O presidente da Comissão Executiva do Grupo Carrinho, Nelson Carrinho, negou, ontem, Quarta-feira, em conferência de imprensa, em Benguela, informações que apontam para o facto de o Governo ter “oferecido” o Banco de Comércio e Indústria (BCI) à instituição, como teriam feito crer alguns críticos. Entretanto, o administrador não-executivo, Atandel Chivaca, sustenta que o banco vinha tendo perdas mensais na ordem dos 2 mil milhões de kwanzas
Quando o Grupo Carrinho, cujo complexo industrial de 20 empresas está localizado em Benguela, comprou o BCI por mais de 30 milhões de dólares, veicularam-se informações de que o Governo de Angola teria vendido «a preço de banana», por alegada ligação a políticos ligados ao Executivo.
Segundo os críticos, entre economistas e jornalistas, o preço fixado para a venda do banco tinha ficado muito aquém do valor de mercado e, por isso, aventavam a possibilidade de o grupo fundado por Leonor Carrinho, em 1993, ter sido favorecido.
Nelson Carrinho nega e lembra que, tão logo o banco passou para a esfera do grupo, este foi forçado, isto em Dezembro de 2022, a proceder ao aumento de capital, sendo certo que não há, por enquanto, garantias de que tal seja o último investimento que a empresa faz na perspectiva de proporcionar a robustez financeira de que o banco precisa.
“Por isso, não é verdade que o BCI foi-nos oferecido a um ‘preço de banana’.
Na verdade, nós compramos o banco e fomos obrigados a fazer uma reestruturação profunda e estamos a investir mais para podermos transformar este banco num bom negócio.
Mas, é claro que também estamos cientes dos problemas profundos do banco “, refere Nelson Carrinho, um dos sócios.
Banco perdia cerca de 2 mil milhões de kwanzas mensalmente
Agora, no âmbito das comemorações dos 30 anos de existência, o Grupo Carrinho veio a público explicar que não foi bem assim tal como se especula, acreditando que a venda da instituição financeira por parte do Estado tenha sido motivada por perdas constantes que o banco vinha tendo nos últimos tempos, na ordem dos 2 mil milhões de kwanzas mensalmente.
“Ninguém toma a decisão – do dia para a noite – de vender uma coisa que é extraordinária (…) O banco estava a perder dinheiro e nós sempre entendemos que era um processo que leva o seu tempo”, sustenta o administrador nãoexecutivo, Atandel Chivaca, para quem as pessoas teriam comentado sem ter em conta os números produzidos, embora sejam públicos.
Ele afirma que o processo mais doloroso para a empresa se deu com o despedimento de mais de 500 funcionários, mas justifica ter sido uma medida necessária no quadro da reestruturação daquela instituição bancária.
Em relação ao processo de compra do BFA à BPI-Portugal, a Carrinho lamenta a decisão daquela empresa financeira de não mais vender devido à desvalorização da moeda, porém o grupo ainda se manifesta interessado na compra do banco.
“O BFA é o maior activo e qualquer investidor estaria interessado. Se calhar, as pessoas interessadas em financiar daqui a alguns anos talvez não estejam interessadas”, refere Atandel. No encontro com jornalistas, naquele que foi tido como o primeiro desde que o grupo existe, há 30 anos, a administração explicou as razões de o Carrinho ser associado ao Banco Keve.
Segundo o administrador não-executivo, tal deve-se ao facto de o grupo ter financiado o maior accionista do banco, no caso Rui Campos, para o aumento do capital daquela entidade bancária.
Com mais de 20 fábricas, dedicadas à produção de fuba, extracção de óleo, bolacha, massa alimentar, entre outros produtos, o complexo industrial do Carrinho, inaugurado pelo Presidente da República, em 2019, no bairro da Taka, na Catumbela, conta já com um ramal de dois quilómetros que permite levar comboios para dentro, facto que tem permitido escoar produtos até à fronteira com a República Democrática do Congo.
Por: Constantino Eduardo, em Benguela