Munícipes da periferia, na cidade das acácias rubras, queixam-se do restrito horário de atendimento nos postos médicos dos bairros em que habitam, pois “a doença não escolhe dia nem hora”. Ciente da questão, o director municipal da Saúde, Garcia da Costa, defende que o ideal seria funcionarem 24/24h
Por: Zuleide de Carvalho
Face às necessidades das populações, o horário de funcionamento dos postos médicos no município de Benguela é muito reduzido, uma vez que vai das 7h da manhã às 13h e, apenas, de Segunda a Sexta- feira. Com essa limitação severa, os cidadãos quase que rezam para não adoecerem fora do horário laboral destas pequenas unidades sanitárias, criadas para lhes prestar assistência médica e medicamentosa, nas regiões em que residem.
No bairro Tomba, o posto médico trabalha somente de Segunda a Sexta-feira, das 8h da manhã à 1h da tarde. Para o soba, a situação é preocupante, pois “a doença nunca escolheu o dia”, queixou- se. Vítima dos problemas do Centro de Saúde do Asseque quando anoitece, a jovem Cecília contou que numa noite teve “dores de barriga, cabeça e febre”, mas não pôde recorrer ao hospital, porque estava fechado.
O munícipe de 19 anos Elias Marcolino, por viver no bairro Asseque, em Outubro último sofreu com a necessidade de cuidados médicos durante a noite. Contudo, sabe que, na zona, esta possibilidade não está disponível. Fechar as portas antes de anoitecer Ângela Samuel, enfermeira no centro de saúde do bairro Asseque há 9 anos, fez saber que anteriormente a unidade funcionava ininterruptamente.
Porém, actualmente, a “falta de segurança” obriga-os a trabalhar apenas das 7h às 18h. “Deveríamos trabalhar 24 horas diariamente”, concordou a enfermeira Ângela. Todavia, tal intenção não é concretizada, pois “não temos segurança, não temos a luz da rede, trabalhamos com gerador que às vezes funciona, às vezes não”, lamentou. Nos assaltados ocorridos, Ângela Samuel recorda-se que “já levaram a botija, os cabos do painel…” Cenário vivido porque o centro não tem profissionais de segurança para proteger a integridade física do espaço e das pessoas.
Estas condições trabalhistas limitantes, causam transtornos aos residentes no bairro Asseque, confirmou a enfermeira, fundamentalmente por causa da sala de partos da unidade, que quando procurada à noite é encontrada sempre com as portas fechadas. Resultado: independentemente do caso médico e urgência associada, à noite os munícipes não têm outra opção senão percorrer, por vezes ao pé, cerca de 3Km, até ao centro de saúde de um bairro vizinho.
Quanto às patologias diagnosticadas na unidade sanitária que não tem nenhum médico no quadro de pessoal, a malária ocupa o primeiro lugar, principalmente nas crianças, havendo em média 15 ou 20 novos casos registados diariamente. Na base dessas doenças estão os factores de sempre: o lixo em abundância existente ao ar livre, pelas ruas, e o consumo de água imprópria para os casos de febre tifóide e doenças diarreicas agudas.
Deste modo, no bairro Asseque, o cuidado dos pacientes é confiado nas mãos de dezasseis profissionais entre enfermeiros e técnicos médios de saúde, sendo que dois técnicos trabalham no laboratório de análises clínicas. Quem e quando mudará o cenário?
Para dirimir estes problemas sanitários que atingem consideravelmente angolanos que não têm grande poder de compra, residentes em bairros sem saneamento básico assegurado, as infra- estruturas locais têm de funcionar de forma eficiente. Quanto à questão da segurança, a Direcção Municipal da Saúde conta agora com o trabalho de empresas de vigilância em ape-nas 3 unidades sanitárias, numa política adoptada para redução de custos.
Apesar de a insegurança ser um dos motivos para se encerrarem unidades sanitárias antes do anoitecer, é um facto difícil de contornar, porque a dívida municipal para com as empresas ultrapassa os 45 milhões de kwanzas. Na opinião dos munícipes, de profissionais das unidades sanitárias e do director municipal da Saúde, para possibilitar serviços médicos completos nas zonas periféricas é imprescindível que haja água, energia eléctrica e vias de acesso decentes.
Por isso, Garcia Paulo da Costa defende que, é primordial potencializar os postos médicos da periferia, só assim é que o Hospital Geral de Benguela deixará de receber “enchentes” de pacientes.
Concursos públicos insuficientes na base da questão A cidade das acácias rubras, sede provincial de Benguela, detém um hospital municipal, nove centros de saúde e 16 postos médicos. Destes, o único que funciona integralmente, todos os dias, é o hospital municipal. Os centros médicos, trabalhando diariamente, têm apenas alguns serviços activos de dia e de noite.
E, os postos médicos funcionam das 7h às 13h, nos dias úteis, declarou Garcia da Costa, director municipal da Saúde. Estando a par das restrições laborais do Centro de Saúde do Asseque, Garcia da Costa avançou que, conforme os demais centros, este deveria estar aberto 24h por dia, todos os dias da semana. Todavia, devido às lacunas na “segurança e recursos humanos” naquela unidade, os efectivos são insuficientes para “fazer os turnos e trabalhar 24/24h”.
Nos dias actuais, contratar-se seguranças e mais técnicos de saúde requereria gastos extra. De acordo com o director municipal da Saúde, o funcionamento parcial dos postos médicos benguelenses “tem a ver com a falta de recursos humanos”, tendo dito que questões orçamentais confinam as vagas nos concursos públicos.
Assim, nos últimos dois anos, “a repartição municipal da Saúde de Benguela levou à reforma mais de 200 funcionários”, informou o também cirurgião maxilofacial Garcia da Costa, nas vestes de titular municipal da Saúde. Contudo, não há equilíbrio entre saídas e novas contratações, pois, “este ano, estão perto de 100 funcionários a irem para a reforma”. Há “pessoas a ir e não há gente a entrar para substituir”, disse.