ainda teve o desplante de ligar aos filhos da vítima para saber como ela estava a reagir no hospital. Aguinaldo era tido como “o braço direito” da tia e nunca apresentou sinais de agressividade. Fazia trabalhos de pedreira em casa, e a tia pagava-lhe pelos serviços prestados. Era um filho de casa, onde podia comer e beber à vontade.
O erro da tia foi ter tido a ideia de contar à sua irmã sobre o comportamento do filho, uma vez que este roubava alguns pertences de casa. A tia, um dia antes da morte, tinha chamado a atenção ao sobrinho por conta do desaparecimento de valores no cartão multicaixa dela, pelo que se desconfia que tenha sido isto que motivou a morte.
O encontro entre a tia e a mãe motivou
Segundo o porta-voz do Serviço de Investigação Criminal (SIC) Lu- anda, Fernando de Carvalho, a detenção do sobrinho foi feita no dia 23 do corrente mês, e vem acusa- do do crime de homicídio qualifica- do, em razão da qualidade da vítima, sua tia, com quem coabitava. Disse que o homicida se terá apercebido de que a vítima teria marcado um encontro com a sua irmã, mãe do implicado, no domingo, 23 de Abril, às 12 horas, no sentido de lhe passar a informação sobre os furtos ocorridos na sua residência, protagonizados pelo acusado.
“Apercebendo-se do encontro, um dia antes, o mesmo recolheu-se no seu quarto on- de planeou a macabra acção durante o dia e, por volta das 23 horas, do dia 22 de Abril, apossou-se de um machado e, aproveitando- se do estado de sono da tia, entrou no quarto e, agressivamente, desferiu vários golpes na região craniana”, disse. Assim sendo, com o objectivo de se desfazer da culpa, o implica- do envolveu a vítima numa colcha e arrastou-a do seu quarto à porta que dá acesso ao quintal. No local do sucedido encontrou-se um saco azul contendo algumas vestes e um par de sapatos, presumivelmente da vítima, roupas do acusa- do e uma faca de cozinha de cabo verde, todos aspergidos com sangue.
Quanto ao machado usado na acção, constatou-se que foi deitado numa das lixeiras nos arre- dores do local. Segundo informações médicas, a morte da malograda deu-se antes de chegar ao Hospital Geral de Luanda. “O machado que usei é da tia” Aguinaldo Adão Mateus, o acusado, conta que a vítima chamou por si no seu quarto para reclamar do desaparecimento de dinheiro no cartão multicaixa, tendo-lhe apontado como suspeito, por causa dos seus antecedentes.
O acusado confessou que retirou os valores uma vez, mas que na segunda não tinha sido ele. Segundo ele, a tia não acreditou na sua inocência e deu-lhe uma bofetada na cara. Devolveu a chapada na tia. “Como sabia que no quarto dela tem um machado, peguei e dei três golpes da cabeça”, confessou. O mesmo fez saber que vivia com a tia, a mesma dava-lhe um salário, para além de lhe ajudar a pagar os estudos.