O Comando Provincial da Policia Nacional na Huíla criou um programa de policiamento de proximidade, denominado “Policia do Bairro”, que tem devolvido o sentido de segurança aos cidadãos desta urbe. A Huíla é a primeira, em todo o país, a executar o referido programa, que visa garantir uma maior e eficaz segurança aos cidadãos e seus bens
A promoção da participação dos cidadãos nos processos de identificação e resolução dos problemas de segurança, a melhoria para o conhecimento da Polícia sobre as preocupações, problemas e necessidades de segurança das comunidades, as- sim como a criação de parcerias e participação comunitária nas questões de segurança pública são alguns dos objectivos do referido programa.
Implementado desde o mês de Agosto do ano passado, apenas no município do Lubango, o programa, denominado “para a comunidade, com a comunidade e pela comunidade”, tem a pessoa e seus bens como elementos prioritários na actuação do mesmo, onde a maior atenção recai para as crianças, mulheres e idosos. Para a sua execução, em todos os 22 bairros que compõem o município, o Comando do Lubango mobilizou um total de 132 efectivos da Polícia Nacional, reparti- dos em 44 sectores, três agentes para cada sector, que diariamente percorrem os bairros comunas da capital da província.
O comandante Municipal, Fernando Hamuyela, disse, em entrevista exclusiva a OPAÍS, que os resultados deste programa são visíveis olhando para os níveis de criminalidade que se regista na província. “Tudo só tem sido possível com a participação da comunidade, disse. “Em função da agenda de visitas traçadas, cada sector que acompanha um determinado bairro entra em contacto com os chefes de família ou responsáveis de instituições públicas e priva- das. E das informações recolhidas apresentam um relatório. Os problemas que forem identifica- dos nos sectores vão dar origem à operações policiais, ou seja, a Policia vai identificar problemas junto com a comunidade para de- pois traçar as medidas de actuação” disse.
Por outro lado, Fernando Hamuyela informou que, com a criação do Programa Polícia do Bairro, as comunidades, através dos seus líderes, passaram a participar das reuniões operativas da Polícia Nacional, já que são elas que possuem maior informação sobre a situação de segurança de cada bairro. “Diferentemente do que se fazia antigamente, em que a Polícia sentava-se à mesma mesa com os seus membros para analisar um problema de segurança, sem ter pelo menos um membro da comunidade para juntos traçarem soluções, este programa “Polícia do Bairro” permite encontros comunitários”, detalhou.
Confiança do cidadão ao Polícia começa a subir
Nos últimos tempos, a relação entre o cidadão e a Polícia não tem sido das melhores, várias vezes as viaturas policiais têm sido alvo de vandalismo perpetrado por pessoas insatisfeitas com a actuação dos efectivos da Polícia Nacional. Na província da Huíla, o último caso de motim envolvendo cidadãos nacionais contra a PN ocorreu no município da Matala, concretamente na localidade do Mikosse, tendo como saldo a morte de um agente da ordem e o ferimento de outros tantos civis. O comandante municipal do Lubango disse que esta intolerância contra os efectivos deste órgão do Ministério do Interior tem uma razão de ser, lógica e científica. Porém, esta realidade, segundo disse, está a ser invertida por causa da criação do Polícia do Bairro.
Números de crimes tendem a diminuir com a “Polícia do Bairro”
Com a criação do Programa Polícia do Bairro, os números têm vindo a descer desde 2022, se comparados com os de 2021, segundo o Comandante Provincial da Huíla, Comissário Divaldo Martins. O Comissário Divaldo Martins informou que houve uma ligeira redução no índice de crimes de diversa natureza, com destaque para os roubos, furtos, violações e abuso sexuais, que maioritariamente tem como principais vítimas crianças menores de 15 anos de idade. Assim, em 2022, o Comando Provincial da Polícia Nacional na Huíla registou a ocorrência de 4853 crimes de natureza diversa, distribuídos em roubos (com 1184 casos), furtos com 1924 e homicídios com 140 casos; contra os 6743 crimes ocorridos no ano de 2021, com roubos (1589 casos), 2849 furtos e 190 homicídios.
Ainda assim, registou-se um ligeiro acréscimo no número de casos de violação e abuso sexual, sendo que em 2021 foram registados em toda a província da Huíla 120 casos, ao passo que no ano passado ocorreram cerca de 239 casos. No cômputo geral, a redução de criminalidade na província da Huíla, onde a maior percentagem recai para o município do Lubango, é de 28 por cento, comparado ao ano de 2021, segundo dados do Comando Provincial. “Estes números são positivos, mas é preciso que eles impactem directamente na vida do cidadão, para que possa desenvolver as suas actividades sem medo de ser assaltado como ainda acontece”, disse.
Para o comandante provincial, a redução dos crimes tem a ver com vários factores, como o trabalho intensivo que foi feito que resultou na detenção de vários cidadãos como presumíveis autores, ou seja, quanto mais delinquentes forem detidos, menos crimes ocorrerão; mas também houve aqui uma participação muito activa do cidadão com base na estratégia de Policiamento de Proximidade, no âmbito do Programa Polícia do Bairro. “Conseguimos obter melhor informação sobre aquilo que de facto se passa na comunidade e sobre quem são os potenciais autores de crimes e isso permitiu uma acção mais eficaz em relação à prevenção do crime e a detenção dos seus autores”, revelou.
Mais de 30 mulheres polícias asseguram o programa
Para a execução efectiva do Programa Polícia do Bairro, o Comando Municipal do Lubango mobilizou um total de 132 efectivos da Policia Nacional, dos quais 33 são do sexo feminino. Alzira Intya e Odeth Tchipembe, primeira e terceira subchefes fazem parte do grupo de 33 mulheres que todos os dias andam com bloco de notas, caneta e um rádio de comunicação e numa motorizada nos diferentes bairros da cidade do Lubango para interagir com os habitantes cidade e colher informações.
A primeira subchefe Alzira Intya é chefe de sector do Bairro Comercial e atende as zonas urbana e suburbana do mesmo bairro. Quando entra nos bairros ignora aqueles que apontam supostas fragilidades às mulheres, pilotando a sua motorizada F280. Conta que já teve maus momentos, mas que foram superados com o carinho das famílias que colaboram com o trabalho.
“Já nos bateram a porta na cara numa família na zona suburbana do Bairro Comercial, que aparentemente tinha conflitos com a Polícia e não entendia a nossa missão na sua residência. Mas isso depois foi ultrapassado no mesmo bairro”, lembrou. Já Odeth Tchimpembe, terceira subchefe, é igualmente chefe de sector no bairro Joaquim Kapango. Explica que, para que o seu trabalho corra sem sobressaltos, muitas vezes precisou impor-se daqueles que menosprezavam pelo facto de ser mulher.
Lubanguenses com opiniões divididas
O assunto levantado pelas autoridades policiais sobre o sentimento de segurança e da recuperação da confiança dos cidadãos para com a Polícia Nacional, com a criação do Pro- grama Polícia do Bairro, divide as opiniões dos lubanguenses, sobretudo das zonas periféricas. António Filipe, coordenador do bairro com o mesmo nome na zona suburbana, disse que nalgumas zonas do seu bairro houve uma certa redução de crimes, desde que começaram a receber as visitas dos integrantes do programa Polícia do Bairro.
Acredita na existência ainda de algumas áreas do mesmo bairro que inspiram uma certa atenção, porque os pais e encarregados de educação não colaboram com a Polícia e não denunciam os filhos que são delinquentes. “Este programa foi bem pensa- do, porque o nosso bairro já foi o mais perigoso da cidade do Lubango, mas ainda assim tem aquelas áreas em que os miúdos continuam a fuma liamba, praticam assaltos e envolvem- se em rixas”, disse. Por sua vez Rosa Javela, moradora do bairro Nambambe, tido como um dos mais populosos e perigosos da cidade do Lubango, disse que nunca ouviu nada sobre a existência deste pro- grama e que, no seu bairro, os moradores são obrigados a recolherem-se a partir das 18 horas.
“Eu nunca ouvi e nem recebi um polícia na minha casa, vivo na Zona D1, do bairro Nambambe, e lá até às 12 horas vê-se pessoas a serem assalta- das e jovens em rixas, batem em todos e levam tudo o que encontram ”, denunciou. Já Alcides Neto, estudante da 11ª classe, disse que o Programa Polícia de Bairro deveria ser mais efectivo, já que actua apenas em algum período para acudir as situações que acontecem na sua escola. Justino Abias, motoqueiro na zona A do Bairro Nambambe, disse que é preciso que o Pro- grama Polícia de Bairro deveria seja implementado no período nocturno, porque o seu bairro é o mais crítico.
Por outro lado, a nossa fonte revelou que quando os efectivos do programa são chamados para intervir em casos de extorsão supostamente praticada por agentes da Polícia, estes não aparecem e se o fizerem ficam sem acção. “Estamos felizes com estes polícias, porque nos ajudam a resolver os nossos problemas no bairro, como briga com os vizinhos ou mesmo membros da mesma família, mas quanto à nossa actividade, muitas vezes aparecem aqui os Pin e Puk com a sua motorizadas, nós chamamos pelo policia de bairro, mas este não aparece e, se aparecer, não faz nada”, disse.