Os moradores do prédio denominado “GAMEK”, evacuados, preventivamente, em Março de 2014, para a localidade de Kangandala, devido a indícios de desabamento que o mesmo apresentava, estão a abandonar as moradias nas quais foram alojados. As referidas residências foram construídas com recursos públicos, no âmbito do Programa Nacional de Urbanismo e Habitação
Por: Miguel José em Malanje
As residências erguidas na sede do município de Kangandala, no âmbito dos 200 fogos habitacionais, cedidas aos ex-moradores do prédio “GAMEK”, ora demolido, estão a ser abandonadas em razão da falta de condições e de serviços básicos integrais. Os moradores, que preferiram manter o anonimato, alegam a falta de água corrente, de energia eléctrica, de segurança e de saneamento básico como sendo os principais motivos de tais abandonos.
Segundo os interpelados, naquela altura, a garantia que lhes foi dada era de que em 90 dias, no máximo, teriam as condições necessárias de habitalidade, mas, ao que parece, a promessa não passou disto mesmo. Afirmam estarem há quase seis meses sem beneficiarem de água canalizada e, na mesma senda, há um mês privados de energia eléctrica. “Nós fomos para lá e não encontramos condições criadas. Não existe saneamento básico, nem água e luz, bem como uma esquadra policial para fazer o patrulhamento. Nada disto”, reclamou um dos entrevistados.
Como consequência de tais abandonos em massa, as casas apresentam um aspecto desolador, invadidas pelo capim à sua volta e transformadas em abrigos de animais peçonhentos, além de muitas delas estarem a ser vandalizadas e, também, a abrigar delinquentes.
Pelo facto, alguns moradores sugerem à autoridade municipal a tomada de medidas administrativas para evitar o desperdício. Entendem que as muitas casas desocupadas em vias de serem vandalizadas devem ser entregues a pessoas que realmente precisam. “A Administração deve tomar outras medidas, no sentido de convocar os proprietários de tais residências e dar um ultimato. Se não quiserem habitar nelas, então que cedam as casas para as pessoas que precisam”, insinuam.
A administradora responde Em virtude da situação, a administradora municipal de Kangandala, Rosa André Lourenço, não se fez rogada e se dignou a atender as preocupações dos moradores. Em entrevista concedida à emissora local, diz que as carências apontadas pelos moradores, residem no facto de o município nunca ter beneficiado de infra-estruturas de serviços básicos, como energia e água da rede, ao longo dos anos. Rosa Lourenço compreende a reclamação dos moradores, mas também apela à calma, tendo em atenção a actual situação.
“É legítimo da parte dos moradores reclamarem. Nós temos consciência que a Administração Municipal tem a obrigatoriedade de criar as melhores condições de habitabilidade para os moradores, mas a fase em que nos encontramos não é nada fácil. Estamos no mês de Janeiro e as verbas só são adquiridas através da ordem de saque”, disse. No entanto, a administradora do município defende-se dizendo que a sua Administração não está dotada de verbas de ‘fundo de maneio’ para resolver as questões pontuais.
Porquanto, no que diz respeito à distribuição de electricidade, no decurso do ano transacto, o Governo da província atribuiu duas centrais térmicas ao município, cuja repartição do consumo tem sido feita por fases, devido à necessidade de se fazer uma requalificação da rede eléctrica que culminou com a conclusão da 1ª fase. “Logo, esta fase não abrange a malha de moradia dos 200 fogos”, acrescentou, avançando que a 1ª fase culminou apenas com a religação e a requalificação dos serviços, o que consistiu em mudar postes e cabos de energia.
“Como devem calcular, uma bobine de cabo subterrâneo com 240 milímetros não fica por menos de 3 milhões de Kwanzas”, disse Rosa Lourenço, que garantiu estar a sua administração empenhada a fazer tudo para que até finais de Janeiro a 2ª fase esteja concluída e, assim, garantir a cobertura energética à referida área habitacional. Ainda assim, protestou que na ausência da central térmica o fornecimeto de energia tem sido feito através de um gerador alternativo, mas que nos últimos tempos avariou, razão que tem criado aborrecimento aos moradores.
Questionada sobre a perspectiva de o município beneficiar da rede eléctrica de Kapanda, a responsável garante haver promessa ministerial do sector, ao nível superior, de estender a rede de Laúca para os municípios da província de Malanje. Todavia, adiantou a necessidade de se trabalhar num programa de transporte de energia de Laúca para Malanje e, a posteriori, a construção de uma central de transformação que irá permitir a distribuição para os municípios da província a serem contemplados. “
É uma missão que não compete ao Governo da Província, nem ao município, mas o director tem estado a trabalhar no sentido de que este bem chegue aos municípios para acabar com as dificuldades que nós temos, até porque, a energia traz desenvolvimento”, sublinha.
O município de Kangandala é priviligiado do ponto de vista hidríco, já que por lá passam o rio Kwanza e o rio Kwiji (afluente do Kwanza), mas, ainda assim, os seus munícipes não usufruem de água potável. Neste sentido, a executiva fez saber que existe um projecto de médio prazo, cuja execução está já fixada em 60 %, mas aguarda que a empresa designada faça a entrega do projecto final, pois o mesmo está enquadrado na linha de financiamento chinês e a empreitada está adjudicada a uma empresa chinesa que vai fazer a captação da água a partir do rio Kwiji, com capacidade de bombear 5 mil metros cúbicos para a sede municipal.
“Isto vai beneficiar todas as povoações que ficam à beira da estrada”, tranquiliza a administradora. Kangandala é um município que fica a Sul de Malanje, dista 20 quilómetros da sede capital da província e tem uma população, maioritariamente, camponesa. O seu cartão postal de referência é o Parque Nacional de Kangandala, o habitat natural da ‘magestosa’ Palanca Negra Gigante.