O vice-governador para o Sector Político, Social e Económico, Domingos Eduardo, repudiou o fracasso dos principais actores da sociedade na luta contra a prevenção e combate à malária, classificando-o como “uma vergonha para todos”
Texto de: Miguel José, em malanje
A província de Malanje registou 67 mil e 346 casos de malária, dos quais 79 resultaram em morte, no primeiro trimestre deste ano, mais do que o dobro dos casos ocorridos ao longo do ano passado, que teve uma cifra de 32 mil e 429 pacientes, tendo 64 falecido, revelou o director local da Saúde, Avantino Sebastião.
O gestor fez estes pronunciamentos na abertura do Fórum Provincial de Luta Contra a Malária (FPLCM), sob o lema: “Prontos para Vencer a Malária”, que se reuniu recentemente para reflectir, em torno da sua trajectória, sobre o controlo e acções de combate à malária na província.
Avantino Sebastião explicou que, embora o sector que dirige tenha orientado e implementado linhas de acção como a distribuição de redes mosquiteiras, fumegação e pulverização intra e extra domiciliar, saneamento ambiental; cuidados básicos de responsabilidade individual, o aumento de casos deve-se às lacunas registadas na execução das referidas medidas de combate à endemia.
“Nós sabemos que o saneamento básico no nosso país é precário. Isso contribuiu, em certa medida, para que todas as acções que estamos a implementar não tenham tido sucesso”, consentiu. Para mitigar a situação, o responsável advogou a necessidade, imediata de se proceder à revisão do programa vigente, no intuito de reduzir-se os índices de multiplicação de casos.
Para tal, aventou como sendo um dos caminhos reportar de forma coordenada à Direcção Provincial da Saúde as acções que cada membro do Fórum Provincial tem empreendido, no sentido de evitarse a duplicação de acções a nível das comunidades, assim como minimizar custos e esforços desnecessários.
Combate à malária reside na prevenção
Socorrendo-se do lema “Prontos para Vencer a Malária”, o presidente do Fórum Provincial de Luta Contra a Malária (FPLCM), Valdemar Cassombe, afirmou que o momento é de disponibilidade total. No seu entender, se todos estiverem organizados e unidos, coordenarem melhor as acções e aplicarem de forma devida os poucos recursos que forem disponibilizados, poder-se-á obter melhores resultados.
De acordo com o presidente do Fórum, a malária, além de ser uma das principais causas de morte em Angola, constitui um mal que afecta e empobrece as famílias e coloca em risco o desenvolvimento do país.
Pelo que, disse não compreender como é que que mesmo havendo um conjunto de estratégias e fundos colocados ao serviço do combate à malária, notar-se cada vez mais uma insuficiente capacidade para contrapor a tendência evolutiva da endemia, tendo em conta o seu impacto nas comunidades.
“É triste compreender como uma doença com a possibilidade de ser prevenida, mas devido a atitudes e práticas humanas negativas, na relação com o meioambiente, esteja na base da incidência de casos de doenças e de mortes no país, particularmente em Malanje”, lamentou. Face a essa gravidade, o responsável apelou à revisão das estratégias de actuação em vigor, visando aliviar os casos de malária no seio das populações e projectar o desenvolvimento que a província tenciona alcançar.
“Temos que assumir com coragem o nosso fracasso e entender que o combate à malária reside na prevenção. Pelo que, é importante que as grandes endemias continuem a merecer atenção no quadro das prioridades do país”, declarou. Entretanto, no âmbito das directrizes do Programa Nacional de Controlo da Malária (PNCM), para uma resposta concertada e alargada contra a endemia, Valdemar Cassombe assegurou que a sua organização se predispõe a trabalhar com o Governo da Província e parceiros.
Explicou que há necessidade de se tirar maior proveito dos mecanismos de coordenação e de concertação, bem como a necessidade urgente de se fazer funcionar a Comissão Provincial de Luta Contra a SIDA e Grandes Endemias, como forma de congregar, coordenar e orientar melhor os esforços.
“O fracasso no combate à malária é uma vergonha”
O vice-governador para o Sector Político, Social e Económico, Domingos Eduardo, ao proceder à abertura oficial do fórum, admitiu que a malária continua a ser a principal causa de morte e de doença no país, e Malanje não é excepção. Com custos humanos, materiais e financeiros bastante elevados e com uma incidência aproximada de 30 por cento, afirmou que a malária constitui um enorme problema de saúde pública, aliada às grandes endemias.
Razão por que, segundo o governante, o seu combate e prevenção tem merecido total prioridade do Executivo. Domingos Eduardo reconheceu que o Governo tem responsabilidade acrescida de garantir os serviços básicos à população, mas, ainda assim, lembrou aos participantes no encontro que a luta contra a malária deve ser assumida por todos os actores da sociedade.
E, por outro lado, que a acção dos grupos organizados, associações e organizações não-governamentais é de extrema importância, por contribuírem na educação para a saúde, através da componente prevenção, que é muito menos onerosa. Insatisfeito com o índice elevado de casos apresentados, o governante repudiou o fracasso dos principais actores da sociedade na luta contra a prevenção e combate à malária “é uma vergonha para todos nós, enquanto governantes, enquanto responsáveis, enquanto cidadãos. Também é, não só uma vergonha para Malanje, mas também nacional”.
Adiante, Domingos Eduardo comparou países com menos recursos que Angola, como CaboVerde e São Tomé, que conseguiram obter sucessos no combate à malária e aconselhou que os fóruns devem ser aproveitados para analisar e reflectir sobre toda a cadeia de combate à malária, para evitar que a endemia continue a ‘prosperar’ no seio das comunidades. “Que todos nós tenhamos vergonha na cara!
Precisamos de acordar e fazer muito mais (…)”, recalcou. Em face disso, para contrapor eficácia à situação, está criada, desde o mês de Janeiro do ano em curso, uma Comissão Interministerial com várias linhas de acção que dão maior enfoque à prevenção da malária.
Porém, ao nível local, existe uma Comissão Inter-sectorial que congrega organismos estatais, incluindo as Forças Armadas Angolanas e a Polícia Nacional, autoridades tradicionais e eclesiásticas, bem como as direcções provinciais da Saúde e Juventude e Desportos.