Professores de Chipindo, na Huíla, arriscam a vida fazendo a travessia do Rio Cunene em canoas a remo, por falta de instituições bancárias onde possam levantar o salário.
POR: João Katombela,
enviado ao Chipindo
Chipindo é um município distante da província da Huíla sem unidades bancárias, pelo que os munícipes, principalmente os professores e enfermeiros, são obrigados a fazer a travessia do rio Cunene para levantar o salário no município de Caconda. Enfrentam os jacarés todos os meses, por falta de bancos e péssimas condições das vias de acesso que ligam Chipindo a Caconda e Kuvango, na Huíla, e Caála, na província da Huambo. A falta de uma ponte sobre o rio Cunene, no município de Caconda, está a fazer com que os professores, enfermeiros e de mais funcionários da administração pública façam a travessia numa canoa a remo, sem as condições mínimas de segurança permitidas.
São aproximadamente 15 minutos de travessia, que parecem uma eternidade para quem usa mensalmente esta via, com o suporte de um cabo que já venceu o prazo de vida útil. Entretanto, a situação agrava-se em época chuvosa, altura em que a água “engole” a estrada, deixando-a intransitável. Segundo os professores, que falaram a OPAÍS, quando chove naquelas paragens, o caudal do rio sobe, o que faz com que os jacarés circulem pelas margens do rio. “Nós também sentimos medo, até porque, pela história, muitos dos nossos colegas perderam a vida. Foram devorados pelos jacarés, porque a canoa não é segura, entra água, e corre o risco de naufragar”, disse o professor Matias Domingos.
Não é só o risco de naufragar que os preocupa. O município de Chipindo não dispõe de bens alimentares, electrodomésticos, material escolar, entre outros. Vários professores colocados nas localidades mais longínquas lamentam o péssimo estado das vias de acesso. Para estes, o mau estado das vias está a contribuir para o fraco do desenvolvimento do município. Para o professor Eugénio Gomes Martins, colocado na comuna do Bunjei, a 56 quilómetros da sede municipal do Chipindo, as dificuldades são enormes, não há carros que circulam com frequência naquela comuna e para ir ao serviço tem de desembolsar aproximadamente 10 mil Kz numa viagem. Quando não tem dinheiro, os alunos ficam sem aulas. Suzana Maria, proprietária de um Cantina, explica que perdeu muitos produtos, devido ao mau estado da estrada que liga Chipindo ao Cuima. “Eu vendo muitos produtos, mas gasto mais do que aquilo combusque ganho, porque não tenho dinheiro que chega para alugar camiões”, afirmou. Para a aquisição dos seus produtos gasta mensalmente entre 300 a 500 mil Kwanzas, que nem sempre são reavidos durantes as vendas, em função da fraca clientela. A comerciante acredita que com a construção da ponte sobre o Rio Cunene, o quadro pode melhorar.
Solução: instalar bancos no município
Para se evitar as constantes deslocações e o abandono dos locais de serviço, os professores sugerem que sejam construídos unidades bancárias no município de Chipindo – que é visto como o município esquecido. Pedro Evaristo pede às autoridades que encarem a situação do Chipindo com uma certa urgência, já que nele também vivem pessoas que fazem parte do Estado angolano e com direitos iguais ao resto dos habitantes deste país. “Angola é de Cabinda ao Cunene, mas na prática o que acontece é diferente, por isso vemos aqui essas assimetrias, até mesmo na nossa província temos municípios que, a olho nu, parecem merecer mais atenção do Governo, do que o Chipindo, que por sinal tem ouro”, revelou. A nossa reportagem apurou que o troço Caconda – Chipindo, com uma extensão de 36,22 quilómetros de distância, já foi adjuvada à empresa PLANASUL, que até ao momento não começou com as obras, orçadas em 7.990.072,00, cujo arranque estava previsto para Julho do ano passado.
Ouro pelo desenvolvimento de Chipindo
Face aos inúmeros problemas sociais que deixam insatisfeitos os habitantes do município de Chipindo, entre elas a falta dos serviços sociais básicos, o administrador municipal, Daniel Salupassa, disse que ainda não se pode cair no desespero. Para o gestor máximo do município, ainda há possibilidades de sair da situação deplorável em que se encontra, apontando a exploração de ouro como uma das soluções. Segundo o interlocutor, a prospeção realizada nos últimos tempos pela empresa La Fech produziu resultados animadores, indicando existir o minério que pode ser explorado a qualquer altura. Mas para que os resultados desta exploração sirvam os anseios e necessidades do município, Daniel Salupassa defende que a exploração seja feita com a necessária transparência. “Tive uma comunicação com o ministro da Geologia e Minas de como o trabalho de exploração de ouro pela empresa, que já fiz menção, poderá arrancar a qualquer momento. É preciso que seja feita com transparência, para que os resultados se possam reflectir na vida do município”, disse.