O trabalho infantil a que estão submetidas centenas de crianças, com idades compreendidas entre os nove e os 17 anos, bem como a desflorestação e outros problemas, estão a preocupar as autoridades administrativas das províncias do Namibe e da Huíla
Uma reunião entre os Governos do Namibe e Huíla, organizada recentemente, versou sobre diversos assuntos que envolvem as duas províncias, como o fluxo migratório e trabalho infantil, relação fronteiriça Namibe e Huíla; situação do troço Moçâmedes/Virei, Cainde e Chibia, na província da Huíla e a situação da desflorestação das serras da Leba e Umbia.
De acordo com o vice-governador para o sector político, social e económico do Namibe, Abel Capitango, existem 623 crianças, com idades compreendidas entre os nove e os 17 anos, das quais 167 são do género feminino, que estão submetidas ao trabalho infantil no Namibe.
Segundo o governante, estas crianças prestavam serviços de lavoura, recolha dos produtos do campo e pulverização, com maior incidência nas fazendas do Carujamba, Tumbalunda e Inamangando, na sua maioria provenientes da província da Huíla. “O inquérito feito abrangeu o município de Moçâmedes (comuna do Forte Santa Rita, mercado 5 de Abril, mercado do Peixe, praça dos Eucaliptos, armazéns próximos à saída para o Lubango/Macala, fazendas do Vale do rio Giraúl e Bero); comuna da Lucira (fazendas de Carujamba e Tumbalunda); comuna do Inamangando (fazenda do Inamangando)”, detalhou.
Abel Kapitango disse que o fraco poder financeiro de muitas famílias, agravado com a crise económica que se vive em todo o país, tem sido um dos motivos que fazem com que as crianças em idade escolar abandonem as suas famílias. Aliado a isto, estão as promessas de altos salários da parte dos fazendeiros. Na província da Huíla, estas crianças são provenientes concretamente dos municípios da Matala, Chibia, Caconda, Lubango e Chipindo, que procuram melhores condições de vida e têm sido vítimas de exploração abusiva dos seus direitos.
“Como consequência desta movimentação, as crianças e adolescentes envolvem-se em trabalho infantil, concretamente nas fazendas, em cultivo, pulverização e colheita de tomate; nos mercados, trabalham na transportação ou venda de produtos como ambulantes; nas artérias da cidade, laboram no apoio às peixeiras e clientes prestando serviços de escama e escala de peixe. Alguns menores tornaram-se meliantes, envolvendo-se em consumo de bebidas alcoólicas e estupefacientes, e incorrem na prática de delitos como roubo e assaltos com recurso à arma branca”, sublinho.
Governadores pedem o envolvimento de todos
Os governadores das duas províncias, Archer Mangueira (Namibe) e Nuno Mahapi (Huíla) defenderam o envolvimento de todos os actores sociais na resolução destes problemas, sobretudo por afectar crianças em idade escolar. Archer Mangueira disse que o primeiro passo para a sua resolução passa pela identificação da origem do problema, para posteriormente encontrar-se uma solução mais efectiva e eficaz. “As duas províncias têm características, hábitos e costumes idênticos, daí que a solução para os diversos problemas que as afligem deve ser conjunta”, afirmou. Por seu lado, o governador Nuno Mahapi disse ser do interesse da província que dirige encontrar soluções estruturantes para os diversos problemas sociais.
POR: João Katombela, enviado ao Namibe