A administração municipal de Maquela do Zombo quer reverter o uso “massivo” da língua lingala no município fronteiriço. O responsável considera o fenómeno uma “subjugação cultural” pelo que urge inverter a situação
Por: André Mussamo enviado a Maquela do Zombo
O administrador de Maquela do Zombo, província do Uíge, Bens Moco Henriques, considera “subjugação cultural expressiva” a disseminação e predominância da língua lingala no seio das comunidades do território sob sua jurisdição.
A autoridade representativa do poder político-administrativo do Estado angolano diz-se “preocupada com a situação” que, no seu entender, deriva das influências familiares e de factores históricos do passado recente. “Durante o conflito armado, grande parte dos munícipes buscou tranquilidade na RDC.
Estamos preocupados com este fenómeno cultural, em que o lingala vai invadindo o nosso território pouco a pouco”, lamentou Bens Henriques. Respondendo à constatação do jornal OPAÍS (matéria publicada a 22 de Fevereiro) de que em Maquela “procurar por falantes da língua portuguesa é um bico-de-obra”, o representante do Estado referiu que, apesar de todas as razões objectivas que alimentam o fenómeno, “é responsabilidade de todos, entre pais, igrejas, escolas e sociedade” combater o fenómeno e buscar o regresso às nossas línguas.
A língua predominante no território de Maquela do Zombo, e, em particular, na vila de Maquela é, em primeira instância, o lingala, vindo a seguir a língua kicongo. Só depois vem o por
tuguês. Numa pesquisa jornalística recente no terreno foi verdadeiramente como “procurar por agulha no palheiro” a nossa tentativa de constatar e recolher factos a publicar, servindo-se da língua portuguesa.
A alternativa foi fazer recurso ao kicongo. Segundo ainda o administrador, o fenómeno da disseminação do lingala no município de Maquela do Zombo continua a ser alimentado por largas franjas de estudantes nacionais que, por “opção, e, nalguns casos, por “carência” frequentam aulas na república vizinha.
As intensas trocas comerciais na zona fronteiriça e a busca por assistência médica na RDC são outros factores que criam condições “perfeitas para perpetuação e proliferação da língua do nosso vizinho a Norte do território angolano”. Apesar de ser uma língua africana que se deve valorizar, “não deve se sobrepor às nossas línguas nacionais e à língua oficial que funcionam como factores de unidade nacional”, asseverou aquela autoridade.
Bens Moco Henriques aproveitou a presença de jornalistas no território sob sua jurisdição, aquando da peregrinação pelos 100 anos de nascimento de Simão Toco, para apelar aos naturais e amigos da região a olharem para a terra natal e contribuírem, porque “o Governo sozinho não é capaz. Ideias e investimentos são bem-vindos à terra”.
Problemas mil oadministrador de Maquela do Zombo revela que a prioridade do momento são as estradas, particularmente aquelas que ligam a todas as comunas.
Segundo ele, o resto viria por arrasto. Aquela autoridade caracteriza o estado das vias de acesso às zonas rurais, comunas e áreas de maior produção agrícola, como sendo precário, sobretudo nesta época de chuva. “Este é um dos maiores constrangimentos que vivemos, pois limita a circulação de pessoas e bens, sobretudo as populações das zonas rurais”, salientou. Não havendo estradas em condições, não tem sido fácil levar os serviços sociais, tais como escolas, postos de Saúde e outros, em zonas consideradas recônditas, referiu.
Com um território bastante extenso na ordem dos 550 quilómetros quadrados e mais de 120 mil habitantes, maioritariamente localizados nas zonas rurais, designadamente nas comunas de Sacandica, Cuilo Futa, Beu e Kibokolo, Maquela do Zombo é também profundamente afectado pelas principais epidemias endémicas no território nacional. A malária continua a ser a principal doença e, consequentemente, a primeira causa de morte. Este ano, 5 a 6 mil alunos do ensino geral ficaram de fora do sistema por falta de salas de aula e professores.
Relações na fonteira são pacíficas
As relações entre os dois povos são “boas e pacíficas”. Ligados por uma herança histórica e em algumas circunstâncias por consanguinidade, angolanos e congoleses democráticos estão condenados a conviver em “paz e harmonia” tirando ambos os povos benefícios recíprocos.
Para o administrador, “tal ambiente” podia ser melhor explorado tirando vantagens até em benefício do próprio Estado, através do incremento de uma verdadeira actividade comercial transfronteiriça que podia trazer dividendos financeiros para o tesouro nacional.
Maquela do Zombo é um município que se situa na linha fronteiriça com a República Democrática do Congo e que faz fronteira com o município do Kuimba na província do Zaire a Oeste e a Este com o município do Kimbele, a Sudeste com os Buengas e a Sul com a Damba.
Possui uma extensão estimada em 550 quilómetros quadrados e a sua população está estimada em 127 mil habitantes maioritariamente localizada nas áreas rurais.
8 MW de electricidade de sobra
O abastecimento de energia eléctrica a Maquela do Zombo é assegurado através de uma linha de alta tensão que foi construída desde a sub-estação de Lucala (Cuanza-norte).
O paradoxal, no meio do enorme investimento público feito, é que dos 10 MW de potência energética transportada desde a barragem de Capanda até àquela vila apenas cerca de 1.6 MW tem serventia. Para alcançar Maquela do Zombo, a linha de alta tensão atravessa inúmeras comunidades nos municípios e bairros carentes de electricidade. um “paradoxo” criticado por muitos.
Os municípios da Damba, Mucaba e Bungo, atravessados pela linha de transporte de energia eléctrica, não são abastecidos pela mesma apesar de viveram “gritante carência”. Segundo o nosso entrevistado, a linha foi construída com o interesse principal de abastecer o projecto mineiro de Mavoi, que se encontra em fase de prospeção.