Carlos Bumba, presidente da AGTSA, em entrevista ao jornal OPAÍS, elencou uma série de coisas que devem ser feitas para que o sector do turismo cresça, começando pela disponibilidade de verbas para o ministério de tutela que possibilitam o trabalho de turismo dos técnicos.
Vê o desenvolvimento do turismo em Angola numa perspectiva promissora, apesar dos entraves conhecidos, como a questão da acessibilidade geográfica condicionada; a falta de monetização dos serviços; o desalinhamento com outros países na rede de pagamentos (MasterCad e Visa) – uma vez que os turistas chegam em Angola e não conseguem usar estes cartões.
Mas, Bumba defende que é preciso que haja justiça fiscal, pois não faz sentido que uma hospedaria que esteja a 200 quilómetros da sede de uma província, por exemplo, sem água canalizada ou luz da rede pública, pague os mesmos impostos que uma hospedaria que tenha estes serviços.
Há muita gente interessada em conhecer Angola, mas o entrevistado chama a atenção sobre o facto de que, a par do interesse, há a questão da disposição e a disponibilidade. “Interesse as pessoas têm, mas condições para que o interesse seja materializado é que faltam”, sustenta, tendo acrescentado que entre as nacionalidades interessadas, estão a brasileira, portuguesa e americana.
A nacionalidade portuguesa é mais pela questão da colonização, muita gente viveu cá e os filhos querem vir para ver a terra onde os pais nasceram/viveram, que chamam de turismo da saudade. A brasileira e a americana, pela questão histórica que nos remete ao tráfico de escravos, pois hoje existem testes de DNA de ancestralidades e boa parte dos resultados dão para Angola, França, e muitos vêm por conta disso.
“Nós termos perto de 22 milhões de norte-americanos que são de origem angolana e cerca de 50 milhões de brasileiros que são de origem angolana, temos uns tantos na Argentina. Entretanto, os países que mais procuram Angola são Portugal, EUA e Brasil, só depois a Itália, Espanha e Inglaterra”, sublinhou.
Três atractivos turísticos que sustentam os guias
Os atractivos turísticos naturais mais solicitados pelos visitantes são o Miradouro da Lua, a Praia dos Surfistas, a Fenda da Tundavala, o Deserto do Namibe com as suas colinas e oásis, a Baía dos Tigres, o Parque do Iona, Praia do Piambo, Morro do Moco, Cachoeiras do Binga e as Grutas da Sassa, Quedas de Kalandula, Pedras Negras do Pungo Andongo.
Já os atractivos turísticos culturais são as Pinturas Rupestres do Tchitundo Ulo e do Caraculo, todo o centro Histórico Património Mundial da Humanidade, os Armazéns dos Escravizados, a Baixa de Luanda que representa o grosso da rota dos escravizados, Fortaleza São Miguel, o Palácio Dona Ana Joaquina, o Museu de Arqueologia de Benguela, o Barco Zaire da Restinga, Pinturas Rupestre do Ndala Biri e os Túmulos dos Reis na Quibala. Por fim, os eventos que servem de atractivos turísticos são a Festa do Efico e do Ekwendje, na região sul de Angola; o nosso Carnaval e o FestiKongo.
O presidente da AGTSA reconheceu que os guias de turismo têm grandes desafios em Angola, primeiramente com a gestão emocional, porque estas pessoas são os anfitriões, são as primeiras a terem contacto com o turista, e o turista acaba por despejar todas as dificuldades que encontrou no guia. “O segundo desafio é o trânsito que não está ordenado. O outro desafio são as nossas estradas que deixam os turistas cansados, por causa dos buracos, para além dos cartões que não passam. Trabalhamos ainda sem uma lei que rege a profissão, existe apenas um Decreto Presidencial.
A questão da sazonalidade, pois temos pontos do país onde o turismo é sazonal”, sublinha. Os guias dizem que a única estrada que os turistas consideram boa, a nível do país, é a de Moçâmedes ao Tombwa, na província do Namibe, com 92 km. As restantes estradas estão cheias de buracos.
“Outro desafio são as companhias aéreas com cancelamentos de voos; a escassez de divisa; a falta de saneamento básico; a falta de energia; a presença de crianças de e na rua que tende a crescer e a importunarem os turistas. O turismo ainda está refém das importações e há a necessidade de se investir na produção local. Por outra, os da casa também devem fazer turismo para atrair os de fora, um comportamento que ainda não temos”, finalizou.