Numa altura em que se celebra o Dia Mundia da Rádio, a 13 de Fevereiro, os jornalistas das emissoras clamam por segurança e apoio durante as suas actividades.
POR: Alberto Bambi
Enquanto uma boa parte de ouvintes que se assumem como assíduos exige que o produto final das rádios saia com mais qualidade, os profissionais da classe reclamam por falta de consideração adequada a si e aos seus serviços. Embora não entrem em pormenores, a reclamação torna-se mais argumentada quando os mesmos comparam a atenção que se presta aos seus congéneres da televisão em detrimento dos radialistas que, segundo eles, possuem uma presença mais efectiva, no que diz respeito aos programas e à produção. “Primeiramente, deve-se apostar na valorização dos quadros, porque, de algum tempo a esta parte, vejo que a rádio é como enteada na comunicação social, dá-se mais valor à televisão”, protestou Edgar Varela, sonoplasta da Rádio Nacional de Angola (RNA).
Objectando, referiu que o profissional de uma cadeia radiofónica faz muitos sacrifícios, exemplificando o seu caso e salientou que, diariamente, entra às quatro da manhã e saí às três da tarde. Acrescentando que há dias em que a sua jornada só termina às 22 horas. “Não se deve entender a minha reclamação apenas no capítulo financeiro, mas sim enquadrá-la também no contexto da formação, visto que há muita gente no jornalismo que lhes basta fazer um curso profissional para se intitularem jornalistas”, disse. Edgar Varela entrou na rádio por intermédio de um concurso público, em 2004, sendo que, quando o fez era para ser locutor, mas a formação que fez, com instrutores brasileiros, não permitiu que fosse admitido. Depois, houve a necessidade de a rádio recrutar pessoal para técnico de som. E foi aí que conseguiu entrar. De lá para cá, já esteve a trabalhar na Rádio Viana, onde exerceu as funções de repórter desportivo durante três anos. “Ao regressar, fui para a categoria de repórter-técnico de reportagem. A vida não tem sido muito fácil, pois acordo às 03h:30, para sair às quatro, porque sou responsável do programa Manhã Informativa, que vai ao ar das seis às 9h e, posteriormente, o jornal das 13, no qual sou o principal operador de som”, contou o sonoplasta.
Aos 33 anos de idade, 14 dos quais dedicados inteiramente à RNA, o jovem Edgar Varela considera- se como de menoridade para tanta experiência que acumulou. Neste capítulo, cita as experiências que vem ganhando da colega da Rádio Ecclésia Vanda de Carvalho e de outros da sua especialidade. “Os aparelhos agora são mais sofisticados, quando eu entrei ainda encontrei a Zuel, as Nagras, máquinas de reportagem que pesavam mais de 10 quilos”, disse, acrescentando que “a pessoa saía daqui para o sítio da reportagem e voltava de lá com os ombros doridos”. Quanto às pessoas que o marcaram, na fase da entrada, disse: “Encontrei alguns funcionários séniores que já não estão cá, uns morreram e outros estão reformados. Mas, aprendi muito com eles”. Varela propôs que seria bom voltar à política dos tempos idos em que havia formação contínua, normalmente levada a cabo por entidades do sector com experiência reconhecida, um grupo que não descurava a presença de alguns técnicos portugueses e brasileiros.
Apoio condiciona desporto na Despertar Apesar de ter alegado que as inquietações dos ouvintes segu8ndo as quais a Rádio Despertar faz pouca abordagem desportiva, Jorge Manuel, repórter da referida instituição de comunicação social, que se localiza em Viana, Luanda, declarou que, pelo facto de se tratar de uma estação comercial e não ter outros apoios, havia poucas estratégias para se relatar um jogo de futebol. “Por exemplo, o Ministério da Comunicação Social tem estado a apoiar algumas rádios, inclusivelmente certas que surgiram muito depois da Despertar e a pergunta que fazemos é se este órgão não tem obrigação social para nos prestar as mesmas benesses”, questionou Jorge Manuel, tendo adiantado que a sua empresa arrecadava recursos por outras vias.
Reconhecendo que a RD estava atenta à conquista da afeição de ouvintes e profissionais, por parte da concorrente MFM, Jorge Manuel acredita que a sua rádio não tem concorrência quanto ao atendimento ao público. Por isso, coloca-a entre as primeiras três no que diz respeito à preferência dos ouvintes, num trinómio maior audiêncisa em que deixa de parte a MFM, dando lugar à Ecclesia e à RNA, mas por via da Rádio Cinco, segundo assegurou o entrevistado. Quando ingressou, pela primeira vez na RD, a rádio acabava de entrar no mercado e não foi admitido. Três meses depois, ouviu que a Rádio tinha aberto um espaço para novos talentos, por via de um programa cultural denominado «Ecos do Cinema e Teatro ». Surgiu inicialmente como como poeta. Segundo ele, o instrutor notou que tinha algum potencial e sugeriu que fosse correspondente da emissora privada em Caxito, no Bengo. “Infelizmente, logo depois, o programa foi extinto e fiquei com o sonho. Algum tempo mais tarde surge o programa Cultura na Ribalta”, relatou Jorge Manuel, acrescentando que posteriormente lhe foi confiada a presença no noticiário central das 12 horas, para si o espaço mais ouvido na Capital.
MFM por uma sociedade mais participativa
Ernesto Samaria, jornalista da Rádio MFM, disse ter plena certeza de que a sua emissora contribui essencialmente para a pluralidade de opiniões, sendo um instrumento necessário para a construção de uma sociedade civil mais participativa. Ainda no seu entender, a comemoração do Dia Mundial da Rádio, a assinalar-se amanhã, deve servir de reflexão para a qualidade do jornalismo que é feito actualmente.
Ouvintes ditam preferências
Através de uma ronda efectuada pela reportagem deste jornal nos municípios de Belas, Talatona, Viana e Cazenga, além de Kilamba Kiaxi e Luanda, pudemos constatar que a maior parte dos ouvintes diz escutar a Rádio Cinco, entrando, automaticamente, em contacto com o noticiário central da Rádio Nacional de Angola, entre às 13 e às 14 horas, altura em que, com o começo do Girabola e outras competições internacionais de Futebol, os populares ouvem o programa Tarde Desportiva. O destaque recaí para os seguranças e alguns mais velhos com mais de 50 anos, os quais foram mesmo flagrados com o rádio colado à orelha. É o caso de Sebastião Mucaza, de 62 anos de idade, encontrado próximo do mercado Vila Flor, no Cazenga, a escutar o noticiário das 13 da RNA. “Meu filho esta é a minha radio preferida no noticiário, sempre foi, mas eu escuto mais coisas sobre desporto”, disse o velho que se apresentou como adepto do 1ª de Agosto.
Quem tem a mesma visão é o segurança de um armazém da Estalagem, em Viana, Alfredo Manico, que acabava de trocar a banda da Rádio Nacional para a Cinco, porque se apressava a ouvir os comentários do jogo do Petro de Luanda, segundo assegurou a O PAÍS, ao mesmo tempo que apontava a Rádio Despertar e a Ecclésia como as também ouvidas por si. Curiosamente, no bairro Palanca, Kilamba Kiaxi, a senhora Abigael, de origem congolesa, é que foi apanhada com o rádio aos ouvidos e escutava a Rádio Eclésia, a qual apresentou como preferência.
A Rádio NGola Yetu vem a seguir, na sua curta lista, onde fez constar alguns programas matutinos da Rádio Luanda.”Gosto de ouvir o Paulo Miranda Júnior”, desafogou. Na Avenida Fidel Castro, também conhecida por «Autoestrada », foi possível abordar Matias Makaya e Augusto Miguel, respectivamente dos municípios de Belas e Talatona. Ambos coincidiram na preferência pela Rádio Despertar e MFM, contudo o último não deixou de lembrar os tempos em que foi fiel à RNA. “Agora já estou a voltar a sintonizar um pouco a Rádio Nacional”, frisou Esta última emissora citada, a Ecclésia, MFM, Cinco e Despertar foram as mais invocadas pelos cidadãos abordados por O PAÍS, sendo que nas outras rádios faziam menção sobre um ou outro programa.