O músico e compositor Rui Alberto Vieira Dias Mingas, conhecido nas lides artísticas como Rui Mingas, faleceu esta Quinta-feira, 04, aos 84 anos, vítima de doença, em Lisboa, Portugal, por volta das 7 horas (de Angola), segundo fontes familiares
Maneco Vieira Dias, que é sobrinho do falecido, considera a morte de Rui Mingas como uma perda irreparável para todos os angolanos, tendo em conta aquilo que foi o seu contributo no engrandecimento da cultura nacional. O também artista, profissional na área de dança, contou a este jornal que, nos vários encontros que teve com Rui Mingas, mantinham o lado profissional, com a partilha de ideias e conselhos dados por ele em várias ocasiões. “Portanto, tivemos uma relação que posso considerar boa.
Se pudéssemos partilhar algumas coisas assim o fazíamos, sobretudo conversas à volta daquilo que era o movimento cultural em Angola”, contou com nostalgia. Maneco descreve o percurso de Rui Mingas como de grande relevância para a história de Angola, que ocupa um lugar na primeira linha daqueles que são os artistas que muito fizeram em prol do país.
De igual modo, no quadro daqueles que compõem a canção política em Angola. Como co-autor do hino nacional, lembra ainda que Rui Mingas foi campeão em atletismo, um atleta, portanto, que o país também acaba de perder. “Na verdade, num momento como este, a família recolhe-se para fazer uma introspecção sobre o que cada um de nós fez, o que ele representava para as pessoas. É um sentimento de dor, sobretudo. Mas, enfim, é a vida. Deus quis que ele fosse nesta altura.
Naturalmente, só temos que agradecer por tudo o que ele fez enquanto esteve aqui connosco na terra”, sublinhou. Quanto ao funeral de Rui Mingas, Maneco preferiu não avançar dados no momento, por ser um assunto que a família vai tratar. Mas garantiu que, no devido momento, será do conhecimento de todos os angolanos. Sam Manguana, que soube do passamento físico de Rui Mingas através do nosso contacto, mostrou-se surpreso com o ocorrido. Sem esconder a sua consternação, contou que conheceu o falecido nos anos 70.
Desde o momento, o músico passou a considerá-lo como um dos mais clássicos cantores modernos ao nível do continente africano. “Se for a falar do mais-velho Rui Mingas, é o nosso ‘Frank Sinatra’. Eu comparo o Rui Mingas com o Frank Sinatra. Foi sempre o meu modelo como cantor. Não cantávamos o mesmo estilo, mas, como cantor moderno, também o tinha como a minha base de conhecimento”, disse o artista. O músico recorda que se tratava de um grande compositor, cujas obras marcarão gerações. Pelo seu rico e vasto percurso, referiu que será para sempre umas das grandes referências da música angolana, tanto no país como no exterior.
“Um grande angolano morreu”
O produtor Yuri Simão, que há quatro anos realizou no espectáculo Show do Mês “Cantar Ruy Mingas”, em sua homenagem, disse que se encontra desolado com a sua morte, já que se tratava de um grande homem que muito fez pela cultura no país e na área desportiva. Neste momento que considera de grande tristeza, deste que foi o co-autor do hino nacional, lembra que, segundo o músico Sam Manguana, era o Frank Sinatra de Angola.
“Estou profundamente triste, porque um grande angolano morreu! Era um grande angolano. Para além de ser músico, foi professor de Educação Física, formou muitos angolanos na área dos desportos. E com a sua Universidade Lusíadas formou muitos angolanos”, constatou. Sobre o show que serviu para celebrar os seus 80 anos de idade, disse ter sido um momento marcante, tanto para o artista como para a organização. Pelo facto, sente-se satisfeito por poder homenageá-lo enquanto esteve em vida. “Ainda bem que foi um show ao vivo, onde ele pôde ver a sociedade a homenageá-lo”.
Perfil
Nascido a 12 de Maio de 1939, é proveniente de uma família de músicos. Foi influenciado pelo seu tio Liceu Vieira Dias. Rui Mingas foi um dos autores da conheci- da canção “Meninos do Huambo”. Músico angolano de renome internacional, é autor de temas como “Cantiga por Luciana”, “Poema da farra”, “Makezu”, “Muadiakimi”, “Birin Birin”, “Monagambé” e “Adeus à hora da partida”.
Foi distinguido com a outorga de “Personalidade Lusófona de 2016”, do Movimento Internacional Lusófono (Mil), em Lisboa, mas já antes, em 2010, recebeu o Prémio de Arte, Cultura e Letras pela Academia Francesa de Educação. Rui Mingas foi também praticante de atletismo, em salto em altura e 110 metros barreiras, no Sport Lisboa e Benfica, Portugal. É pai da cantora Katila Mingas, de Ângela Cristina Branco Lima Rodrigues Mingas, da modelo Nayma e de Carlos Filipe Branco Li- ma Rodrigues Mingas.