Muitos dos cidadãos acometidos com patologias de várias ordens que resultam na inflamação da perna apenas procuram os serviços de saúde depois de já terem perdido muito tempo no tratamento tradicional, acreditando ser “tala”, segundo o director pedagógico do hospital Walter Strangway, José Vasco Cawaia
O médico-cirurgião e director pedagógico do hospital Walter Strangway, na província do Bié, José Cawaia, explicou que a patologia popularmente conhecida por “Tala” é usada para descrever uma série de lesões diversas que, na sua maioria, a população não encontra explicação. Não tendo explicação para tal, atribuem o nome de “Tala” e associam a patologia às origens obscuras, ou seja, de origem sobrenatural (feiticismo). Como médico de medicina convencional, nunca fez um diagnóstico de Tala, porém, os doentes que chegam àquela unida- de hospitalar queixando-se disso.
“Neste momento estamos com um doente internado, que foi diagnosticado com disfonia. Os familiares dizem que é Tala e foi posto na cadeira do serviço. Assim como a úlcera vascular, o pé diabético, entre outros, também concluem que seja tala”, alistou. Quando aparece um doente e diz que tem Tala, a unidade sanitária faz o diagnóstico para aferir o que realmente o paciente padece e, de seguida, é submetido ao tratamento.
Segundo o médico de cirurgia geral, muitos destes pacientes chegam em estado muito avançado da doença, isto porque perdem tempo demais a fazer tratamento tradicional. O doente que está neste momento internado no hospital Walter Strangway, que chegou em choque séptico, desidratado, anémico, teve de ir duas vezes ao bloco opera- tório, para fazer curativo cirúrgico. Apesar de actualmente apresentar uma evolução boa, chegou em estado muito crítico.
Por mês são amputadas três pernas
Quanto ao número de pacientes que chegam à unidade hospitalar com essas patologias que os parentes designam por tala, em média são registados três a dois casos de pé diabético e outras patologias por semana. “Por conta do estado avançado da patologia, alguns estão a ser amputado a perna”, acrescentou. Por mês, a unidade sanitária chega a amputar a perna de três pacientes, com idades que vão dos 45 anos em diante.
O especialista em cirurgia geral contou que actualmente o hospital Walter Strangway está a receber muitos doentes que chegam com diagnóstico de Tala (segundo os parentes), isto por se tratar da única instituição de saúde a nível da província do Bié que tem os serviços de cirurgias. Uns conseguem chegar, outros acabam por morrer na comunidade.
Por outro lado, por trás da patologia tem sempre um acusado que é agredido, as famílias ficam quase sempre em conflitos, e vezes há em que, para além do doente, levam também o acusado ao hospital para acompanhar o doente e rezar para que este não morra. Se morrer, o suposto causador sofre retaliação.
O entrevistado conta que em Dezembro último, recebeu um paciente do sexo masculino, de 49 anos de idade, que estava em fase terminal, com uma úlcera gástrica que evoluiu muito rápido e a família deduziu que se trata de “tala”. Depois de chegarem ao hospital, passaram apenas 15 minutos, no banco de urgência, acabou por morrer.
O malogrado tinha no corpo alguns cortes, feitos com lâmina, onde terão colocado algumas ervas nas feridas, na tentativa de o salvarem, mas acabaram infectando-as, o que veio a piorar o seu quadro clínico. A nível do hospital, a equipa médica procura sempre explicar aos utentes, para que tenham em atenção as patologias que surgem, e não percam tempo em troca de acusações, dirijam-se a uma unidade.
Gira África desenvolveu uma fórmula para curar “tala”
O médico naturopata das Organizações gira África, Gilberto Cumandandi, disse que, quando a sua associação se apercebeu da existência da Tala ou mina tradicional, como é também designada, muitas famílias, não apenas na província de Luanda, procuraram por respostas nesta instituição. Assim sendo, fizeram uma investigação nas plantas angolanas e criaram uma fórmula que a denominaram de “fórmula 8”, para a cura da “mina tradicional”.
Desde a data em que começou a ser utilizada, isto em 2022, a fórmula já permitiu tratar perto de 60 pacientes. Segundo o doutor Gilberto, os doentes que procuram os seus serviços na fase inicial, normalmente ficam um mês em tratamento, depois ficam curados. “Os que ainda procuram outros curandeiros e só depois chegam à nossa instituição, o tratamento é mais longo”, disse.
A fórmula tem em pomada para desinflamar a parte inflamada e em óleo para massagear, os que chegam com a patologia já avançada, muitos com ferida que não cura a mais de 10 anos, o esforço é maior. As idades dos doentes que procuram os seus serviços variam entre 38 e 60 anos de idade.
“O problema da mina tradicional surge por conta de várias desavenças, no local de trabalho ou na família, a falta de amor e a inveja também contribuem para que o colega, amigo ou mesmo o parente coloque a tala no outro”, sustenta. O último caso de tala tratado nesta ervanária foi no mês de Outubro de 2023. O paciente se queixava de muita quentura no pé, inflamação excessiva que o impedia de se manter em pé ou se locomover.