O plágio e a compra de monografias apresentadas nas universidades e institutos, como requisito para obtenção do grau de licenciado em determinada área do saber, têm estado a preocupar estas instituições que, para conter a prática, estão a instalar mecanismos informáticos para facilitar a detenção de fraude académica
Considerado um problema que enferma a investigação científica, no país, a baixa qualidade das monografias, resultante da prática de cópia de trabalhos desenvolvidos com tema semelhante, está a ser encarada com seriedade pelos responsáveis dessas organizações, em prol da elevação da ciência ao nível nacional.
O vice-presidente para a área científica e pós-graduação do Instituto Superior Politécnico Kalandula, Moisés Cacama, reconheceu o problema na sua instituição, e disse que, para eliminar a prática, vão adquirir o software “plagium” através do qual vai ser possível detectar trabalhos plagiados.
Além disso, Moisés Cacama re- velou que, pelos contornos alarmantes que o assunto está a atingir, a instituição está a apoiar um grupo de estudantes que se encontra a trabalhar no desenvolvimento de uma solução informática para detecção desses tipos de monografias, ainda neste ano académico 2023-2024. “Isto é um problema de quase todas as instituições do ensino superior. Por isso, estamos a implementar algumas ferramentas para tentar minimizar as lacunas, que é o Plagium, um detector de plágio”, disse, garantindo que os próximos trabalhos na instituição terão maior qualidade de investigação científica.
Reprovação de trabalhos “comprados”
O docente condena a prática de estudantes que pagam terceiros para que façam o trabalho de investigação científica no seu lugar, por considerar o acto inadmissível do ponto de vista ético, no que à integridade intelectual diz respeito. Por este facto, a instituição tem estado a reprovar os trabalhos cujos supostos autores, neste caso os estudantes, apresentam fortes debilidades na apresentação e defesa do conteúdo constante na monografia. Enquanto isso, professores que são descobertos num provável envolvimento nessas práticas são expulsos. “Nós, enquanto instituição de ensino, aos professores que ousam cobrar alguma joia a estudantes, aplicamos sanções, até as mais graves que é a expulsão.
Ao vermos que o estudante está com muita dificuldade em explicar o trabalho, reprovamos o trabalho e demos algumas recomendações”, explicou. Normalmente, justificou, esta tem sido a atitude da instituição, pelo facto de que, dificilmente, os estudantes envolvidos confessam que procederam à compra da monografia em causa. “Uma maneira de acabar com esta prática é reprovar o trabalho. Em questões mais gravosas, volta a pagar os emolumentos”, adiantou.
Seminários de investigação científica
Para este responsável, a qualidade das monografias remete para muitos questionamentos, que transpõem o plágio e a compra de trabalhos, actos que, para si, chegam a ser consequência, também, da quantidade de estudantes que entra para o ensino superior com muitas debilidades, além do corpo docente não apto.
Por isso, explicou que o Instituto Superior Politécnico Kalandula opta pela obediência ao princípio estabelecido pelo órgão ministerial da tutela, que orienta a contratação de professores com nível de mestrado ou doutoramento. Por outro lado, passou a realizar seminários de investigação dirigido a estudantes finalistas. “Admitindo um corpo docente que não tem experiência na matéria de investigação científica acaba por dificultar os estudantes na elaboração dos trabalhos de fim de curso, os estudantes têm orientadores sem experiência em investigação científica”, avançou.
Politécnico do Kilamba: vamos ter detector de plágio em duas semanas
O presidente do Instituto Superior Politécnico do Kilamba, David Suelelo, garantiu que dentro de duas semanas, no máximo, a sua instituição vai dispor de meios informáticos que permitem a detecção de plágio de monografias. “Estamos a providenciar meios necessários para que possamos ter instrumentos informáticos de detecção de plágio. Isso é urgente. Dentro de uma a duas se- manas teremos esses meios disponíveis”, avançou.
Explicou ainda que o Instituto definiu uma política interna de combate e desincentivo à fraude académica alinhada ao sistema nacional de gestão de qualidade do subsistema do ensino superior, que passa pela criação de um centro com meios informáticos que permitam esta acção. Esclareceu que a aposta da instituição nesse sentido surge na medida que a sua experiência dita que, unicamente com o rigor humano, não é possível detectar todas as irregularidades nesse domínio.
No entanto, na ausência desses mecanismos informáticos, o responsável adiantou que, durante a apresentação e defesa dos temas de monografia do primeiro grupo de licenciados, um número de estudantes foi castigado com a reprovação, por mostrarem indícios de suposta compra de trabalho. “Nós já tivemos casos, aqui, de reprovação em plena prova pública. Já tivemos reprovação em plena defesa. O estudante fez o pagamento, submeteu o trabalho, mas, no dia da defesa, o júri entendeu que a apresentação oral não justificava o trabalho escrito e houve reprovação”, disse.
Da monografia à outorga: custo pode rondar os 500 mil kwanzas
Cumprido o período curricular, antes de deixar a universidade, ou um determinado instituto superior, deve-se elaborar uma monografia e, uma vez aprovado, participar, opcionalmente, da cerimónia de outorga. No entanto, o processo tem custo. Na Universidade Privada de Angola (UPRA), de acordo com a sua actual tabela de emolumentos, o valor do trabalho de fim do curso fica em 328 mil kwanzas. Mais tarde, a este valor, deve-se acrescentar 125mil kwanzas referentes ao certificado e ao diploma. Feito isso, o processo termina, se o estudante decidir não participar da cerimónia de outorga, actividade que exige uma beca como indumentária. O seu custo é outro passivo a considerar.
Enquanto isso, no Instituto Superior Politécnico Kalandula, a monografia tem um custo de 195 mil kwanzas que, segundo o seu vice-presidente para área científica, serve para pagar o professor orientador. Porém, o responsável nega quaisquer influências do valor na qualidade do trabalho. Para o presidente do Instituto Superior Politécnico do Kilamba, onde a monografia custa 200 mil kwanzas, os emolumentos são transversais a todas instituições, porém, a diferença está no valor, sendo que algumas cobram mais e outras menos. “Os valores são usados para pagar os entes que concorrem e participam de todo o processo: a banca, o arguente, orientador e o presidente”, justificou.
Estudantes culpam instituições
Leonel Pereira é estudante de Direito. Está no seu último ano de frequência universitária, mas refere que, a julgar unicamente pelo conteúdo que lhe foi transmitido, durante o período de formação, não estaria preparado para dar início à elaboração do seu projecto final. O estudante diz que tudo que recebeu da universidade relativamente à execução de monografia não passa de básico, o que é insuficiente. Por isso, acrescentou, muitos preferem comprar, ou copiar totalmente outros trabalhos, o chamado plágio.
“Eu não tive uma boa preparação para escrever a monografia, durante a formação. Por esta razão, muitos colegas preferem comprar ou fazem plágio”, entendeu, augurdo que, no presente ano lectivo, possa receber conhecimentos mais profundos sobre o tema, apesar de nutrir certo cepticismo quanto a isso. O futuro jurista acredita ainda que a fraca valorização que as instituições dão às melhores monografias desincentiva os estudantes a dedicarem muito esforço nos trabalhos de fim de curso.
Por sua vez, Arminda Estêvão, do quarto ano de Psicologia, garante que, expcecionalmente, aprendeu o suficiente para que, com ajuda de um orientador, possa escrever a sua monografia, pois foi-lhe ensinado que plagiar é crime. Nesta altura, aguarda apenas pelo estágio para definir o seu tema. “Estou à espera do estágio para eu poder escolher um te- ma, porque tenho de escolher de acordo com a matéria que eu dominar no estágio. Pois, o trabalho será feio por mim mesma e não por outra pessoa”, garantiu.