O mau estado da estrada constitui a razão principal do receio dos taxistas da sede municipal em desenvolverem a actividade comercial nessas paragens
POR: Alberto Bambi
A busca dos serviços médicos nas localidades de Cassuada, fchoba, Maculungo e Campo, na comuna de Capolo, município do Poro Amboim, província do Kwanza Sul, constitui uma luta incessante para os moradores dessas regiões, principalmente quando se trata de doenças que postos de saúde locais não podem resolver. “Aqui e nessas áreas todas, temos mesmo postos médicos, mas há doenças que esses centros não tratam, dão só uns medicamentos para aliviar a dor e mandam ir ao Porto Amboim ou noutro hospital”, disse Joana Ernesto, a moradora de Cassuada, acrescentando ter perdido as contas da sua idade. Segundo ela, a retirada de Cassuada rapidamente torna-se uma preocupação maior, porque o troço Porto Amboim-Capolo não tem transportes públicos, muito menos uma rede de táxi frequente.
“Você tem de pedir à família de longe para arranjarem um transporte ou pedir favor aos poucos vizinhos que têm carro”, informou a Velha Joana, como é carinhosamente tratada nesse território do Kwanza-Sul. Os motoristas que desenvolvem oportunamente os serviços requeridos pelo povo dessa comuna de Porto Amboim cobram de 500 a mil Kwanzas por indivíduo. A boleia costuma ser outro recurso a que os populares referenciados recorrem, aproveitando- se do facto de a área ser frequentada por turistas, banhistas e comerciantes dos potenciais produtos dos campos de Capolo e Caxarandanda, como são os casos de dendém e óleo de palma, limão, feijão, maruvu e gajaja.
Joana Ernesto referiu o caso de seu marido de 83 anos de idade que padece de uma infecção interna. Ela e os familiares tiveram de recorrer aos hospitais de Luanda, para dar cobro à situação do idoso de Cassuada. Domingos Morais contou que, às vezes sofre fortes dores na região torácica, uma dor, uma sensação que revelou ser normal na maioria dos homens da sua idade que habitam a referida zona. “É que aqui, meu filho, os velhos como nós queixam-se de dor no peito, na coluna, nas pernas e nos braços”, emendou a esposa, argumentando que tal situação se deve ao trabalho do campo e aos carregamentos de produtos agrícolas de que os camponeses têm necessidade de fazer, para assegurar a base de sustento da família.
Distâncias quilometradas
Através de um exercício de controlo efectuado, a partir do conta- quilómetros da viatura de que a equipa desta reportagem se serviu, na empreitada Porto- Amboim-Capolo e vice-versa, pôde-se apurar que desta vila ribeirinha à localidade de Tchoba existe uma distância de cerca de 17 quilómetros, sendo que daí para Maculungo há uma separação de cinco. Aproximadamente seis quilómetros se contam entre esta última aldeia e Cassuada, mas daí a Porto Amboim pode-se falar taxativamente de 18, como está registado numa placa, há muito fixada, próximo da via caracterizada por uma terraplanagem que se encontra em trabalhos de restauro.
Jumentos compensam transportes
Apesar da teórica lentidão na deslocação, o animal vulgarmente conhecido por “burro” é o que mais serve de meio de transporte das cargas domésticas e, às vezes, de pessoas, sobretudo de crianças A aposta na aquisição e cuidado de jumentos passou a ser uma estratégia usada pelos habitantes das localidades que ficam entre o Porto Amboim e Capolo, que, alegaram ser pelos serviços deste animal que minimizam o esforço humano quando, quase sempre que pretendem deslocar-se. “Os burros aqui dão uma grande ajuda, porque assim já não andamos muita distância com os bidons de água, nem com os produtos do campo, muito menos com a lenha à cabeça”, aliviou o mais velho Domingos Morais. Importa referir que, por essas localidades, passam os poucos automóveis de carroçaria que desenvolvem o serviço oportuno de táxi na referida via, cobram mil Kwanzas por passageiro, descontando alguns valores dessa cifra para os encontrados a meio do percurso.
Outra alternativa dos populares dessa região passa pela solicitação de boleias oportunas. Teresa Henrique, a moradora de Maculungo relembrou que, num passado não muito distante, as pessoas menosprezavam a utilização do burro como meio de transporte, pelo mesmo ser aparentemente lento, mas a eficiência do animal depende dos cuidados que lhe são dados. “E é o animal mais resistente que eu conheço”, realçou a habitante, tendo colocado em desvantagem o cavalo, pelo facto de não suportar a quantidade de carga que o asno carrega. Na tentativa de refutar a percepção segundo a qual o burro possui pouca velocidade, a entrevistada ironizou dizendo que são as pessoas que não conhecem e não fazem uso do animal que, normalmente, atribuem tal classificativa. Lembrou que o referido animal minimiza consideravelmente uma das tarefas mais difíceis, que é a transportação de lenha e de outros produtos silvestres.
Aliás, pouco depois, na localidade de Tchoba, a nossa reportagem deparou-se com o pequeno Virgílio Lourenço Daniel, que acabava de sair da mata, montando um jumento, sobre o qual também transportava um feixe de lenhas. O garoto de 15 anos de idade foi desafiado a colocar á prova o animal que ousou baptizar com o nome de angolano, para dissipar as dúvidas que pairavam no ar sobre a velocidade do mesmo. Pouco depois, Virgílio que possuía uma catana na mão, deu um toque com parte não afiada deste meio cortante na região abdominal do asno e este posse a correr, tendo abrandado, depois de o petiz terá acariciado o animal no dorso com o mesmo instrumento, cerca de dez metros depois. Sobre a utilidade do bicho, Virgílio demonstrou como o mesmo era capaz de transportar grandes cargas sem apresentar nenhum sinal de “revolta”. Nessas paragens e no Maculungo, o transporte da água em bidons de 20 litros é feito por meio destes animais, que chegam a suportar mais de seis recipientes .