Cingindo-se nas realidades das muni- cipalidades de Icolo e Bengo e Quiçama, em Luanda, a especialistas defende que, por conta das grandes distâncias com as sedes municipais ou comunais, esses populares têm de beneficiar de serviços médicos presenciais temporários
A médica Edna de Alegria defende que, para as comunidades com uma população dispersa, a maneira mais eficaz e actuante que o sector da Saúde deve adoptar é a saúde de proximidade ou de família, através de um programa alar- gado de medicina familiar local ou de saúde na comunidade. “Nessa agenda, estaria envolvida uma equipa multi-disciplinar de médicos especialistas em medicina de família, enfermeiros, fisioterapêutas, para que pudessem estar alocados para consultas externas de rotina e actividades de educação para a saúde, de modo a passarem informação básica primária a estas comunidades e atenderem questões que são muito candentes”, explicou Edna de Alegria.
A técnica de saúde, que olhava para as realidades dos municípios do Icolo e Bengo e da Quiçama, em Luanda, disse que, normalmente, os programas têm a ver com saúde colectiva, educação para a saúde, questões de atenção primária. “Assim, pode-se evitar que essas populações sejam forçadas a percorrerem grandes distâncias até aos hospitais de referência, secundários ou terciários”, realçou. De acordo com a profissional, a medicina familiar, de colectividade preventiva na comunidade, é uma realidade não muito distante de Angola, já que é uma prática de países próximos, como o Brasil, que, por sinal, pertencente à CPLP, e aplica essa política, que lhes tem feito obter resultados satisfatórios.
Considerou ser uma medicina de baixo custo e de fácil acesso, por envolver pessoas que, normalmente, residem aí ou que vão parar nesses locais, o que permite que o médico não precise de estar aí todos os dias. “Pois, tudo depende da extensão ou da dimensão dessa população, seguindo-se pelas orientações da OMS, segundo as quais se contam metros por habitantes”, sublinhou a médica, tendo assegurado que, por essa razão, a equipa médica pode ser dividida em outras pequenas, para o médico poder acompanhar essa família em um ou dois dias fixos, ao ponto de ele, o enfermeiro, o psicólogo e o fisioterapêuta poderem alternar as suas acções.
Esse trabalho de equipa pode integrar um assistente social, soube OPAÍS da especialista, para quem isso só é possível através de um trabalho conjunto do Ministério da Saúde e das autoridades locais, porque essas famílias precisam estar bem localizadas, de modo que, apesar delas viverem em zonas periféricas, as pessoas estejam organizadas em sectores, bairros. “Então elas precisam ser identificadas, para se fazer também o mapeamento e se poder distribuir cada profissional em determina- das áreas”, frisou.
A entrevistada considera que uma das formas de se sanarem os problemas de bases do nosso país é o aumento do número de postos ou centros de saúde comunitário, que considera de baixo custo e de proximidade. Edna de Alegria defende essa apologia, para não se acusarem outros problemas maiores, como o de transporte, falta de emprego, do qual resulta o poder aquisitivo financeiro, para deslocação, alimentação e outros. “Se se pudesse colocar profissionais de saúde nas comunidades, era o mais fácil, porque aí, iria deslocar-se uma equipa, para atender a vários populares.
O mesmo para as mulheres e, as- sim, também podia reduzir-se o elevado índice de morbi-mortalidade materno-infantil, em Angola, que faz diminuir os níveis da qualidade de saúde”, reiterou Edna. Relativamente às mulheres podiam, tendo o profissional de saúde aí, com elas organizadas ou mapeadas pela administração local, teriam indicações de dias em que podiam ir a certo centro e ter acesso a uma consulta ou a um acompanhamento pré-natal, com um médico ou enfermeiro obstetra ou mesmo com uma parteira local, depois de formada.
Para a médica, em relação às parteiras tradicionais, evitar-se- ia a invasão, por falta de acesso às consultas pré-natais e podiam evitar-se, igualmente, os riscos que advêm da falta de acompanhamento pré-natal, como são os casos de partos prematuros, mor- te materno-infantil pré e perinatal ou o baixo peso, à nascença, as- sim como a complicação dum pós- parto não acompanhado.
Mais formação às parteiras
“Para as nossas parteiras tradicionais, acho que muito mais do que impedir a continuidade dos seus serviços, travando o conhecimento que lhes foi passado, de geração em geração, é acrescentar conhecimentos”, frisou. Acrescentou de seguida que deste modo se “aumentará aquilo que são o escopo de actuação de- las que até estão mais próximas da comunidade e, principalmente, muni-las de informação sobre prevenção e tratamento de complicações no pós-parto, bem como técnicas de higiene e acepsia, para que façam, cada vez, partos mais seguros,mais controlados”.
A especialista não põe de la- do o acompanhamento do pré- natal para que se consiga prevenir complicações, num pós-parto imediato. Edna de Alegria referiu, por outro lado, que o cumprimento de um calendário vacinal nas crianças é de extrema importância, porque as vacinas ajudam a prevenir muitas doenças, sendo que a prevenção é, actualmente, um dos tratamentos mais eficazes, por ser de baixo custo, de fácil acesso e previne o aumento das taxas de mortalidade. É por isso que a médica invoca a necessidade e urgência de todas as crianças serem vacinadas, dentro dos prazos estipulados, senão mesmo o mais rápido possível.
“Claro que, na nossa sociedade, existem várias razões que façam que, certas vezes, os calendários vacinais não sejam cumpridos, desde a escassez de vacina, até à falta de informação, sensibilização e consciencialização de comunidades sobre a importância deste acto que salva vidas”, reconheceu a interlocutora deste Jornal, que coloca na mesma lista a falta de infra-estruturas.
Icolo e Bengo ensaia saúde à porta dos moradores ‘longínquos’
O director municipal da Saúde do Icolo e Bengo, Luís Francisco Domingos, assegurou que a sua equipa de trabalho já têm realizado assistência médica e medicamentosa nas comunidades mais distantes das sedes municipais e comunais, onde existem postos, centros médicos e hospitais. “Aqui no município, a população é pouca, mas é dispersa, vive em lugares onde não há unidades sanitárias. Depois da Quiçama, que tem pouca população, vem o Icolo e Bengo.
Nós realizámos a mais recente empreitada, em Janeiro último nas zonas ribeirinhas do Cuanza”, disse o director da Saúde. Segundo o responsável, à beira do rio, para lá da Cabala, há sete comunidades que pertencem ao Icolo e Bengo. E, para chegar lá, tem-se de ir de carro à Quiçama e, daí, fazer-se a travessia para as referidas zonas de Cajú e da Quarta divisão, onde, depois da viagem de barco, se deve apanhar uma motorizada ou mesmo andar os sete quilómetros, a pé. “Fizemos também três dias no Caquengue, comuna de Caculo Cahango, que dista cerca de 35 quilómetros de Maria Teresa.
Lá te- mos um centro de saúde, onde ficamos a atender a população, mas, depois, vimo-nos obrigados a ir a outras comunidades mais distantes, porque ouvimos relatos de pacientes que não conseguiam chegar aí. Luís Francisco Domingos está de acordo com a doutora Edna de Alegria, que defende uma assistência de proximidade a populações dispersas, mas sugere que se reforcem os programas de consulta e vacinação, além de se ter de disponibilizar, para essa gente, o básico de cuidados de saúde primária.
“Atendimento nas patologias de pediatria, medicina interna, consulta pré-natal, sensibilizar as mulheres a terem os partos nos hospitais e não em casa, cumprindo, antes, com as consultas pré-na- tais, de modo a evitar criar a gravidez em casa, sem ter um contacto com o médico. O dirigente encoraja os técnicos a irem a localidades com as mesmas dificuldades, de modo a atraírem a atenção desses munícipes, nas recomendações precisas.
“Não é só para ver quem está aparentemente doente, porque aí todo mundo quer apresenta as suas preocupações”, aconselhou o médico-cirurgião. Luís Domingos revelou que, durante as consultas e os tratamentos, até cidadãos que não tinham nenhum incómodo de saúde, tentaram simular, para ficarem com algum medicamento, a julgar pelo tempo que passam para ter mais uma equipa médica nas suas zonas de jurisdição. “Os técnicos não devem apressar-se a negar, devem, sim, sensibilizar e instruir esses moradores a usarem os fármacos, em caso desses ou daqueles pontuais e relativos aos sintomas que tiverem, na hora”, ponderou