Dois cidadãos, em Benguela, no bairro da Caponte, morreram, no último final-de-semana, após serem submetidos a torturas e lhes ter sido ateado fogo, na residência de uma cidadã, de 49 anos de idade, patroa dos mesmos, por supostamente terem roubado materiais de construção.
Rezam os factos que, de um tempo para cá, a senhora de 49 anos de idade, volta-e-meia, dava com o desaparecimento de materiais de construção na sua obra, tendo, por isso, chegado à conclusão que os seus trabalhadores andariam a furtar.
Desta feita, engendrou um plano para o qual contou com a ajuda do esposo. A suposta agressora atraiu os jovens para a sua casa e, com auxílio de outros cidadãos, amarrou-os e partiu para a tortura, antes de os queimar.
Dias antes, conforme apurou este jornal junto de familiares, António Laurindo Ngando, de 24 anos, e Emílio Simão, de 27 anos, as duas vítimas, tinham se deslocado à obra da suposta agressora, no bairro da Fronteira, para a actividade habitual de pedreira. Entretanto, postos lá, foram informados de que não havia material para o trabalho.
No caminho de regresso a casa, são surpreendidos com a ligação da senhora que pedia, encarecidamente, que fossem ter à sua residência, na Caponte, onde ela teria toda armadilha montada para as vítimas.
Convencidos de que se trataria de uma de tantas ligações da patroa, puseram-se rapidamente a caminho para atender àquela chamada.
Postos no local, foram amarrados, chicoteados por cidadãos que se achavam em casa da senhora, embora os familiares não tenham conseguido precisar o número de agressores. “Eu ainda perguntei, ele mexeu o quê? Ela não falou nada.
E, depois, perguntou: “você notou aqui nenhum movimento estranho?” Eu disse “não, porque o Simão nunca roubou”.
E quando ela disse que se eu lhes encontrasse iria lhe queimar com gasolina”, explica Fernanda Jamba, irmã de Emílio Simão.
Fernanda sustenta ainda que a família está apreensiva com o facto de a alegada autora do crime estar à solta e, por isso, manifesta-se revoltada.
Casa vandalizada pelos familiares das vítimas
“O meu irmão não é gatuno. Nós só queremos mesmo que a senhora seja presa, porque o nosso irmão era muito trabalhador.
Porquê que a senhora não foi buscar notificação para lhes dar?”, questionou-se Isabel Njepele, irmã de António, que perdeu a vida no Domingo, depois de socorrido para o Hospital Geral de Benguela.
Ela conta que depois de eles terem sido queimados, a senhora os terá levado ao Hospital e dito à equipa médica em serviço que eles não tinham família.
Na manhã de Segunda-feira, 18, a casa da senhora foi vandalizada por familiares e amigos das vítimas, na ânsia de fazerem também justiça por mãos próprias.
A Polícia Nacional repudia a justiça por mãos próprias, supostamente praticada pela cidadã em causa, mas esclarece que, contrariamente ao que se tem vindo a veicular, a senhora já está sob custódia das autoridades, na perspectiva de responder pela acção criminosa a si imputada.
O porta-voz da delegação do MININT, superintendentechefe Pinto Caimbambo, explicou que a senhora, de 49 anos de idade, desconfiava que os trabalhadores andariam a subtrair bens na obra em que eles trabalhavam como pedreiros.
Entretanto, sustenta Pinto Caimbambo, em vez de notificar as autoridades sobre as ocorrências, ela decidiu partir para justiça por mãos próprias, tendo torturado e, de seguida, “ateado fogo” aos corpos dos jovens, com recurso à gasolina.
“A lei é clara, o único órgão que deve prender são os órgãos policiais. Ela andava desconfiada de que os jovens andavam a subtrair bens dela”, refere.
Por: Constantino Eduardo, em Benguela