A liga dos deficientes quer que se passe a ver as mulheres invisuais como pessoas com direitos a serviços de saúde de qualidade
O coordenador nacional de programas de advocacia da Liga de Apoio à Integração dos Deficientes (LARDEF), António Afonso, manifestou a O PAÍS a preocupação da sua organização em relação aos maus tratos por que passam as mulheres cegas que recorrem aos serviços de maternidade e infância em algumas instituições hospitalares. “Muitas vezes, elas são maltratadas pelas parteiras que as questionam, recorrentemente, porque, na condição de cega em que se encontram, ainda se engravidam”, contou o coordenador da LADERF, assegurando que ele e os seus colegas recebem muitas queixas do género.
Por causa dessa postura por parte de algumas parteiras, a que António Afonso classifica como tratamento menos adequa- do, a LARDEF está a trabalhar num projecto com o Ministério da Saúde (MINSA) para se sensibilizar o pessoal da Saúde no país, de modo que se passe a ver as mulheres invisuais como pessoas com direitos a serviços de saúde de qualidade. Para o responsável pela advocacia e sensibilização dessa e de outras classes tidas como vulneráveis, esse tipo de tratamento leva as invisuais a serem duplamente discriminadas.
Primeiro, pelo simples facto de serem mulheres e, depois, por serem portadoras de deficiência visual. No projecto de defesa e apoio às mulheres cegas, a LARDEF trabalha com a Associação Nacional de Cegos e Ambíopes de Angola (ANCAA) para ter noção das situações e necessidades reais do grupo alvo em causa, sobretudo das mulheres invisuais, às quais a liga dos deficientes dedica atenção redobrada. Outra preocupação manifestada por António Afonso teve a ver com os deficientes que fazem uso de cadeira de rodas de rodas, que se queixam das alturas das marquesa, que, por serem muito altas, não lhes facilitam o acesso.
Quanto à acessibilidade nas instituições, o responsável da LAR- DEF reconheceu ter havido um esforço da parte do Governo em cumprir com a sua obrigação neste sentido, já que muitos estabelecimentos estatais possuem rampas para que os portadores de deficiência física se movam. O mesmo não pôde dizer do acesso aos transportes públicos. Ali- ás, sobre este fenómeno, referiu-se dos novos autocarros dos Transportes Colectivos Urbanos de Luanda (TCUL), muito publicitados com elevadores para os da sua classe.
“Esses novos autocarros vêm adaptados com elevadores hidráulicos, mas, infelizmente, parece-me que a empresa não formou técnicos para o manuseio dos referidos aparelhos para os serviços destes resultantes estarem disponíveis sobretudo aos ́caderantes ́”, lamentou António Afonso, puxando a sua condição de portador de deficiência que faz uso de uma cadeira de rodas para se locomover. Para o coordenador da LARDEF, DR DR com o passar do tempo, esses meios vão acabar por se estragar porque não são usados. De acordo com o próprio, o problema se agrava ainda mais quando o único ponto de acesso aos transportes adaptados a favor das pessoas com necessidades especiais, devidamente sinalizadas, é invadido pelos passageiros, desreipeitando-se assim um direito dos deficientes.
“E isso acontece mesmo sobre o olhar impávido dos funcionários das transportadoras”, reclamou António Afonso, que esperava destes uma pronta intervenção no sentido de se repor a ordem. Segundo ele, as pessoas com a sua condição encontram barreiras que, actualmente, já não se esperava que acontecessem. Organização virada para orientação Há 26 anos a trabalhar pela causa dos deficientes em Angola, a LARDEF está virada para a orientação e formação, através de um outro pacote de geração de rendimentos, com um programa para mulheres, jovens e crianças. A intervenção com programas de advocacia e sensibilização levam ao meio dos alvos, adicionando a isso possíveis apoios no âmbito económico.