Semanalmente, as missionárias católicas da congregação Escravas da Santíssima Eucaristia e da Mãe de Deus têm de gastar cerca de 60 mil Kwanzas para abastecer, por duas vezes, metade do tanque do lar de 40 mil litros
Verónica Kuva, a madre responsável do Lar Bakita, situa- do no bairro Gamek, município de Luanda, disse, ontem, a O PAÍS, que a sua comunidade deseja ardentemente que se faça ligação de água no inter- nato feminino, a fim de o dinheiro gasto na aquisição do precioso líquido se reverter para outras necessidades das crianças aí acolhidas. “Durante a semana, temos de comprar duas cisternas de água de 20 mil litros, algo que não fica me- nos de 55 mil Kwanzas.
E a criança é sempre criança, pode-se aconselhar a poupar a água, mas, volta- e-meia, quando lava, quando toma banho, ela gasta mesmo, porque ainda não desenvolveu a consciência de que está a gastar água a mais”, realçou a madre. Refira-se que o tanque da comunidade religiosa tem a capacidade de 40 mil litros de água e que elas optam por comprar apenas metade, por não possuírem mais recursos financeiros para tal.
Aliás, a freira deixou escapar que, para depositar essa quantidade, o colectivo das missionárias tem de fazer um esforço considerável e privar as crianças de outros bens, como roupa, calça- do, acesso nas melhores escolas da zona, parte de materiais escolares e, algumas vezes, refeição completa.
A missionária conta que, durante o período de pico da pandemia da Covid-19, elas e as suas correligionárias do lar tiveram a sorte de estar frente-à-frente com alguns responsáveis da Empresa Provincial de Água de Luanda (EPAL), a quem solicitaram que lhes fizessem a ligação, por via de um contrato. “Contactámo-los já, a ver se nos facilitassem o contrato e a ligação,mas eles ainda nos remeteram à administração municipal, da qual só conseguimos que nos abastecessem o tanque de casa, por duas vezes”, contou a irmã Verónica Kuva, para quem o favor não conseguiu resolver muitos problemas, a julgar peos mais de um ano e meio de confinamento.
Segundo a madre, quando insistiam em pedir para lhes ligar a água à casa, os funcionários da EPAL alegavam que isso não era da competência deles. Verónica Kuva, que confirmou as duas presenças de técnicos da empresa de água, no Lar Bakita, reiterou dizendo que, todas as semanas, a casa gasta mais perto de 60 mil Kwanzas, um valor que, para ela, já daria para minimizar muitas das carências das meninas do lar. “Apoios sazonais à Covid-19 deviam continuar” A responsável do lar falou da entrada em cena de muitos voluntários e algumas instituições privadas ou estatais, que se ofereceram para prestar alguns apoios às crianças do internato feminino do Gamek.
“Durante a pandemia, além da água, por apenas duas vezes, um grupo de militar trazia, todos os dias, para o lar, 300 pães e, graças aqueles pães, as crianças puderam ver acrescentado no leque das suas refeições diárias o lanche, recordou a irmã Verónica, tendo adianta- do que, até à data dessa entrevista, não soube nada sobre a proveniência dos referidos militares. Ela recordou aos que se condo em com a situação das crianças em tempos muito difíceis para reconhecerem que a fome dos petizes não tem férias.
“ Os apoios que apareceram e pareceram sazonais à Covid-19 deviam continuar a serem feitos, porque as carências das crianças não param, enquanto elas não se tornarem adultas e auto-suficientes. De momento, o lar alberga, controla e assiste 40 crianças, um número aquém do desejo actual das missionárias católicas Escravas da Santíssima Eucaristia e da Mãe de Deus, que se justificam pelas grandes dificuldades no lar.