Produtores do ramo de plásticos em Luanda, Benguela e Huíla concordam com a necessidade de substituição do plástico pelo vidro e sacos de papel, em prol da ‘salvação’ do ambiente.
Há quem já tenha optado por fazer uma avaliação do mercado para introdução do papel e garrafa antes mesmo que se decrete o ‘fim’ do plástico.
Especialistas alertam que caso seja implementado a curto prazo, a medida pode ter um impacto negativo na vida das famílias e empresas
O Despacho Presidencial 289/22 de 30 de Dezembro, que traça medidas para a proibição do uso de sacos plásticos em Angola, apanhou de surpresa muitas empresas com investimento no ramo, apesar de considerarem a medida necessária.
Em Luanda, principal centro de produção de plásticos dos mais variados tipos, a fábrica Multifab Indústria Lda, já começou a avaliar o mercado para apostar na produção de sacos de papel, em substituição do plástico, depois da publicação do referido Despacho.
O director da Multifab, Abo Kassir, referiu que a fábrica vai reinventar-se e já foi aprovado pelos investidores o projecto para a produção de embalagens de papel, o que poderá acontecer nos próximos anos.
Apesar de ser um processo que carece de tempo para a sua efectivação, avançou que estão a ser feitas pesquisas para a compra de máquinas para a produção de embalagens de papel noutros mercados.
“Temos planos para investimentos nesses sectores de embalagens para apoiar as novas fábricas que estão a surgir em Angola e que têm cada vez mais necessidade na aquisição de sacos de papel para os produtos feitos em Angola”, explicou.
Em Benguela, estão implantadas duas fábricas de produção de plásticos, contando com um grosso de 75 funcionários, segundo a Associação Industrial de Angola (AIA).
O delegado da referida Associação, Carlos Leiria, diz estar consciente da necessidade de as empresas do segmento dos plásticos se reinventarem, substituindo o seu actual negócio para outros mais amigos do ambiente.
O também empresário reconhece a necessidade de se apostar, fortemente, na reciclagem de plásticos, mas chama atenção para a promoção, cada vez mais, da educação ambiental nas famílias, não ficando de fora a escola.
Na província da Huíla, propriamente na cidade do Lubango, existem duas fábricas de engarrafamento de água mineral, que têm nas garrafas plásticas como elemento essencial do seu negócio.
Waldemar Ribeiro, responsável da fábrica de Águas Preciosa, disse que as grandes superfícies como supermercados e padarias podem partir para o uso do saco em papel que depois de descartado decompõem-se com facilidade.
Ribeiro não tem dúvidas que a médio ou longo prazos o plástico será banido, mas recomenda que se recomece pelas pequenas práticas do velho tempo. “É possível sim usar os sacos em papelão, porque são fáceis de se degradar em vez do plástico.
Antigamente, usava-se o saco de pão que era feito de tecido, porque não voltar? Basta que seja limpo” recomendou.
Vidros podem encarecer produtos
Entretanto, Waldemar Ribeiro considera que para o sector em que actua, a introdução de novas embalagens que não sejam o plástico, ainda é uma ‘miragem’ que, se alcançada, poderá encarecer vários serviços e bens, tendo em conta que Angola ainda vive de importações.
“Como Angola vai acabar com os plásticos que são utilizados na embalagem de alimentos, uma vez que nós, os angolanos, não produzimos alimentos suficientes para responder às necessidades das famílias”, questiona.
Reforça que esta mudança teria também uma repercussão negativa no preço dos bens vendidos, em função do alto custo de produção, uma vez que o fabrico de garrafas em vidro existe apenas em Luanda.
“Para substituir uma garrafa de água para o vidro, implicaria alterar o preço final, porque o vidro é mais caro que o plástico, uma vez que nas outras províncias não se fabricam vidros, a sua transportação seria também mais cara” realça.
Já Carlos Leiria, da Associação Industrial de Benguela, afirma não existir razões para alarmismo, todavia adianta que, neste particular, o Governo tem responsabilidades acrescidas. Adverte que se está a criar uma ideia errada de que os plásticos vão desaparecer ‘do mapa’, o que para ele não é verdade.
Carlos Leiria entende que os plásticos podem até diminuir, mas o mundo vai precisar sempre desse material. “Nós vamos precisar sempre dos plásticos”, sublinha, acrescentando que, por esta razão, não se revê no termo ‘banir’ adoptado como epígrafe do documento.