Encontro entre o Governo Provincial de Luanda (GPL) e o Sindicato dos Enfermeiros não produziu efeitos palpáveis, enquanto os cidadãos enfrentam sérias dificuldades no acesso às consultas derivadas da fraca oferta de médicos que se verifica.
POR: Domingos Bento
Os enfermeiros de Luanda mantêm-se firmes na sua decisão de suspender o atendimento a consultas e outras actividades clínicas que são da responsabilidade exclusiva dos médicos, abrigando-se no suporte legal do Decreto Presidencial nº 254/10 de 17 de Novembro, que configura e regula o exercício da actividade de enfermagem no país.
Esta medida dá brecha a uma situação delicada à vida de muitos pacientes, porque a maior parte dos hospitais de Luanda enfrentam o problema da escassez de médicos. Por esta razão, até esta semana, o grosso das consultas e demais actividades da esfera dos médicos eram atendidas pelos enfermeiros que alegam falta de recompensa pelo sacrifício feito.
No entanto, ao comunicarem oficialmente a paralisação das actividades, os enfermeiros determinam que só “voltarão ao sacrifício” quando lhes forem pagos os devidos retroactivos e os subsídios de consulta desde 2012 prometidos.
Visando encontrar uma solução para a situação, o Governo Provincial de Luanda reuniu-se, à porta fechada, com o Sindicato dos Enfermeiros, após ao que seria emitida uma posição oficial das autoridades, o que até ao dia de ontem não se verificou Contactado pelo OPAÍS, Afonso Kileba, secretário-geral do Sindicato dos Enfermeiros, revelou que o esperado encontro não produziu “absolutamente nada”.
O sindicalista explicou, que na reunião, o Governo não demonstrou interesse em pagar os subsídios alegando falta de recursos financeiros. Em resposta, o sindicalista avançou que mantiveram a sua posição, que é de lei. “Da reunião que tivemos, não houve acordo. Assim, vamos cumprir apenas com o nosso trabalho e deixar os médicos com o seu. Não podemos trabalhar a dobrar sem sermos recompensados”.
Doentes pagam pela ausência de acordo Com fim das consultas e a respectiva prescrição dos medicamentos Equipa de enfermeiros pelos enfermeiros, muitos pacientes que desde Quinta-feira acorrem às unidades sanitárias, já enfrentam sérios constrangimentos. Com essa medida, os hospitais e centros de saúde da periferia são os mais afectados, como é o caso dos hospitais municipais de Viana,
Cajueiros e da Samba.
Neste último, como constatou o OPAÍS, o grosso dos pacientes regressa à casa mesmo sem serem consultados. A unidade atende, em média, trezentos pacientes por dia. Deste volume, 95 por cento dos casos são recepcionados, consultados e medicados pelos enfermeiros, como revelou Nelson Jorge, responsável pela enfermaria. “Apesar desse esforço todo, ainda não recebemos nenhum retroactivo.
E com o fim dos trabalhos, achámos que estamos apenas a cumprir com a medida presidencial. Enquanto não houver nenhuma orientação do Estado, vamos continuar na mesma”, frisou. Já Micaela Matamba, paciente, viu a sua consulta adiada em consequência da paralisação dos enfermeiros. Conforme narrou, chegou ao hospital às 7 horas , e até às 11h, não recebera qualquer orientação de assistência.
“Os médicos são poucos. E os enfermeiros recusam- se a nos consultar. A única alternativa foi mesmo voltar para casa. Agora vou ter que esperar até que a situação melhore, ou vou procurar um outro hospital. O problema, é que as dores que estou a sentir não me deixam andar longas distâncias”, confessou a cidadã que se encontra em fase adiantada de gestação.
Outra paciente cuja consulta foi anulada é Francisca Domingos, que, apesar de ter ficado quatro horas à espera do atendimento, viu-se forçada a regressar à casa. “Assim como eu, depois de tanta espera, muitas acabaram desistindo. É penoso vires ao hospital e não seres assistida. O receio é que algo grave venha a acontecer”.
Pediatria, o quadro não foi afectado
Na Pediatria de Luanda, a maior unidade pública especializada para crianças, a medida dos enfermeiros não provocou grandes constrangimentos. Marinela Cosme, chefe de enfermagem, revelou que nesse hospital, as funções estão devidamente especificadas, e cada um responde à sua. Os enfermeiros, esclareceu, não atendem os pacientes sem antes passarem pelos médicos que procedem, designadamente à consulta, a testagem, a orientação e a medicação.
“Essa medida não nos afectou porque temos pessoal suficiente. Os médicos e os enfermeiros, cada um trabalha na sua área. Ninguém usurpa as responsabilidades do outro. Cada um desempenha a sua função. Temos 335 enfermeiros, e estes limitam-se a fazer as suas tarefas específicas, e nunca as do médico que também são em quantidade suficiente”, esclareceu.