O enfermeiro Abel Capango foi detido pelo Serviço de Investigação Criminal (SIC) Luanda sob a acusação de ser o autor do aborto que provocou a morte da cidadã Teresa José Miguel, solteira de 31 anos de idade. Para a realização do aborto, a vítima desembolsou 130 mil kwanzas
No dia 31 de Dezembro de 2022, a equipa de operação do SIC no município do Cazenga deteve o enfermeiro, de 56 anos de idade, por estar envolvi- do nos crimes de interrupção de gravidez e homicídio negligente. De acordo com o director de comunicação institucional e imprensa do SIC Luanda, Fernando de Carvalho, a situação teve início no dia 17 de Dezembro, quando a malograda se dirigiu ao centro médico Abel Capango, com objectivo de interromper a gravidez de sete meses, depois de ter negociado o valor de 130 mil kwanzas.
“O enfermeiro Abel Capango exerceu uma especialidade que não está habilitado, tendo feito uma cirurgia uterina e internou no centro no período de oito dias. Recebeu alta no dia 25 de Dezembro e, no dia 26, os familiares levaram para a maternidade Lucrécia Paim, porque carecia de cuidados médicos. Três dias de- pois, no dia 29, conheceu a mor- te”, conta.
Abel Capango, agora detido, explica que nunca trabalhou efectivamente numa unidade sanitária, de 1993 a 1994 cooperava com o hospital Josina Machel, mas por causa do salário que auferia decidiu deixar a cooperação e trabalhar em centros médicos privados. Posteriormente, abriu o seu próprio centro e decidiu ingressar no Instituto Superior Politécnico do Cazenga, para cursar enfermagem. No seu centro tem realizado consultas de medicina geral e pequenas cirurgias, e disse que a paciente chegou à sua unidade com hemorragias e a assistiu durante três dias.
População sai em defesa do enfermeiro
O SIC, para além da apresentação, convidou a imprensa, a deslocar-se ao local do crime, no bairro Tunga Ngó. No bairro, tão logo a população apercebeu-se da situação, e da presença da imprensa, fomos surpreendidos por uma multidão que veio em defesa do enfermeiro, inclusive alegando que a jovem, vítima mortal, já não estava bem quando procurou pelos serviços do enfermeiro. “A jovem não reside nas redondezas, veio de um outro município, e quando chegou ao centro já não estava de boa saúde. Pelo facto de ser paciente, o tio Abel sentiu-se obrigado a atender, isto porque já houve um caso de um cidadão que não o assistiu no seu centro, em estado crítico, que acabou por falecer”, disse, Francisco Yanga.
Francisco Yanga é um dos moradores da rua sete e afirma que o centro de saúde está naquela rua há mais de 20 anos, porque a sua filha de 22 anos de idade, quando nasceu, a unidade já ali funcionava. Durante este período tem ajudado os moradores da zona e não só, sendo que também é pro- curado por muitos cidadãos vindo doutros municípios, inclusive mesmo doutras localidades fora de Luanda.
De acordo com o interlocutor, a jovem foi assistida pelo enfermeiro Abel e regressou à casa acompanhada com a mãe e o irmão. A população gritava em uníssono “queremos o nosso doutor”, muitos com os olhos cheios de lágrimas, porque acreditam que, com o centro fechado, avizinham-se dias piores. “As amigas da moça sabem o que realmente aconteceu, o tio Abel é inocente, nunca nos trouxe problema no bairro, pelo contrário, nos tem ajudado bastante, tendo em conta que nos atende com dinheiro ou sem dinheiro.
Os hospitais estatais ficam muito cheios e várias vezes somos abandalhados ou ignorados”, dizia-se entre a população. Dona Inês Maria contou que trabalhou no centro Abel Capango como empregada doméstica, e confirma que o enfermeiro Abel tem desempenhado devidamente as suas funções, até porque também recebia doentes vindos de diferentes pontos do país. Quando o paciente apre- sentava um quadro preocupante, disse, encaminhava para as unidades sanitárias de referência.
Um outro morador da rua sete, Martins Domingos, também entrou no mesmo diapasão de que o enfermeiro Abel é um bom profissional. Falava apontando para a sua perna e mostrou uma cicatriz de uma ferida crónica que tinha, que não sarava há 16 anos, e foi curada pelo enfermeiro Abel. O mesmo aconteceu com a dona Inês Maria, que frisou que mui- tos moradores procuram os seus serviços e não chegam a pagar, fazem quilápi. Teresa Miguel, a vítima, deixa dois filhos menores, de seis e quatros anos.