“Ontem, quando ligaste para mim, pensei que fosse apenas mais uma chamada. Pediste que fosse ter contigo para conversarmos, mas retruquei com a frase mais mesquinha…”, desabafou Arimateia Baptista, amigo.
POR: João Katombela
na Huíla
Ismael Ndilimeke Mualimusi Didalelwa, filho do antigo governador da província do Cunene, António Didalelwa (já falecido), foi encontrado morto, ontem, num dos terraços do edifício onde residia, na cidade do Lubango. Dados preliminares das autoridades policiais apontam que o jovem, de 34 anos de idade, casado, pai de três filhos, ter-se-á suicidado no prenúncio de Sexta- feira, 23, sem descurar-se outras possibilidades. Os peritos do Serviço Provincial de Investigação Criminal (SPIC) na Huila removeram o corpo, que se encontrava num edifício perto da delegação local do Ministério do Interior, às 7horas da manhã, assim que foram notificados da ocorrência.
Segundo uma fonte de OPAÍS ligada à investigação, a suspeita de que o jovem empreendedor se tenha suicidado tem como um dos fundamentos o facto de o corpo não apresentar sinais de agressão física. Uma outra fonte próxima à vítima avançou que ele ter-se-á jogado da varanda da sua residência, localizada último piso, e teve morte imediata. Em estado choque, os familiares do malogrado, que se recusaram a falar à imprensa, tentavam compreender o que terá ocorrido, uma vez que, no seu entender, não apresentava quaisquer indícios de desvio comportamental que o levassem a tomar tal decisão. Segundo apurou este jornal, no momento em que ocorreu o facto, a esposa de Ismael Dadidalelwa encontrava-se na África do Sul, onde se deslocara há já alguns dias.
Arimateia Baptista, amigo de Ismael Didalelwa, desabafou, na sua página na rede social facebook, que o malogrado lhe havia telefonado na noite anterior ao crime, manifestando a pretensão de conversar com ele. “Ontem, quando ligaste para mim, pensei que fosse apenas mais uma chamada. Pediste que fosse ter contigo para conversarmos, mas retruquei com a frase mais mesquinha: não tenho carro. Sugeri que viesses ao meu encontro para irmos ao Lev´arte, disseste que virias, mas não apareceste. Quem sabe se a nossa conversa faria toda a diferença ou, como noutras vezes, acabaríamos discutindo ideias e pensamentos diferentes…”, escreveu Arimateia Baptista.
Inconformado com a perda do amigo, Arimateia Baptista também não se mostrou disponível a prestar informações à imprensa. Segundo alguns amigos do malogrado, ouvidos pela nossa reportagem, Meke, como era conhecido na urbe lubanguense, era um jovem com visão futurista e que propagava o crescimento do seu negócio. António Moisés Peso, um dos amigos, descreveu-o como um jovem que se preocupava com o futuro, focado nos negócios. “Ele era um jovem com ambições positivas e com uma visão virada para o futuro, por isso esteve sempre a falar do crescimento do seu negócio. Fomos apanhados de surpresa por essa triste notícia. Não percebemos o que lhe terá levado a tirar a própria vida”, lamentou. O malogrado era proprietário de uma pequena empresa de prestação de serviços na cidade do Lubango que lhe garantia o sustento da sua família.
“Há diversos motivos que podem estar na base”
O professor de psicologia do Instituto Superior de Ciências de Educação (ISCED) no Lubango, Isaac Avelino Calenga, explicou que existem muitos motivos que levam uma pessoa a pôr fim à própria vida. O docente universitário disse que esta não é a melhor via para solucionar problemas, pelo que, sempre que as pessoas estejam a enfrentar algo que transcenda as suas capacidades, é aconselhável optar por consultar um especialista. “Foi com muita tristeza que tomei conhecimento deste acontecimento que chocou os lubanguenses. A minha opinião, enquanto psicólogo, é que existem pessoas que, independentemente da sua posição social e económica, vivem muitos problemas”, frisou.
Esclareceu que alguns destes problemas, se não forem acompanhados pelos familiares mais próximos e com ajuda de um psicólogo, podem terminar em tragédias como o suicídio. “Um jovem na posição do malogrado, aparentemente não tem motivos para se suicidar, mas pode sim ter problemas sociais que desembocaram num stresse e trauma que levou- lhe a cometer tal acto”, explicou. Por outro lado, Isaac Avelino Calenga lamenta o facto de muitos angolanos não terem a cultura de consultar um psicólogo sempre que estão diante de problemas que o exigem. “Na nossa província existem gabinetes de apoio psicossocial, infelizmente os nossos concidadãos não têm a cultura de consultar os psicólogos, pois, se tivessem esse hábito, situações do género dificilmente ocorreriam no nosso país”, assegurou.