As referidas salas serão instaladas junto a comunidades mais afectadas e nas quais ainda se assiste uma elevada taxa de crianças que estudam em locais impróprios
POR: Domingos Bento, na Huíla
As crianças que estudam ao relento, debaixo de árvores e em outras condições inadequadas, serão albergadas num conjunto de salas móveis criadas por um grupo de técnicos adstritos à incubadora de empresas do Centro Local de Empreendedorismo e Serviços de Emprego (CLESE), em parceria com a direcção provincial da Educação. Segundo Joaquim dos Santos, director do projecto, as referidas salas estão a ser preparadas para garantir o mínimo de conforto a uma vasta franja de menores, que por escassez de vagas, não conseguiu lugar nas salas de aulas convencionais.
Dados a que o OPAIS teve acesso, apontam que, até 2013, o sector do ensino no Lubango carecia de 2.500 salas de aula destinadas a 22.724 crianças que estudam ao relento. Porém, enquanto se aguarda pela construção de mais salas de aula e de outros estabelecimentos escolares, Joaquim dos Santos referiu que foi encontrada esta solução provisória, que vai proteger os estudantes de adversidades, como o sol, a poeira, a chuva e o ruído público. O responsável referiu que, numa primeira fase, serão criadas dez salas com capacidade para albergar quase quarenta alunos cada uma. O custo da construção de cada unidade ronda os 500 e os 800 mil Kwanzas e poderão serão móveis, podendo assim descolar-se, com perfeita facilidade, de um local ao outro.
Na construção destas salas estão a ser utilizados materiais, como ferros, chapas de metal, sendo o revestimento interior todo feito à base de madeira e dotado de um sistema de ventilação natural, incluindo redes de protecção nas janelas e nas portas para travar a invasão de estranhos, no decurso das aulas. Segundo Joaquim dos Santos, no resultado de um estudo desenvolvido com a direcção local da Educação, decidiu-se dar prioridade às comunidades mais recônditas, portanto, distantes do centro urbano. E pelo facto das mesmas deterem um elevado índice de alunos que ainda estudam em condições impróprias, foram tidas como prioridade, sendo que ainda este ano receberão as primeiras unidades que serão instaladas em locais seguros e sossegados, para que não sejam vandalizadas.
“Estamos numa fase de acertos com a direcção provincial da Educação. Assim que terminar este período, vamos avançar com a entrega das primeiras unidades. Mas a previsão é que ocorreram antes do fim do primeiro semestre”, estimou. Em declarações a OPAIS, Joaquim dos Santos frisou que, depois da Huíla, pretendem levar o projecto às províncias circunvizinhas, nomeadamente ao Namibe e ao Cunene, caso haja um apoio, de facto, das instituições locais de ensino. Para a fonte, a implementação do projecto naquelas províncias, sobretudo no Cunene, evitará que centenas de crianças atrevessem a fronteira para estudarem na vizinha República da Namíbia. “Se as outras delegações estiverem interessadas no projecto, teremos muito gosto em disponibilizar algumas unidades. Temos recursos humanos e experiência, mas não dispomos de recursos financeiros suficientes para cobrir outras províncias”, revelou.
Reconhecimento das capacidades locais
Por seu lado, Vayolela António, coordenadora do Centro Local de Empreendedorismo e Serviços de Emprego (CLESE) da Huíla, sublinhou que a aprovação da implementação das salas de aula móveis, é um sinal do governo local de reconhecimento da competência dos criadores da província, que com muito sacrifício, vêm dando provas de que podem contribuir para a resolução dos problemas que afligem a comunidade. Segundo a interlocutora, o CLESE, órgão adstrito ao Ministério da Administração Pública Trabalho e Segurança Social (MAPTSS), a sua incubadora de empresas possui uma carteira de projectos de jovens criadores que só aguardam por gestos de interesse por parte de órgãos públicos e privados.
Quanto às salas de aula, Vayolela António declarou que, logo que as mesmas forem implementadas, vão proporcionar mais dignidade às crianças da província, que à semelhança das de outras províncias, também assiste o direito de estudarem em ambiente digno. “Acompanhamos a criação deste e de outros projectos que, a serem apoiados por instituições, vão melhorar o nível sócio- económico da província. E nós, CLESE, temos feito tudo para uma boa relação entre os criadores e o Estado, deste modo, evitando que se aposte numa mão-de-obra estrangeira, quando afinal, temos a nacional com as mesmas competências e está mais acessível”, considerou. Sobre o assunto, O PAIS tentou ouvir o director provincial da Educação da Huíla, porém este não se mostrou disponível, tal como o secretariado da instituição alegou.