A Organização das Nações Unidas em Angola chama a atenção para a necessidade de o Governo fazer uma aposta forte no ensino primário, em especial nas comunidades rurais e classes mais vulneráveis, como forma de alcançar a igualdade e a inclusão no sector da educação
POR: Domingos Bento
O coordenador residente das Nações Unidas em Angola, Paolo Baladelli, disse ontem, em declarações ao OPAÍS, que Angola precisa de alocar maiores recursos financeiros na expansão da rede de ensino primário com qualidade, de forma a alcançar o seu efectivo desenvolvimento quer a médio, quer a longo prazo. Segundo o responsável, todo o processo de desenvolvimento começa com uma aposta forte na educação. E, se não se investe no ensino primário, todos os outros subsistemas de ensino não terão a qualidade desejada.
No entanto, embora o país tenha registado, nos últimos dez anos, a inserção de cerca de 7milhões de crianças no sistema de ensino em vários níveis, Paolo Baladelli defende que o Governo precisa de redobrar os esforços e continuar a apostar no alargamento do sistema primário, com urgência, para melhorar o actual cenário da rede de ensino primário que, actualmente, conta com mais de dois milhões de crianças fora do sistema. Para Paolo Baladelli, que falava a este diário à margem da Conferencia Nacional sobre o Ensino Primário, o Governo precisa de fazer uma aposta forte no ensino primário, sobretudo, prestar uma atenção especial às comunidades rurais e às classes mais vulneráveis (como deficientes, famílias pobres e grupos étnicos que vivem em zonas mais redonditas), de forma a alcáçar a igualdade e a inclusão no sector da educação.
Dados oficiais divulgados durante a conferência, apontam que mais de 2,6 milhões de crianças foram matriculadas no ensino primário nos últimos 13 anos. E, que, neste segmento de ensino, a taxa líquida de frequência escolar é apenas de 71 por cento, enquanto a primeira infância tem uma cobertura global de apenas 11 por cento. O também representante do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento disse que é tão importante que Angola aplique mais recursos para o ensino primário porque, ao fazer isso, estaria a criar bases para que outros sectores tenham um crescimento e impactos muito grandes que, depois, vão reflctir-se na melhoria da vidas das pessoas. “Com um investimento no ensino primário, teríamos grande impacto no sector da saúde, na redução da pobreza e até na governação, porque as pessoas vão conhecer melhor os seus direitos e as suas obrigações. Portanto, para nós, é importante e urgente que Angola invista seriamente na rede do ensino primário”, apontou.
De acordo com com Paolo Baladelli, a necessidade de Angola investir no ensino primário terá efeito multiplicador não só internamente, bem como vai permitir que o país acelere o cumprimento das metas de desenvolvimento sustentável que prevê, ate 2030, garantir que todas as meninas e meninos completem o ensino primário de forma livre, equitativo e de qualidade que conduza a resultados de aprendizagem relevantes e eficazes. Neste processo, Paolo Baladelli lembrou que não se pode descurar da componente de ensino pré-escolar e de primeira infância que, até 2030, as mestas dos acordos internacionais orientam que o país tem de assegurar o acesso a um desenvolvimento de qualidade na primeira infância e no pré-escolar, de modo a que as meninas e meninos estejam prontos para enfrentarem o ensino primário.