Atendo-se a um despacho presidencial que, há algum tempo, criou uma comissão que integrou os ministérios da Cultura (MINCULT), da Justiça e Direitos Humanos (MINJUD), Acção Social, Família e Promoção da Mulher (MASFAMU) e do Interior (MININT), o psicólogo Carlinho Zassala questiona a apresentação dos resultados produzidos
Carlinho Zasssala fez ainda alusão a um outro trabalho que o Instituto Nacional para os Assuntos Religiosos (INAR) levou a cabo em relação à confissão religiosa que ele denomina por IMUT, cujos resulta- dos até à data não se conhecem, apesar de o processo ter sido encaminhado à Procuradoria-Geral da República.
Aliás, o referido processo é do seu domínio pelo facto de a parte queixosa ser de pessoas que o mantinham informado do andamento, além de, segundo ele, o mesmo não constituir a única queixa contra essa confissão religiosa.
A maneira como seguem os pro- cessamentos colocam o psicólogo muito céptico sobre a liberdade da justiça em Angola, conforme fez questão de referir, afirmando que não existe total liberdade no tratamento dos processos.
“A Polícia e os tribunais têm conhecimento, só que, em Angola, a justiça não funciona como devia ser, senão muitos pastores já deviam estar na cadeia”, lamentou o académico, para quem alguns desses líderes religiosos se gabam do facto de serem militares oficiais superiores, na reserva, enquanto outros se apegam ao facto de pertencerem à certa força partidária.
Por sua conta, o também bastonário da Ordem dos Psicólogos, Carlinho Zassala, assegurou já ter denunciado alguns pastores que possuem residências para facilitar os cárceres, propiciando, desse modo, o abuso e violação de menores, que, normalmente, são obrigadas a ficar com as mães em cativeiro de líderes religioso.
O psicólogo exorta as autoridades angolanas a não ignorarem o grito das famílias sobre a tendência de cárcere e abusos de menores, por ser um fenómeno que, actualmente, ocorre em algumas igrejas de forma clandestina.
Questionado se a voluntariedade na adesão dos fiéis a essas denominações não iliba os pastores de tais acusações, Carlinho Zassala esclareceu que, quando se viola um direito da pessoa humana, se está perante um crime. Por outra, denunciou que muitos pastores usam forças ocultas de seus colaboradores, proveniente da República Democrática do Congo (RDC), dos Camarões, da Nigéria e do Brasil, que possuem poderes fora do normal para hipnotizar os fiéis, de modo a submeterem-se a seus caprichos.
Para sustentar essas alegações, o psicólogo recorreu a um episódio ocorrido no ano passado, que dava conta da entrega voluntária de todos os bens, por parte de um devoto da Igreja Universal do Rei- no de Deus (IURD), que depois ficou ao relento e a pedir a intervenção das autoridades angolanas. “É para ver que, em condições normais, ele e a sua família não entregariam todos seus haveres de mão beijada, como se diz na gíria”, frisou Carlinho Zassala, asseverando que a mente desse senhor foi trabalhada antes, para que ele não resistisse aos desejos de seus pastores.
Violações com trauma para sempre
Sobre as consequências dos abusos perpetrados por alguns líderes religiosos a menores, sob qualquer alegação, Carlinho Zassala começou por fazer referência aos Dez Mandamentos da Bíblia Sagrada, que “considera pecado a invocação do nome de Deus em vão”, para depois dizer que os traumas resultantes desses actos duram para toda a vida. “A menina vai sentir isso, quando se comprometer a casar, durante a convivência no lar, porque as terapias serão apenas para minimizar partes da situação, já que ela será autónoma em recordar ou não do que lhe aconteceu no passado”, observou o académico.
Por causa disso, recomendou às pessoas que tenham consciência de que, quando se destrói uma família, destroi-se uma sociedade e, normalmente, a sociedade vindoura.“Finalmente, aconselho as instâncias superiores do país a envidarem esforços para julgarem esses e outros casos religiosos com a maior justiça possível, de modo a evitar-se que, no capítulo religioso, Angola seja ‘um corpo inerte, onde qualquer abutre vem debicar o seu pedaço’, como fez questão de referir o saudoso Presidente Agostinho Neto”, parafraseou o acadêmico.
Violações com trauma para sempre