O nosso país regista uma alta incidência de schistosomíase, uma parasitose dos climas quentes, que se encontra nas águas não tratadas, e principal agente do cancro da bexiga. Para a redução deste tipo de cancro, o Ministério da Energia e Águas será envolvido no combate.
POR: Maria Teixeira
Em declarações à imprensa, por ocasião do Dia Mundial de Luta Contra o Cancro, celebrado a 4 de Fevereiro, o chefe de controlo de doenças do Ministério da Saúde, Luís Peliganga, disse que o acesso à água potável é muito importante, especificamente no nosso país, onde existe uma abundante distribuição fluvial, que contribui para a alta incidência da Schistosomiase, que é uma causa importante do cancro da bexiga. Embora não tenha avançado dados de quantos casos de cancro da bexiga o país registou, aquele responsável é de opinião que se deve envolver o Ministério da Energia e Águas para que a água potável chegue a casa do cidadão.
Para além do ministério responsável pela distribuição de água potável, o envolvimento a que se referiu o entrevistado deve abranger também as autoridades administrativas e tradicionais, de forma a garantirem a limpeza da vegetação e beira dos rios e, assim, diminuir os hospedeiros da Schistosomiase. O controlo destes factores não vai acabar com o registo de cancro da bexiga, mas, certamente, irá contribuir para a sua diminuição. As projecções apontam que ocorreu um aumento de casos de cancro em países em desenvolvimento e, se não forem implementadas medidas eficazes de prevenção para a região africana, teremos um problema de saúde pública.
“Estima-se que o número de casos novos diagnosticados duplique em 20 a 30 anos, segundo o Instituto Angolano de Controlo do Cancro (IACC) na proposta da política nacional de prevenção e controlo do cancro Angola 2015-2025”, disse. Entre os cancros mais comuns estão o do pulmão, com 1,8 milhões, que representa 13, 0% do total, a seguir o cancro da mama, com 1,7 milhões, 11, 9%, e depois o cancro do cólon do útero e do reto com 1,4 milhões, que representa 9,7%. “A prevenção primária ou pré-patogénica é a principal aposta da estratégia do Ministério da Saúde no controlo da doença. Para o sucesso desta estratégia, precisamos de contar com dados nacionais actuais”, disse.
Instituto de Controlo do Cancro com apenas 30 especialistas
Já o chefe de secção de doenças crónicas, António Armando, alinhou no mesmo diapasão, de que um dia em Angola o cancro será um dos principais problemas de saúde pública. Só para se ter uma ideia, cerca de 90% das pessoas que têm o cancro do pulmão são fumantes, facto que faz surgir a necessidade de se reduzir a exposição ao fumo. “O nosso país apenas tem uma unidade sanitária especializada no tratamento do cancro para responder a 25 milhões de habitantes e é complicado dar resposta satisfatória a tanta gente”, disse. Actualmente o Instituto Nacional de Controlo do Cancro conta com 30 especialistas. Três mil novos casos de cancro são registados anualmente no Instituto Nacional de Controlo do Cancro, segundo o director daquela instituição, Fernando Miguel.
Alista o estilo de vida pouco saudável, nomeadamente a alimentação desequilibrada, falta de exercícios físico, tabagismo, consumo exagerado de álcool e algumas infecções crónicas, aliadas ao stress, como factores que contribuem para o desenvolvimento do cancro. O diagnóstico tardio continua a ser um problema, pois que 80% dos pacientes que o referido instituto recebe chega no estado avançado da doença. Sobre este aspecto, aponta a falta de informação e certas crenças como factores que influenciam. Fernando Miguel realçou que existe um Programa Nacional de Desenvolvimento Sanitário (PNDS) que já prevê a construção de cinco centros regionais nas províncias de Cabinda, Malange, Benguela, Huambo e Huíla, mas que, infelizmente, devido à situação conjuntural da crise financeira que o país vive não foi executado. O Ministério da Saúde (MINSA) está a organizar em todo país actividades de educação e sensibilização com distribuição de preservativos e imunização específica do HPV para a prevenção do cancro do útero.