Os líderes religiosos sugeriram, Terça-feira, em Luanda, ao Executivo a criação de políticas assertivas para coibir o surgimento desenfreado de seitas religiosas. Em Angola, existem 85 igrejas reconhecidas, enquanto 97 remeteram o processo de reconhecimento, dos quais 75 foram rejeitadas
Os religiosos expressaram o facto durante o encontro de auscultação com a secretária do Presidente da República para os Assuntos Sociais, Fátima Viegas, que serviu para analisar a problemática da proliferação de igrejas ilegais no país, bem como a parceria entre o Estado e a Igreja. A profetiza Suzete João defende que a proliferação de igrejas ilegais deve ser encarada com muita seriedade, pois estão a surgir no país situações anómalas que nunca fizeram parte da cultura, hábitos, costumes do ser e estar dos angolanos.
De acordo com a líder religiosa, para mitigar urge a necessidade de se criar políticas, formas e mecanismos de travar o crescimento desse fenómeno. “Apesar de ser leigo, o Estado não deve se coibir em criar políticas, propor e tomar medidas necessárias para pôr termo a esta situação, que tem vindo a perturbar a ordem, paz e tranquilidade de muitos angolanos”, reforçou. Suzete João propõe, segundo a Angop, que sejam encerradas as seitas que “grosseira e permanentemente violam as leis e hábitos do país, como, por exemplo, acusando adultos e idosos de práticas de feitiçaria”.
Propôs ainda o controlo rigoroso das fronteiras terrestres, pois entende que, é por essa via, entram cidadãos apontados como incentivadores das piores práticas, bem como o aprofundamento de estudos da investigação científica sobre as confissões religiosas e prosseguir o trabalho de cadastramento, mapeamento, a partir das administrações municipais e comunais, distinguindo os que não preservam os valores morais, cívicos e sociais. Por seu turno, o Bispo da Diocese de Caxito, Dom Maurício Camuto, disse que a igreja é um parceiro essencial do Estado e, por conseguinte, essa parceria deverá ser mais intensa, sobretudo na criação de mecanismos para reeducação de crianças em conflito com a lei.
As responsabilidades do Governo
O presidente do Fórum Cristão Angolano, Luís Nguimbe, apelou o Governo a assumir as suas responsabilidades e tomar medidas contra todos que se valem da religião para inverter a ordem social e desestruturar as famílias. Disse que “a infiltração de igrejas, muitas delas mercenárias, o custo de vida, a delinquência, a situação de saúde, êxodo rural” deve ser um motivo permanente de concertação entre o Governo e a igreja.
Já o líder da igreja do Sétimo Dia, Mateus Vinte, entende que mesmo as igrejas legalizadas devem ser fiscalizadas periodicamente, pois muitas não cumprem para os fins para as quais foram instituídas. No seu entender, “quem não fiscaliza é surpreendido com esses fenómenos que desestabilizam a boa convivência e causam instabilidade social. Portanto, deve-se fazer sentir a autoridade do Estado face às igrejas que desvirtuam e atentam contra o bem-estar social”.
Para o director do Instituto Nacional Assuntos Religiosos (INAR), Adilson de Almeida, a reunião teve como finalidade auscultar as lideranças das igrejas reconhecidas para se encontrar estratégias de controlo, fiscalização e reorganização da actividade religiosa em Angola, com base em normas estabelecidas por lei.
Disse que com a criação da Lei 12/19, o reconhecimento de algumas igrejas e o controlo da situação permitiu reduzir o índice de seitas ilegais, mas a ideia é continuar a estudar o fenómeno para tomada de melhores decisões. A secretária do Presidente da República para os Assuntos Sociais, Fátima de Veigas, disse que vai canalizar o memorando com as contribuições e recomendações saídas do encontro ao Titular do Poder Executivo.