São maioritariamente operadores de máquina, auxiliares administrativos, cozinheiras, forneiras e embaladores que reivindicam o cumprimento de direitos estabelecidos na Lei Geral do Trabalho, denunciando péssimas condições de trabalho, a ponto de se referir às mesmas como desumanas.
Alegam que, quando reclamam pelos seus direitos, a empresa, que tem à cabeça um cidadão de nacionalidade chinesa, que responde pelo nome de Ronaldo, os ameaça com despedimentos. Práticas que eles consideram inconcebíveis.
Há duas semanas, os funcionários remeteram um documento sob título “descontentamento”, no qual evidenciavam a necessidade de a direcção cumprir os direitos e atribuir contratos a cada um, sugerindo a inversão da forma desumana como são tratados.
De entre outros, os funcionários reclamam o direito à férias, porquanto existem funcionários que estão há quatros e nunca se lhes deu a possibilidade de as gozar, e o pagamento de horas extraordinárias, sobretudo para trabalhos feitos em finais de semana.
“Os chineses querem que a gente trabalhe como escravos. Aqui tem colegas que estão há dois anos de serviço, mas não receberam contratos. Perante a lei, os que têm dois anos já são considerados como contratados, mas querem algo por escrito”, reclama José Vilar.
O nosso interlocutor reprova também o facto de a empresa os obrigar a comprar as t-shirts para uso laboral. “Eles nos obrigam a comprar por mil kwanzas. Temos colegas, por serem do Huambo, são fechados.
Se reclamarem, empresa os expulsa”, frisou. Porém, depois de ter apreciado a carta enviada pelos funcionários, o gerente da empresa decidiu, então, cortar-lhes o subsídio de alimentação, ao que se seguiu um documento de abandono de trabalho, por eles terem paralisado a actividade para pressionar a entidade empregadora – segundo dizem.
A sugestão dos funcionários, face a esse comportamento, é a de que o subsídio de alimentação seja reflectido no salário. “Porque nós ficamos aí muitas a horas a trabalhar e eles querem que a gente trabalhe sem comer.
Quer dizer, tipo escravos modernos, como no tempo dos nossos antepassados”, reforça a funcionária Avelina. Quarenta mil e trezentos kwanzas é quanto a AOSHIDA dá a cada funcionário, um valor considerado baixo pelos trabalhadores, a julgar pelas actividades a que se sujeitam.
“Mesmo doente a empresa te obriga a trabalhar. No feriado não tenho direito de ficar em casa. Já estou há dois”, disse a funcionária Ermelinda Kapango, ao referir que a empresa se tinha comprometido em pagar 200 kwanzas por cada dia em que se trabalhasse extraordinariamente.
Direcção aberta à negociação
O gerente da empresa, que se apresentou a este jornal apenas como Ronaldo, não desmentiu nem confirmou as alegações dos funcionários, tendo apenas assegurado uma ronda negocial, sob medicação da Inspeção Geral do Trabalho.
Ele sustenta que, para o efeito, os trabalhadores já foram notificados e que, nos próximos dias, deve acontecer tal reunião, esperançado de as partes venham a encontrar consenso.
Num contacto com este jornal, o gerente garante ter dado entrada, no princípio desta semana, de uma carta à Inspeção Geral do Trabalho a explicar o que está, neste momento, a acontecer na empresa e, por isso, aguarda por resposta daquela entidade pública.
“Nós estamos a esperar a resposta deles. Também já falei com o nosso supervisor de fábrica e vai informar os trabalhadores para que arranjemos um tempo para nós sentarmos juntos”, pronunciou-se num português à chinês.
A Inspeção Geral do Trabalho promete tomar uma medida ao caso, depois de ouvir as duas partes envolvidas no processo: direcção e trabalhadores.
Por: Constantino Eduardo, em Benguela