Apesar de seguir e orientar mais crianças com autismo, num centro de acolhimento de Luanda, a especialista recomenda aos pais de infanto-juvenis dessa classe a buscarem apoio nesse sentido
A psicóloga clinica, Iracelma Zoe, advoga a necessidade urgente de se instruir as crianças com necessidades especiais sobre a sexualidade, pelo facto de muitas delas terem dificuldades de receber informações em formatos normais e de se comunicar ao mesmo nível verbal.
“Para isso, os pais devem procurar ajuda psicológica e engajarem- se a ter uma equipa multi-disciplinar para seus filhos, de modo que esta possa lidar com essa franja, já que a mesma se encontra numa fase em que não possui um desenvolvimento que lhe permite, de forma directa, ir buscar apoio”, explicou.
Segundo a psicóloga, o referido exercício requer, por parte dos encarregados, vontade de investigar, de maneira que tenham capacidade para mostrar e demonstrar, ao invés de falarem só, como é que as crianças se devem posicionar diante de um grupo de amigos.
A medida deve atribuir às crianças com necessidades especiais critérios de defesa, perante alguém que abuse delas ou demonstre tentativas de assédio.
“É muito importante que os pais passem isso aos seus filhos, mas de uma forma muito amigável, porque esses infanto-juvenis exigem muito afecto. E, quando eles recebem esse carinho, conseguem compreender aquilo que lhes é passado sobre educação sexual”, detalhou Iracelma Zoe, para quem o pacote da educação sexual é muito complexo.
Esclareceu que não se refere apenas à penetração sexual, mas em saber como que se deve posicionar um filho diante de um amigo, qual é a postura e a conversa que se deve tomar, bem como ter instrução moral e cívica.
Como especialista, especificou que, na equipa multi-disciplinar, deve constar, pelo menos, um neurologista, um fisioterapeuta e um especialista em terapia da fala, sendo que, consoante a dificuldade que a criança for apresentando, se decide qual é a ajuda de que o infanto-juvenil precisa primeiro.
A experiência de trabalho de Iracelma Zoe permitiu-lhe concluir que os pais ainda não têm essa atenção, principalmente com as crianças autistas, alvos diários das suas jornadas.
“A maioria dos pais, cujas crianças estão sob meu cuidado, tanto no centro de acolhimento da APEGADA-Angola, co mo fora dessa instituição, não tem essa orientação”, frisou.
Prova disso é que as crianças que atende se mostram mais confortáveis quando estão com ela do que com a família em casa, um quadro que a psicóloga clínica quer ver revertido, por ser no seio familiar onde os infantis passam a maior parte do tempo.
“De casa, essas crianças trazem- nos um testemunho das frustrações e dificuldades que os pais vivem, além de, algumas vezes, elas serem apontadas como causa do insucesso dos progenitores, o que os revolta, apesar de a manifestação deles ser silenciosa”, invocou.
Outra preocupação manifestada pela psicóloga tem a ver com o facto de os rapazes com necessidades especiais viverem em apartamentos fechados, quando eles precisam de estar uma boa parte de tempo em espaços abertos, para que se possam libertar-se e libertar as suas emoções e razões, por serem crianças muito energéticas.
“Quando essas crianças estão num sítio muito fechado, as suas energias internas se multiplicam e isso as deixa mal, porque não vêem formas de descarregar todas suas interactividades”, frisou a especialista, mostrando-se preocupada com o desconhecimento dos pais e encarregados de educação quanto a este respeito.
Preocupantes aprisionamentos domiciliares
O aprisionamento domiciliar de crianças com necessidades especiais é outro pormenor que mereceu a atenção de Iracelma Zoe.
“Quando os pais vêm para a anamneses, revelam que, por não saberem exactamente como cuidar dessas crianças, fechavam-nas num quarto e, às vezes, as amarravam, para não fazerem muita confusão”, revelou a psicóloga clínica, tendo adiantado que o que os pais encaram como solução é parte do problema.
Finalmente, a entrevistada recomendou aos especialistas da sua classe e a outros cujo apoio se precisa para atenderem as crianças com necessidades especiais como uma missão filantrópica, já que a maioria dos progenitores desses miúdos são de renda baixa.