A unidade hospitalar comporta 200 pacientes com insuficiência renal crónica (IRC) e, neste momento, controla precisamente este número. Apesar de não ser o paciente quem paga o tratamento de hemodiálise, nem naquela nem em qualquer outra unidade hospitalar, não há mais vaga para IRC na Clínica Multiperfil, em Luanda
POR: Romão Brandão
Independentemente de o centro de hemodiálise estar, ou não, numa unidade hospitalar privada, o serviço é público e todos os doentes com insuficiência renal crónica são tratados a custo zero (na visão do bolso do doente), ou seja, na Multiperfil, nos hospitais Maria Pia e Américo Boavida, ou na Clínica Girassol, por exemplo. De acordo com o chefe do serviço de hemodiálise da Clínica Multiperfil, Simão Canga, neste momento esta unidade está sem vagas para este tipo de doentes. Os serviços têm um limite de vagas, e a maior parte das unidades que recebem este tipo de pacientes está “abarrotada”. “Nós aqui, na Clínica Multiperfil, por exemplo, temos capacidade de suportar 200 pacientes e já temos este número. Não há vagas para mais pacientes. Apenas conse-guimos vaga quando um paciente sai de Angola e procura tratar-se fora do país; sai de Luanda e procura uma outra unidade noutras províncias; ou se perder a vida”, disse.
A taxa de mortalidade em várias unidades de hemodiálise, a nível nacional, tem sido alta, segundo os especialistas, devido à actual conjuntura económica do país. Não há condições para satisfazer a procura. A Sociedade Angolana de Nefrologistas (SAN) tem trabalhado com várias associações de doentes com insuficiência renal crónica e procuram que se aprove a Lei do Transplante, como forma de diminuir os custos com os pacientes em hemodiálise, mas “isto nos ultrapassa”, reconheceu Simão Canga. Depende das “instâncias superiores”. Sobre este assunto, o presidente da Sociedade Angolana de Nefrologistas, Matadi Daniel, disse que esperam a resposta do projecto mandado à Assembleia Nacional, há 15 anos. Uma aprovação que pode mudar a vida dos IRC, embora o transplante não seja a cura total. “É um tratamento de eleição que repõe todas as questões que o rim perdeu, porque pode haver rejeição e o doente voltar a fazer hemodiálise. O transplante não impede a rejeição e um doente transplantado vive acima de dez anos. Tudo o que nos resta é esperar pela aprovação do projecto lei”, reforçou.
Apenas 20 nefrologistas inscritos na SAN
Por outro lado, a equipa capacitada a fazer o diagnóstico desta doença é ainda pequena, fala-se em apenas 20 nefrologista inscritos na SAN, segundo Simão Canga, pelo que há necessidade de se aumentar este número. Por isso, os casos são diagnosticados de forma tardia. O objectivo do simpósio é primordialmente chamar a atenção sobre esta doença, que vem aumentando, dada a população de pacientes do tipo de tratamento que é a hemodiálise (1900, pelo menos). Um tratamento que é bastante caro, que tem custado caro aos cofres do Estado. Toda a gente envolvida nesta situação é chamada a reduzir estes custos e a melhorar a qualidade de vida do paciente, apesar de ser uma doença para toda a vida, caso não sofra transplante de rins. “É complicado, têm que ser submetidos ao tratamento três vezes por semana, durante quatro horas por dia. Para além disso, há também os custos com os medicamentos”, realçou o nefrologista. Todos estes custos estão a cargo dos ministérios da Saúde e das Finanças, de acordo com o entrevistado, pelo que há a necessidade de se diminuir os custos com a sensibilização para a prevenção.