Um total de 167.826 ex-militares das extintas Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA), na província da Huíla, reclama a sua inserção no seio dos antigos combatentes e desmobilizados de guerra, para que possam beneficiar dos apoios a que têm direito na Caixa Social das Forças Armadas Angolanas.
Os homens, que dizem ter lutado também para a conquista da paz em Angola, sentem-se abandonados pelo Governo que, no seu entender, não está a cumprir com as obrigações saídas dos acordos de Bicesse, que entre outros aspectos visou a criação de um exército único no país.
Alguns dos ex-militares que falaram para a reportagem do jornal OPAÍS afirmam estarem agastados com as promessas feitas pelas entidades vocacionadas para a resolução do problema que já dura mais de duas décadas. Segundo os entrevistados, o dossier já é do domínio dos altos responsáveis das Forças Armadas Angolanas (FAA) por via dos vários processos de cadastramento realizados desde o início. A falta de informação, segundo dizem, é uma das questões que aumenta ainda mais as suspeitas sobre o suposto abandono pelo Governo.
Damião Kaliqui, ex-militar, revelou que o grupo de antigos colegas de trincheira já se dirigiu ao Comando da Região Militar Sul para apurar as informações sobre a sua inserção na caixa social, onde lhe foi dito que o processo já tinha sido encaminhado ao Gabinete Provincial dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria. António Joaquim dos Santos, outro ex-militar, revelou que a situação tem vindo a criar vários constrangimentos na sua família composta por 10 integrantes, que, para o seu sustento, tem recorrido à venda de diversos bens no mercado paralelo do Mutundo.
“Nós que um dia demos o melhor que tínhamos, a nossa vida, a nossa juventude para que tivéssemos paz neste país, hoje somos desprezados por aqueles que deveriam velar pelos nossos direitos. Já fomos ao Gabinete dos Antigos Combatentes, mas lá disseram-nos que o assunto não era tratado por eles, que lá só se trata de antigos combatentes. Afinal, nós somos o quê?”, questionou.
As nossas fontes revelaram, por outro lado, que entre os mais de 100 mil ex-militares, constam igualmente viúvas, órfãos e deficientes de guerra que nunca receberam qualquer apoio do Governo, no âmbito dos acordos acima descritos. No entanto, a nossa equipa de reportagem contactou o Gabinete Provincial dos Antigos Combatentes, na pessoa da sua directora, Verónica Rito, por via telefónica, sem gravar entrevista, esta respondeu que o assunto não é do seu pelouro, mas sim do Instituto de Reintegração Sócio-profissional dos ExMilitares.
POR: João Katombela, na Huíla