O porta-voz da Diocese de Benguela, Padre Zeferino, desmentiu, numa curta conversa com este jornal, por via telefónica, informações postas a circular, nos últimos dias, de que o padre Adriano Ukwatchali, director-geral do Instituto Superior Católico, teria renunciado ao cargo por alegado escândalo sexual
Informações até aqui não desmentidas — nem pela Igreja Católica muito me- nos pelo visado — apontavam para o facto de o sacerdote em causa estar envolvido em um escândalo sexual com uma jovem que a pagina do activista social Salazar José identifica como Ana Inácia Panela.
O aludido activista acusa a jovem de ter sido amante do padre. De acordo com a denúncia pública, a relação resultou em uma gravidez e o padre teria sugerido à jovem que a interrompesse. Por conta disso, ela teria pedido seis milhões de kwanzas para se sujeitar a tal prática – sustenta o activista José Salazar “Sacatindi”.
Entretanto, contactado propositadamente por este jornal, o porta- voz da Diocese de Benguela, padre Zeferino Capoco, manifestou desconhecimento de um alegado escândalo sexual, até porque, conforme disse, não faz uso dessas plataformas digitais. Ao jornal OPAÍS, via telefónica, o sacerdote disse não ter elemento para falar do assunto, tendo, igual- mente, minimizado denúncias postas a circular nas redes sociais. Questionado se a Diocese de Benguela tinha ou não conhecimento de alguns alegados escândalos sexuais envolvendo padres, o sacerdote retorquiu que “não tenho elemento.
Não nos guiamos por notícias das redes sociais, que não trazem muitos elementos”. Para si, não corresponde à verdade informações que apontam para uma auto-demissão por parte do director do Instituto Superior Politécnico Católico, padre Adriano Ukwatchali, como teriam feito crer informações. “Não é verdade”, enfatizou.
“Não há nada oficial”, retrucou uma outra fonte ligada à Diocese de Benguela com quem este jornal contactou tão logo se confrontou a informação de “auto-demissão” do padre. “Aqui, na escola [ISPOCAB], pelo menos, não há nenhum documento de renúncia”, referiu, sob anonimato, uma outra fonte, desta feita, ligada à instituição de que o padre é director.
“Não conheço o senhor (padre) em causa”, garante jovem
Num encontro com este jornal, a propósito da alegada chantagem e, consequente, extorsão de seis milhões de kwanzas, Ana Panela negou todas as acusações a si imputadas e aproveitou para esclarecer que não são verdades as informações sobre o alegado “caso com o padre”. Por outro lado, procurou descartar também as informações de que teria recebido alguma compensação financeira para fazer aborto. “Não tenho carro, como dizem, ando a pé, mano”, contestou com uma lágrima a visitar-lhe o canto do olho.
“Não é verdade. Mas o quê que o senhor quer que lhe diga, eu até não o conheço”, referiu-se, inicialmente. Face à resposta da jovem, o autor destas linhas explicou-lhe que, como jornalista, era uma pessoa fácil de contactar, caso fosse do seu interesse. De seguida, aparentemente mais à-vontade, a visada procurou o jornal OPAÍS e sustentou que, caso fossem verdades a informação relativa à extorsão de seis milhões de kwanzas ao sacerdote, ela estaria indiciada na prática de um cri- me, porque, conforme realçou, numa curta declaração, “o criminoso não anda livre. É a única coisa que lhe posso dizer”, disse.
Uma olhar ao caso
O jurista Chipilica Eduardo lembra que o sacerdócio é uma missão cujo propósito seja o de expansão da palavra de Deus e, por isso, qualquer suspeita de promiscuidade, sobretudo sexual, deve ser investigado. O especialista pensa ter chegado o momento, face à onda de denúncia, de a mais alta entidade da Igreja Católica em Benguela agir. “Portanto, já é tempo do Sr. Bispo investigar as inúmeras denúncias do clero, alguns até com lares e filhos”, sustenta. Entretanto, sublinhe-se que, em relação a alegados escândalos sexuais, o bispo da Diocese de Benguela, Dom António Jaka, tinha alertado, em entrevista aos jornalistas, que a Igreja não se guiava por informações das redes sociais.
Na mesma entrevista, feita em Dezembro de 2022, momentos depois de ter apresentado cumprimentos de fim-de-ano ao governador provincial, no pavilhão multiusos Acácias Rubras, o prelado católico admitiu a hipótese de investigar escândalos sexuais envolvendo padres e desafiava as vítimas de tais práticas a denunciarem os casos. Das redes sociais da Diocese de Benguela este jornal não obteve nenhum ofício a dar conta da exoneração do prelado católico. As tentativas deste jornal em contactar com o padre visado redundaram- se em fracasso.
O contacto telefónico pessoal do manteve-se indisponível até altura em que expelíamos esta peça jornalística. Dar-se-á a possibilidade de se vir a explicar, caso o sacerdote ache conveniente. Consultas feitas por este jornal sustentam que o Direito Canónico, conjunto de leis que rege a estrutura institucional da Igreja Católica, diz que padres não podem ter relacionamentos amorosos nem se casar. Mas, a nível da Igreja Romana e Apostólica já há correntes a favor de uma reforma, na perspectiva de se rever a questão do celibato.