Dois grupos de marginais pertencentes ao município de Luanda, distrito urbano do Sambizanga, mataram igual número de pessoas, naquela parte da capital, depois de estes se virem impedidos de concretizar a sua intenção de consumar assaltos que estavam a proceder na via pública. Sete elementos estão detidos
“Os Segredos” é a denominação de uma associação criminosa com- posta por 20 elementos, entre os quais vários adolescentes com idades a partir dos 15 anos. Rezam os factos que este grupo matou um cidadão de 18 anos, que em vida atendia pelo nome de Francisco Orlando, com golpes de gargalos de garrafas, na tentativa de assalta-lo, às 23 horas, no bairro do Margoso, à saída de uma festa. Por outro lado, vários marginais pertencentes a uma associação de malfeitores – Os Fortaleza do Catintom – não pouparam a vida do ancião Luís Pascoal, de 67 anos.
O facto ocorreu depois de este questiona-los a razão pela qual feriram com gravidade o seu filho que acabava de chegar à casa ensanguentado, sendo esta a razão suficiente para que alvejassem o maior de idade com golpes de faca e de catana, na região craniana, tendo encontrado morte imediata, no local. O filho que foi ferido, Júnior Pascoal, conta que tudo aconteceu à madrugada do Ano Novo, quando certo individuo, que não precisou, levou até a si a mensagem de que um dos seus amigos estava a ser assaltado por um grupo que, a todo custo, pretendia levar a motorizada.
Na tentativa de evitar a consumação do assalto, já que é conhecido pelos residentes, foi surpreendido pelos adolescentes que reagiram com violência, por meio de uma garrafa que lhe foi arremessada à cara, seguido de fortes agressões físicas. O órfão acrescenta que abandonou o local às pressas, dirigindo a casa, uma vez que estava com a roupa ensanguentada. No entanto, os elementos deste grupo seguiram- no, desferindo vários golpes de faca nas costas.
“Saí dali, forçadamente, a correr, jorrando tanto sangue, e seguiram-me, picando com faca nas costas. Entrei dentro da residência e desmaiei. Vieram mais pessoas ainda, invadiram a minha residência e mataram meu pai”, contou com tristeza.
Casos esclarecidos
Os dois casos de homicídios foram esclarecidos pelo Serviço de Investigação Criminal (SIC), que explicou os modus operandi das associações envolvidas, que passam pela realização de rixas contra grupos rivais e assaltos a residências, de acordo com o director do Gabinete de Comunicação Institucional e Imprensa deste órgão forense em Luanda, superintendente-chefe de investigação Fernando Carvalho.
“Portanto, estas duas associações tinham como modus operandi a realização de rixas, assaltos a residências e na via pública, e foi assim que se levou ao esclarecimento de dois casos de crimes de homicídio qualificado em razão dos meios, que são armas brancas, gargalhos de garrafa, paus e facas de cozinha”, disse. Fernando Carvalho avançou que os dois grupos estão, parcial- mente, desmantelados, depois de uma micro operação realizada pela direcção municipal de Investigação Criminal de Luanda, no distrito da Maianga, no período de 5 a 8 de Janeiro deste ano.
Versão dos acusados João Joaquim, de 22 anos, é um dos elementos que participou na morte do ancião. Este implica- do conta que não esteve no princípio da ocorrência, tendo chega- do mais tarde, quando os amigos agrediam o maior de 67 anos. A frequentar a 12ª classe, num dos Instituto Médio Normal de Educação (IMNE), no curso de Língua Portuguesa, o potencial professor encontrou os amigos a lutar para retirarem uma faca da posse do ancião Luís Pascoal, tendo, por isso, agredido o mais velho com um pau. “Meus amigos estavam a lutar com o senhor, para poder largar a faca, porque a faca que estava com o senhor era do meu amigo.
Então, estivemos a lutar com o senhor para receber a faca. Em seguida, meu amigo conseguiu puxar a faca e picou no pescoço do senhor”, contou. Por outro lado, Lito Carlos admite ser membro do grupo “Os Segredos”, e avança que tem dois anos de estrada nesta vida de associação de marginais. Mas nega ter participado no caso que vitimou mortalmente Francisco Orlando, atirando a autoria do crime ao seu comparsa, que foi transferi- do para a Comarca de Viana. “Eu sou de grupo. O nosso grupo é de luta, mas o meu amigo fez um homicídio. Eu não matei, quem matou foi um outro”, contou o adolescente de 15 anos.