O director do Gabinete Provincial da Saúde na Huíla, Paulo Luvangamu, revelou que uma média de oito corpos de nados-mortos são abandonados todas as semanas na morgue do Hospital Materno-infantil do Lubango. Em relação aos sete fetos e ao bebé encontrados num anexo, afirmou, à imprensa, que os mesmos terão saído desta unidade sanitária
O responsável apontou a realização de partos ao domicílio como sendo a principal causa deste fenómeno, uma vez que as parturientes chegam à maternidade já com várias complicações e, quando feto sai, deixa-o sob a responsabilidade do hospital.
Situação que tem obrigado a direcção da unidade sanitária a realizar enterros colectivos de nados-mortos, para desocupar a única morgue da maternidade Irene Neto.
“É um problema muito sério que nós temos, porque existem muitas famílias que abandonam os seus fetos aqui, e muitos destes casos acontecem porque o parto começa no domicílio.
Se a família abandona, nós não podemos ocupar a morgue com vários corpos, entregamos ao cemitério que nos foi indicado pela Administração Municipal para o enterro”, frisou.
No seu ponto de vista, a situação de abandono de nados-mortos na maternidade do Lubango deve ser um assunto que merece a atenção de todas as autoridades, para que molde o pensamento das famílias.
Fetos e cadáver de bebé deita- dos saíram da Maternidade do Lubango
Por outro lado, o director da Saúde na Huíla admitiu que os sete fetos e o cadáver de um bebé encontrados no interior de um anexo, na zona da Camundanga, bairro do Tchioco, foram retirados da Maternidade Irene Neto, sita no Lubango.
Paulo Luvangamu alegou que este facto está associado ao crescente número de casos de abandono de nados-mortos por familiares que se tem registado, nos últimos tempos, na referida maternidade.
O responsável explicou que os profissionais desta unidade sanitária, vocacionada para a saúde materno-infantil, têm realizado os enterros dos respectivos nados-mortos no cemitério da Kamumwila, localizado na zona da Camundanga, bairro Tchioco.
De acordo com Paulo Luvangamu, desta vez houve um erro da parte do pessoal encarregue de fazer tais enterros, consubstanciado na não observação das normas para o efeito. “Nós temos este grande problema de abandono de nados- mortos a nível da maternidade Irene Neto.
Porém, através de um convénio com a Administração Municipal do Lubango, todos esses nados-mortos são entregues ao cemitério da Kamumwila para serem sepultados”, frisou. Acrescentou de seguida que “é um procedimento que é feito já com alguma regularidade”.
O responsável da Saúde na Huíla reconheceu que o destino inadequado de tais fetos e do cadáver do bebé constitui um problema para a saúde pública, tendo em conta que existem normas para o enterro de corpos. “A norma define que se faça uma escavação de dois metros.
Entende- mos nós que neste caso se tenha feito uma escavação abaixo da norma, ou então forças humanas fizeram o desenterro destes fetos”, explicou.
Para se evitar que situações como esta voltem a acontecer, garantiu que a Inspecção da Saúde foi orientada para acompanhar todo o processo de enterro de nados-mortos abandonados pelas famílias.
Em relação aos fetos e ao bebé abandonado, Paulo Luvangamu afirmou que este episódio obriga a sua equipa a fazer uma reflexão sobre a forma como tem lvado a cabo esse processo, para prevenir eventos futuros.
“Apesar de ser a primeira vez que isso acontece, estamos a fazer uma investigação do caso. Assume-se que estes corpos tenham saído da Maternidade Irene Neto”, revelou.
Moradores da Camundanga pedem mais atenção das autoridades
O Cemitério da Kamumwila, localizado na zona da Camundanga, no bairro do Tchioco, foi o escolhido pela Administração Municipal do Lubango para acolher os restos mortais dos nados- mortos abandonados pelos familiares na morgue da maternidade Irene Neto.
É justamente na zona da Camundanga onde os moradores foram surpreendidos, esta semana, com a presença de sete fetos e um cadáver de bebé, numa casa sem porta, que está há menos de 20 metros do referido cemitério.
Insatisfeitos, os munícipes pedem mais atenção das autoridades sanitárias e manifestaram acreditar que os fetos podem ter sido levados àquele imóvel por cães vadios, no período da noite.
Gertrudes de Freitas, prima da dona do anexo, disse que os indícios de que os fetos podem ter saído do cemitério, com proveniência da maternidade do Lubango, faz todo sentido pelo facto de um dos cadáveres ter um artefacto que só é utilizado naquela unidade de saúde materno-infantil. “Nós estamos aqui desde 2003 e nunca vimos isso.
O bebê de nove meses veio com um clamber. Geralmente, quando nós, mulheres, damos à luz na maternidade, usamos este instrumento no umbigo.
Já nos centros e postos de saúde usa-se uma ligadura”, frisou, sublinhando que por isso entendem que as autoridades sanitárias devem prestar mais atenção a este facto, tendo em conta que tais situações podem ser fonte de doenças.
Por seu lado, Eduardo Correia, proprietário do anexo sem por- ta, disse que, na noite anterior, a sua família recolheu-se para os seus quartos da casa principal, mas não havia no seu anexo qualquer coisa estranha.
Segundo conta, a sua esposa, que se encontrava a lavar a roupa, foi a primeira que viu o cadáver do bebê, aparentemente de nove meses de gestação.
“Nós, ontem, por acaso, dormimos tarde e não havia nada no anexo. Como temos por hábito meditar todos os dias pelas cinco horas com os nossos filhos, hoje não foi diferente.
Depois disso, a minha mulher, que estava a lavar, saiu para estender a roupa e deparou-se com o cadáver deste bebê”, detalhou.
POR:João Katombela, na Huíla