Embora reconheçam que eles tenham de melhorar os critérios de acompanhamento e protecção dos seus filhos, referiram que o material bélico que vitimou as crianças foi apanhado numa das esquinas do bairro Boa Esperança Central
Pais das crianças falecidas e sobreviventes da explosão de um engenho, no bairro Boa Esperança Central, distrito do Kikolo, município do Cacuaco, em Luanda, encorajam as autoridades a continuarem com as investigações, de modo a responsabilizarem a pessoa que se desfez do referido material bélico.
De acordo com os progenitores, a granada não foi encontrada no lixo, conforme se aventa em alguns ciclos de conversa, mas numa das esquinas não muito distante dos quintais onde eles residem. “A lixeira daqui fica muito distante e os miúdos não foram lá.
O que é certo é que as crianças apanharam essa bomba no beco e a trouAlberto Bambi xeram para o quintal ao lado, onde, na tentativa de a abrirem, explodiu”, contou Regina Paula, a mãe do pequeno Nelsinho de dois anos de idade (falecido).
Enquanto narrava, as suas alegações eram confirmadas por Paulino Katiavala de oito anos de idade, o único sobrevivente encontrado na terça-feira, 27, durante a reportagem de OPAÍS. “Quando o meu primo que está no hospital trouxe o saco, pensámos que era bronze, porque era novo e apanhamos aí nesse beco”, relatou o menino, enquanto se esforçava para indicar, do quintal da sua casa, a direcção da captura do engenho explosivo.
Seu pai Isaías NDambuka Chivinda, assegurou dizendo que a educação que passa aos seus filhos não os permite mentir e que a versão ouvida do pueril está a ser repetida desde o dia seguinte do acontecimento fatídico.
“Então, nós queremos muito que as autoridades que vieram aqui, no dia do acontecimento e não só, continuem com as investigações, até encontrarem o responsável pela dispersão do engenho explosivo apanhado pelos nossos filhos”, reiterou Regina Paula, em jeito de recuperação da palavra.
Para dar sustentabilidade às suas alegações, Regina Paula, de 34 anos de idade, referiu que foi viver nessa área da Boa Esperança Central quando tinha 15 anos de idade e nunca viu, nem ouviu dizer que se encontrou uma granada, bomba ou qualquer armamento em qualquer sítio do subúrbio.
Aliás, lembrou que, anteriormente, a área onde vive era mais aberta, ao ponto de ter muitas lavras, além de desembocar para as conhecidas zonas do Sacriberto e da “Ana Paula”. Por não ter assistido aos primeiros cenários que envolveram o seu pequeno Nelsinho de dois anos de idade, na tragédia que resultou na morte do rebento, Regina Paula confessou que a sua dor foi a dobrar, porque desejava estar para, pelo menos, ter a oportunidade de acompanhar o processo de socorro ao filho. Passada uma semana, ainda lhe vem, constantemente, a imagem de Nelsinho a pedir-lhe qualquer coisa, no regresso das jornadas.
“É uma dor grande. Parece que sofri duas vezes. Primeiro, por não ter estado nos primeiros socorros ao meu filho e, segundo, por o ter perdido completamente”, realçou a mãe do malogrado, que não pôs de lado o sofrimento actual imposto pela ausência de um filho que tinha apenas dois anos de idade. Armando e Elisa Gaspar perderam um filho de seis anos.
O marido manteve a posição inicial segundo a qual no bairro onde vive não tem lixeira, mas, sim, uma casa em reabilitação, que já foi local de depósito de lixo. Por causa disso, gostaria de ver atendida a preocupação dos enlutados de se descobrir quem terá abandonado o engenho explosivo, a fim de se evitar que aconteçam situações do género.
Granada no lixo ou fora disso Elisa Gaspar, que considera estranha a dispersão de um material bélico desse calibre, chamou atenção para não se relevar o facto de ser ou não no lixo.
“Não importa onde os nossos filhos acharam a granada. Primeiro, aconselho que as pessoas que andam a deitar isso para os filhos dos outros apanharem que param de o fazer, porque até a polícia tem feito apelo para se entregar lá”, referiu a senhora, tendo acrescentado que não consegue entender as motivações que levam alguém a guardá-lo em casa. Como os outros, é de opinião que este e outros bairros adjacentes sejam alvo de um controlo rigoroso, para se determinar quantas individualidades com autorização prévia devem fazer uso de armas.
De uma delas, os mais crescidos tentavam abrir o material bélico. “São nove crianças daqui que, no dia do acontecimento, foram levadas ao hospital, três morreram, incluindo o meu filho Nelsinho de dois anos, quatro sobreviveram e já estão com as famílias em casa e dois ainda continuam hospitalizados”, informou Jaime Manuel.
A luta para ultrapassar o trauma
Além de eles próprios estarem a esforçar-se para encontrar força anímica para lidarem com uma situação que retirou a vida de seus filhos, esses progenitores lutam, por meios próprios, para travarem a onda de exigência dos irmãos dos malogrados que, a toda hora e momento, questionam onde andam os manos.
“O que a gente faz é acalentar os mais crescidos e tentar improvisar uma história para acalmar os mais novos.
Mas toda hora perguntam onde estão os manos”, declarou a mãe do pequeno Paulino, o sobrevivente, que, segundo ela, às vezes, suscita o questionamento dos outros. Importa lembrar que, na terça-feira, 20 de Agosto, três crianças perderam a vida, em consequência da explosão de um engenho que foi encontrado no bairro, quando, no quintal da casa.
Louvada ajuda da administração
Isaías NDambuka Chivinda, Regina Paula e Elisa Gaspar aplaudem o apoio prestado pela administração municipal de Cacuaco, que disponibilizou para suas famílias enlutadas três sacos, sendo um de farinha de milho (fuba), outro de feijão e o terceiro de arroz, além de uma caixa de peixe sardinha. A ajuda foi também contemplada com sessenta mil kwanzas para cada uma das três famílias.
Na segundafeira, 26, a administração fez mais um reforço financeiro, que preferiram não anunciar, e outro quite de bens alimentares composto por dois sacos de farinha de milho, três de arroz, um de feijão e uma caixa de óleo vegetal.
Quanto ao apoio moral, tia Paula, como é carinhosamente tratada Regina Paula, no seu bairro, falou dos conselhos que algumas senhoras da administração lhes têm passado, de modo a cuidarem melhor das crianças. Segundo ela, por parte das conselheiras de circunstâncias, não tem faltado reconhecimento da dor que assolou as famílias.