A directora executiva da Liga de Apoio à Integração dos Deficientes (LADERF), pediu aos importadores nacionais para deixarem de comprar cadeiras com dimensões maiores do que as portas de casa e do serviço. “O Estado e as empresas privadas que importam as cadeiras-de- rodas devem passar a consultar os usuários das mesmas e as organizações que trabalham com e para as pessoas com deficiência.
Importam-se muitas cadeiras maiores do que as portas das nossas casas e dos nossos locais de trabalho”, reclamou a directora da LA- DERF, revendo-se na condição de usuária do referido meio. Segundo Idalina Bota, por ser muito grande, a cadeira obriga os deficientes a abrirem exageradamente os braços, para accionarem o movimento desses meios, de forma que provoca lesões ao longo dos membros superiores e exigindo um esforço maior que pode desembocar em dores no peito.
Idalina Bota propõe também aos dirigentes angolanos para tratarem de uma rubrica dentro do Orçamento Geral do Estado (OGE) que facilite a aquisição das mesmas. Adiantou que há necessidade de o Estado reforçar a parceria com as associações, a fim de entender, cada vez mais, que, para um deficiente, uma cadeira-de-rodas funciona como se fosse parte do seu corpo. Finalmente, considerou que a maior parte desses meios importados constituem um autêntico perigo, além de terem pouca dura.
LADERF incapaz de doar esse meio
Numa entrevista que, recentemente, o coordenador de programas de mobilização de membros e advocacia da Liga de Apoio à Integração dos Deficientes (LADERF), António Afonso, havia prestado ao jornal OPAÍS tinha informado que, à sua instituição, se dirigem muitos deficientes com o intuito de pedir cadeiras-de-rodas.
“Lamentavelmente, nós também não temos capacidade de satisfazer solicitações do género, porque nós também fazemos pedidos aos ministérios e a outras instituições do Estado, onde, na maior parte das vezes, só nos mandam aguardar”, queixou-se, na ocasião, o coordenador de programas da LADERF, tendo adiantado, que, como parceiros, se remetiam a esperar.
Nessa circunstância, António Afonso havia garantido que a única ajuda imediata que a sua instituição dava era arranjo desses meios. E, a julgar pela necessidade, os funcionários da LADERF já projectam a criação de uma oficina para estes e outros fins tendentes à disponibilidade de cadeiras-de- rodas.
“Quero Bengala-guia para eu não ser mais um emprego da minha esposa”
Quando o invisual Habacuque da Rosa Alberto, de 29 anos de idade, se recorda que a sua companheira Maria Esperança, 26, tem de o guiar para ir a este ou àquele lugar, excepto aos compartimentos da casa onde residem, actualmente, na rua dos Vampiros, imediações do popularmente conhecido como mercado Catinton, distrito da Maianga, em Luanda, ele lamenta pelo facto de ainda ́ constituir ́ mais um “emprego” para a sua esposa. “Eu quero conseguir uma bengala-guia, para não continuar a ser mais um «emprego» para a minha mulher”, disse Habacuque da Rosa, tendo adiantado que, pela informação que tem ti- do, esse meio não fica por menos de 150 mil kwanzas, com a agravante de quase não haver à venda, no país.
Refira-se que foi por conta disso que Habacuque deixou de frequentar as aulas na escola especial dos Congolenses, distrito urbano do Rangel, em Luanda. Razões de ordem financeira para a cobertura dos táxis, nas deslocações diárias, estiveram alia- das à primeira evocação do deficiente visual. A escola não é a única coisa que Habacuque da Rosa perdeu, pois o seu emprego como panificador numa padaria também ficou comprometido, por conta da sua situação. Segundo conta, começou a ter baixa visão em 2002, quando, numa manhã, vinha do rio, no bairro da Lambi, município do Hebo, na província do Cuanza Sul, onde nasceu, e, de repente, sentiu como se lhe tivesse entrado nos olhos uma quantidade considerável de poeira.
“Aí, começou o meu problema, tanto é que logo a seguir, os mais velhos me recomendaram a ficar dentro de um quarto fechado, durante um ano, isso desde Janeiro de 2002 a Fevereiro de 2003”, recordou Habacuque da Rosa, tendo acrescentado que, nessa altura, estava proibido a ter contacto com os mora- dores da aldeia, já que se queixava de muitas dores. Depois desse período e de abrandado o sofrimento, libertou-se da privacidade, mas via com alguma dificuldade, ao ponto de não conseguir identificar pessoas ou objectos a mais de dez metros.
Com ajuda de familiares e amigos, ainda esteve em consultas e tratamentos, em hospitais de referência, como um local da sua província e o especializado de Benguela. Entretanto, as diligências não alcançaram efeito desejado, alegadamente, por terem procurado tarde os serviços médicos. “Foi uma grande luta para conseguir dinheiro de viagem a Benguela e, posteriormente, para Lu- anda (2011), até que cegou ‘total- mente’, em 2014.
De lá para cá, a sua vida tem-se alicerçado em muita fé e determinação, pondo, à frente, a luta pelo sustento e pela reafirmação. A par disso, Habacuque confessou que o seu enlace com Ma- ria Esperança veio devolver-lhe a confiança de juntos superarem as adversidades do dia-a-dia. A igreja pentecostal Monte Horeb, onde o casal professa a sua fé cristã tem sido um baluarte para os dois. Aliás, já foi por essa via que Habacuque recebeu o primeiro apoio para uma consulta de oftalmologia, que, na altura, impunha uma viagem do município do Amboím (Cuanza Sul) a Benguela.