Dezenas de mulheres que se dedicam à venda ambulante nas Avenidas Cónego Manuel das Neves e Ngola Kiluanje, na conhecida zona do mercado de São paulo, saíram à rua em manifestação, pelo facto de estarem a ser impedidas de comercializarem na rua, num plano de reordenamento do comércio levado a cabo pelo Governo da província de Luanda
Na manhã de ontem, Segunda-feira, 22 de Maio, por volta das 8 horas, o grupo de vendedeiras ambulantes decidiram rumar do mercado do São Paulo ao Palácio da Justiça, em manifestação. A entoação de hinos retrabalhados que passavam a mensagem de cansaço pelas corridas que levam dos fiscais e polícias destacados na zona, que não as deixam vender, marcou o cenário. Em pouco minutos, os vídeos daquelas mulheres batalhadoras que tudo fazem para vender um produto e conseguir algum sustento para a sua família, invadiram as redes sociais.
Foi possível ver mulheres com panelas e tampas, paus e bidões, que pararam o trânsito para reivindicarem o plano que o GPL chama de reordenamento do comércio. Para além disso, esteve também em causa o facto de terem encerrado algumas lojas no perímetro do São Paulo, no período da manhã, onde normalmente as zungueiras compram os produtos para revender. Para o administrador do Distrito Urbano do Sambizanga, Orlando Paka, que por conta da referida manifestação organizou uma conferência de imprensa de emergência, para esclarecimentos, houve sensibilização, desenvolvidas pelo GPL, no âmbito do reordenamento do comércio.
“A Administração do Distrito Urbano do Sambizanga iniciou a sensibilização no mês de Janeiro, com um processo de cadastramento dos vendedores para serem encaminhados aos mercados existentes no município do Cazenga e noutros ao nível da província”, disse. O objectivo é fazer com que as pessoas deixem de vender em lo- cais impróprios. “Não é verdade quando as pessoas dizem que não há lugares nos mercados. Por exemplo, no mercado do São Pau- lo, há 82 lugares disponíveis, para além dos 50 que já foram preenchidos. Temos, também, o mercado do bairro Operário, que breve- mente vai entrar em funcionamento, com 73 lugares”, ressaltou Orlando Paka.
No bairro Operário, que também fica próximo do perímetro do mercado do São Paulo, os moradores têm-se debatido com a venda desordenada, que dificulta a mobilidade de pessoas e automobilistas. Estes constrangimentos foram apresentados pelo coordenador da Comissão de Moradores do bairro Operário, Marcos Manuel, que reafirmou que o trabalho de cadastramento de todas a vendedeiras a céu aberto, para que possam ser enquadradas nos mercados foi feito. Hoje, acrescentou, tem sido difícil estacionar na zona do São Paulo, pois, com a venda em passeios, a mobilidade dos automobilistas e peões torna-se complicada.
GPL diz que reordenamento não vai extinguir a venda ambulante
As acções do Plano de Reordenamento do Comércio têm vindo a ser implementadas nos municípios de Belas, Viana, Cacuaco e Talatona, sendo os ganhos visíveis em to- da a extensão da avenida Fidel de Castro Ruz e arredores, de acordo com um comunicado do Governo da Província de Luanda (GPL), que chegou à redacção do jornal OPAÍS.
Em resposta ao acto realizado pelas zungueiras, na sequência do cronograma, e findo o pro- cesso de sensibilização e cadastramento, os municípios de Luanda e do Cazenga iniciaram, no Domingo, 21 de Maio, a implementação do plano aprovado ao longo das avenidas Cónego Manuel das Neves e Ngola Kiluanje, bem como das ruas Rei Mandume e da Gajajeira, nos distritos urbanos do Sambizanga e do Rangel. Deste modo, ontem, surpreendentemente, constatou-se o movimento de um grupo de pessoas no município de Luanda, entoando cânticos e proferindo palavras de ordem.
“Importa referir que o Plano de Reordenamento do Comércio não pretende extinguir a venda ambulante, uma vez que essa actividade é legal, consagrada na Lei 1/07, de 14 de Maio, Lei das Actividades Comerciais. Entretanto, o plano tem como objectivo organizar a actividade comercial ao nível da província de Luanda, sobretudo, em zonas residenciais”, lê-se no documento. O GPL apela aos comerciantes, e ao público em geral, à compreensão, colaboração e obediência às orientações da fiscalização presente no local, passados seis meses desde a aprovação da Estratégia para Mitigação da Venda Desordenada (EMVD), que estabeleceu para o 1.º trimestre de 2023, como prioridade, a operacionalização do Eixo de Informação e Educação.