A Miss Huíla 2018, Beatriz Cardoso Alves, volta a comparecer diante de um juiz no Tribunal da Comarca do Lubango, depois de ter comparecido no ano passado na qualidade de declarante, no caso que envolveu um foragido de Luanda, um suposto pastor e um camionista que realizavam assaltos à mão-armada na comuna da Arimba, município do Lubango, capital da província da Huíla
O Tribunal da Comarca do Lubango, na província da Huíla, marcou para o próximo dia 13 do mês em curso a sessão de audiência de julgamento de Beatriz Cardoso Alves, acusada de fazer parte de uma associação de malfeitores, num grupo liderado por um cidadão identificado por António Francisco Fernandes, mais conhecido por Tony.
Durante as três sessões de julgamento realizadas pelo Tribunal da Comarca do Lubango, de 11 Outubro a 22 de Novembro do ano passado, que terminou com a condenação dos três arguidos em penas que vão de um a 13 anos de prisão efectiva, Beatriz Cardoso Alves apareceu sempre como declarante na qualidade de vítima por ter sido supostamente abusada sexualmente pelos co-arguidos António Francisco Fernandes e Gerson Guerreiro Ramos.
Entretanto, as acusações de Beatriz Cardoso Alves, não foram acolhidas pelo Tribunal que durante as sessões de julgamento era presidio pelo Juiz de Direito, Marcelino Tyamba e o Ministério Público representado pela Procuradora-Geral da República junto do Tribunal, Yolene Cunha.
No decurso da terceira sessão de audiência de julgamento, o Ministério Público, na pessoa da magistrada Yolene Cunha, afirmou terem sido produzidas nos autos, provas suficientes que alteraram a figura de Beatriz Cardoso Alves no processo, fazendo com que a mesma fosse acusada de ser a autora moral do crime de rapto contra o cidadão Cristiano do Porto, com quem manteve uma relação amorosa.
“Em função dos autos e da prova produzida durante a terceira sessão de audiência de julgamento, há fortes indícios de a declarante Beatriz ser a autora moral do crime de rapto contra o fendido Cristiano.
Assim, requeiro que se extraiam cópias para a abertura do processo crime contra a declarante Beatriz Alves”, disse na altura.
Como a Miss apareceu no processo?
António Francisc Fernandes, mais conhecido por Tony; Gerson Guerreiro Ramos, ambos primos, e Osvaldo Benedito Tchiteculo, suposto pastor de uma igreja evangélica, foram detidos em 2021 acusados de vários crimes entre os quais, assaltos à mão-armada, associação criminosa, homicídio na forma tentada, ofensas corporais graves, posse ilegal de armas de fogo e munições proibidas, e rapto.
Durante a detenção do trio de marginais, um dos integrantes do grupo, António Francisco Fernandes (Tony), disse à imprensa que dos crimes cometidos, num deles está envolvida a Miss Huíla 2018, com quem manteve, igualmente, uma relação amorosa desde o mês de Outubro de 2016.
Tony disse, na ocasião, que recebeu informações da sua namorada Beatriz, sobre a situação financeira do novo namorado, Cristiano do Porto.
Por esta razão, orquestraram um rapto com a intenção de subtrair algum valor monetário do mesmo.
Esta informação não foi divulgada pela comunicação social local que acompanhou o caso, a pedido da Polícia Nacional, já que Beatriz Cardoso Alves encontrava-se foragida depois de se aperceber da detenção dos seus “pares”.
“Eu expliquei à Beatriz da minha situação financeira, depois que eu cheguei de Luanda, ali, ela faloume do namorado que era de uma família rica e combinamos um assalto, só que não correu conforme o previsto, porque durante o assalto apareceu o irmão do namorado dela e tivemos de efectuar um disparo que o atingiu num dos membros inferiores”, contou.
Sem a presença de Osvaldo Benedito Tchiteculo, o grupo composto por António Francisco Fernandes, Gerson Guerreiro Ramos e Beatriz Cardoso Alves dirigiu-se à localidade do Jáu, arredores do município da Chibia, a bordo da viatura subtraída a Cristiano do Porto, onde pernoitaram.
Ao longo da noite, Tony revelou que manteve relações sexuais com a sua namorada, sem no entanto a participação do seu primo Gerson.
Segundo disse, as relações sexuais mantidas durante aquela noite, foram todas consentidas por Beatriz.
“Tirem a Beatriz do Show”
Depois de um período de Investigação levado a cabo pelos efectivos do Departamento de Investigação de Ilícitos Penais do Comando Provincial da Polícia Nacional na Huíla, Beatriz Cardoso Alves era detida a 29 de Dezembro de 2021, sob um mandado de detenção emitido pelo Procuradoria-Geral da República junto do Serviço de Investigação Criminal (SIC).
Uma semana depois, Beatriz Cardoso Alves era posta em liberdade, alegadamente por insuficiência de provas, depois de uma troca de procuradores.
Na ocasião, a Miss Huíla passou de arguida à ofendida, invocando ter sido vítima de rapto e abuso sexual com penetração, praticados por António Francisco Fernandes e Gerson Guerreiro Ramos, que já se encontravam detidos no estabelecimento prisional do Lubango.
Durante a fase de instrução preparatória do Processo, António Francisco Fernandes foi requisitado por um oficial dos Serviços Prisionais colocado no Departamento de Reabilitação, que apresentou-lhe uma proposta, segundo a qual ele (Tony) teria assumido a autoria de todos os crimes em troca de alguns valor monetários e um advogado.
“Eu fui requisitado para ir ao SIC e prestar declarações, lá me foi dito que a minha família e a da Beatriz já tinha chegado a um acordo, que eu assumisse a autoria do crime, em troca me davam algum valor e mais um advogado para me assistir durante o julgamento, ele disseram que tinham de tirar a Beatriz do ‘show’ e assim o fiz”, revelou.
Persistência do MP e falta de cumprimento de promessas foram cruciais para a reabertura de um Processo-crime
A narrativa construída pela equipa de defesa de Beatriz Cardoso Alves, não caiu bem aos ouvidos do Ministério Público, que solicitou a abertura de um Processo-crime contra a mesma, o que foi anuído pelo Juiz da Causa, Marcelino Tyamba, que presidiu todas as sessões de julgamento.
Durante as três sessões de audiência de julgamento, Beatriz Cardoso Alves foi questionada sobre as razões que a levaram a não apresentar uma queixa à Polícia no dia seguinte em que foi supostamente abusada sexualmente, o que não soube responder.
De acordo com o Ministério Público, consta nos autos que dia seguinte (depois do suposto abuso sexual) Beatriz caminhou na companhia dos seus agressores até à sede municipal da Chibia, onde os três apanharam um táxi, tendo a vítima descido nas imediações do Colégio Pomba da Amizade, por ser uma paragem próximo da sua casa na comuna da Arimba, sem, no entanto, manifestar qualquer interesse em pedir socorro aos presentes no mesmo táxi.
A queixa de Beatriz só veio ser apresentada depois de quase dois meses, o que veio a ser desvalorizado pelo MP.
No entanto, Tony mudou as suas declarações em tribunal, depois de não se terem cumprido as promessas feitas supostamente pelos familiares de Beatriz com a ajuda do reabilitador de reclusos.
“A Beatriz sabia tudo o que estava a acontecer naquele dia no crime de rapto, ela esteve realmente dentro do assunto, eu só descobri que a minha família não tinha feito qualquer acordo com a família da Beatriz, por isso, decidi revelar a verdade”, explicou.
Entretanto, Beatriz Cardoso Alves foi ouvida pela primeira vez depois da abertura de um novo Processo-crime na Direcção Provincial do Serviço de Investigação Criminal da Huíla, em Janeiro do ano em curso.
Sem mais detalhes, a nossa equipa de reportagem apurou de fonte segura junto do Serviço de Investigação Criminal, que Beatriz Cardoso Alves, está a responder pelo crime em liberdade.
Por: João Katombela, na Huíla